Durante a manhã de ontem, quinta-feira, com a
ajuda de uma camião-grua da Câmara Municipal de Coimbra, foi colocado no centro
da Praça 8 de Maio um pinheiro de enormes dimensões. Até aqui nada de novo,
afinal até estamos na quadra de Natal e, tendo em conta a tradição de se cortar
uma árvore pinácea, faz todo o sentido. Além de mais, como se trata de um
pinheiro manso, tudo indica que cumpre os parâmetros da PSP e não vem aumentar
os índices de violência na zona histórica. Por outro lado, “Pinheiro”, enquanto família e sobrenome
é de origem judia, remota, que já vem desde o século XIII. Historicamente,
sabe-se, o apelido foi adoptado pelos judeus na Idade Média, na Península
Ibérica, para fugir à perseguição dos cristãos. Por tudo isto e muito mais se
aceita que, em conformidade com a nobreza do Panteão Nacional, nada há a
apontar à decisão camarária.
Por conseguinte, até poderia ter ficado pelo
parágrafo e, como naqueles autos de notícia tão nossos conhecidos em que se
terminava com “não havendo mais nada a
acrescentar…” deixava o leitor na paz dos anjos. Acontece que há muito mais
para contar. Ai se há?! Esta parte velha está em polvorosa. Para além de muitos
sem-abrigo e carradas de gente a colocar o lixo na rua a qualquer hora também
acontecem coisas do arco-da-velha. Que vou contar, obviamente! Ou não fosse eu
um repórter local! Quem se apercebeu, pelos vistos e alegadamente são muitos,
nem dormirá esta noite. O que foi? O que foi? Até pareço adivinhar a sua
ansiedade, leitor. Calma! Muita calma, que isto não é querer e andar. Se tem
pressa, coloque uma moedinha na ranhura, que eu não trabalho à “borliú”. Se tem pachorra, então sim, sem
pressões desse lado, vou contar.
Então não querem lá ver que o Pinheiro, erecto
e a apontar o Céu, deu em chorar que mais parece uma criança? Ao cair da noite,
nesta parte antiga da cidade, a notícia deste fenómeno caiu que nem uma bomba.
De todos os quadrantes vieram romeiros. Pode até pensar-se que estamos perante
mais um prodígio duvidoso parecido com os que têm varrido Portugal nos últimos
cem anos, em que a virgem com o menino ao colo, uma ou outro, deu em largar
pingos lacrimejantes a todo o momento e perante uma multidão estupefacta. Não,
não! Aqui é real! Se duvidarem venham ver! As provas estão à mão de acreditar.
Durante a manhã de quinta-feira, que por acaso não era santa, o pinheiro foi
posto na rotunda da antiga praça de Sansão. Ora, à noite, a sua base está já
com um enorme manto líquido muito brilhante. Confesso que não provei mas tem
todo o jeito de ter um sabor salgado. Isto são lágrimas! Puras, vivas e
milagrosas! Várias pessoas que, como sempre, não se quiseram identificar
afirmaram que viram a árvore chorar mais, e com mais pudor, que alguns
prosélitos do Partido Socialista nesta altura. Mais, que acreditavam que
estavam perante um extraordinário facto e que, em concorrência com Nossa
Senhora de Fátima ou até a Rainha Santa Isabel, padroeira da cidade, iriam
canalizar para aqui todos os seus pedidos de concretização e promessas.
FALA O "FININHO"
FALA O "FININHO"
Apesar de tentar falar com alguns comerciantes
da zona envolvente, que pareciam eufóricos, não consegui arrancar-lhes uma
palavra que pudesse dar luz e cor a esta crónica. Mas como eu sou macaco velho e já sei como as coisas
funcionam –todos nós sabemos que sempre foi e continua a ser- fui directamente
para a corrupção. Encontrei o “Fininho”
e coloquei-lhe uma moeda de dois euros entre os dedos curtos de artista –não
sei se estarão a ver, mas encontramo-lo todos os dias junto à Igreja de Santa
Cruz a cravar uma moedinha aos que vão em busca de uma missinha ou simplesmente
para apreciar os azulejos da vetusta catedral e hospedaria dos primeiros Reis
de Portugal. Disparei mesmo na testa do homem, diz-me, ó “Fininho”, é verdade que o Pinheiro chora mesmo? Interroguei o
profissional da pedincha. Começando por empertigar-se, agarrou com as duas mãos
o blusão amarelo a imitar pele, deu um puxão para baixo, colocou o indicador no
ouvido direito como se estivesse a remover a cera, e atirou: “claro que chora! Mesmo sendo em silêncio,
consegue ouvir-se um certo rumorejar e, por vezes, até as gotículas a cair fazem
ruído. Isto é um milagre, senhor Luís! Finalmente Coimbra foi contemplada com
um prodígio divino. Até já fiz uma promessa ao pinheiro santo. Acredito que vai
fazer com que o “Manel da pêra” –Manuel Machado, presidente da autarquia-, quando passar por mim, em vez de me olhar
de lado, ou casuisticamente e só mesmo por maravilha me der 20 cêntimos, me financie com uma nota
de 5 euros. Mesmo sendo forreta, a parecer o tio Patinhas, da banda desenhada,
com a suprema influência do pinheiro supremo de todos os pinheiros, é muito bem
capaz de se abrir à religião e se transformar em cristão-novo.”
TEM A PALAVRA O ALMERINDO ABROLHOS
Nestas coisas, quando a seriedade é um princípio febril, não podemos ficar apenas com uma declaração. Sei lá! Às tantas o leitor até pode pensar que estou a brincar e, tenham paciência -santa, já agora- mas eu não me divirto com coisas sérias. Em troca de um whisky que me vai custar à volta de uns 3 euros, vou entrevistar um outro nosso conhecido: o Almerindo Abrolhos. Como é habitual, faça frio, chuva o calor, o Abrolhos está sempre a trabalhar no seu escritório, a esplanada do Café Santa Cruz. Como já é hábito, mal me aproximo, o gajo, como um político da nossa praça muito conhecido, começa a ensaiar a abertura total dos braços, a imitar o Cristo-Rei. Abraça-me efusivamente e bate-me nas costas. É o sinal de que, se quero uma simples frase dele, tenho de pagar um copo. E eu pago! Que se dane! Vão-se os anéis ficam os dedos! O Costa -o pintor dos dois amores, que se divide entre amar o pincel e o servir cafés a uma série de marmanjos em que me conto- que está de serviço à República, como quem diz, a servir o público que se acomoda com o traseiro nas cadeiras e os cotovelos nas mesas, ao meu sinal, trouxe logo um escocês com duas pedras de gelo, importado do Ártico, que o meu amigo Almerindo não alinha em imitações. E, sem rodeios, vou então atirar a pergunta: diz-me, meu caro, é verdade que aquele pinheiro, ali no centro –dobro-me todo para trás e aponto-, chora lágrimas como gente grande? Claro que chora! Começou durante a tarde. Foi um juntar de gente em romaria. Ó pá, palavra de honra, até me pareceu a peregrinação ao Sócrates, em Évora, feita por alguns políticos. Tenho uma dúvida! Será que o Machado mandou colocar esta jarra gigante no meio da praceta em solidariedade com os comerciantes que retiraram os vasos das suas portas depois de serem instigados a pagar pela fiscalização camarária? Ser ou não ser, eis a questão! Ó meu, isto foi muito bom para a Baixa! Um acontecimento destes só de encomenda, carago!”
TEM A PALAVRA O ALMERINDO ABROLHOS
Nestas coisas, quando a seriedade é um princípio febril, não podemos ficar apenas com uma declaração. Sei lá! Às tantas o leitor até pode pensar que estou a brincar e, tenham paciência -santa, já agora- mas eu não me divirto com coisas sérias. Em troca de um whisky que me vai custar à volta de uns 3 euros, vou entrevistar um outro nosso conhecido: o Almerindo Abrolhos. Como é habitual, faça frio, chuva o calor, o Abrolhos está sempre a trabalhar no seu escritório, a esplanada do Café Santa Cruz. Como já é hábito, mal me aproximo, o gajo, como um político da nossa praça muito conhecido, começa a ensaiar a abertura total dos braços, a imitar o Cristo-Rei. Abraça-me efusivamente e bate-me nas costas. É o sinal de que, se quero uma simples frase dele, tenho de pagar um copo. E eu pago! Que se dane! Vão-se os anéis ficam os dedos! O Costa -o pintor dos dois amores, que se divide entre amar o pincel e o servir cafés a uma série de marmanjos em que me conto- que está de serviço à República, como quem diz, a servir o público que se acomoda com o traseiro nas cadeiras e os cotovelos nas mesas, ao meu sinal, trouxe logo um escocês com duas pedras de gelo, importado do Ártico, que o meu amigo Almerindo não alinha em imitações. E, sem rodeios, vou então atirar a pergunta: diz-me, meu caro, é verdade que aquele pinheiro, ali no centro –dobro-me todo para trás e aponto-, chora lágrimas como gente grande? Claro que chora! Começou durante a tarde. Foi um juntar de gente em romaria. Ó pá, palavra de honra, até me pareceu a peregrinação ao Sócrates, em Évora, feita por alguns políticos. Tenho uma dúvida! Será que o Machado mandou colocar esta jarra gigante no meio da praceta em solidariedade com os comerciantes que retiraram os vasos das suas portas depois de serem instigados a pagar pela fiscalização camarária? Ser ou não ser, eis a questão! Ó meu, isto foi muito bom para a Baixa! Um acontecimento destes só de encomenda, carago!”
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