Pouco interessa para aqui mas por algum lado
tenho de começar e por isso mesmo inicio com uma confissão: adoro cinema. Dito
assim até parece que gosto de ver um filme em qualquer lado e sem contrapeso e
medida. Nada disso! Gosto de ver uma boa história à boa maneira antiga, ou
seja, recostado numa cadeira, seja ela confortável ou nem por isso. Em resumo
gosto de gozar o prazer de uma boa película no cinema. Pode até pensar-se que ver
em casa, através da televisão ou da Internet, é a mesma coisa. Para mim não.
Visionar no cinema é algo de mágico, um momento intimista, receber e perceber
todos os ruídos em alto som, como se estivesse lá e fosse personagem da fita
cinematográfica. Sem os contabilizar, nem imagino, ao longo da minha vida já
teria visto centenas. Estou convencido que em todos os grandes êxitos de bilheteira
eu estive lá. Curiosamente, penso que será uma disfunção pessoal, esqueço
rapidamente os enredos. Poucos são os que guardo na memória. Talvez só mesmo os
maiores, aqueles que, a meu ver, deveriam passar pelas escolas públicas. O
cinema, para além da parte lúdica pode e deve ser educacional e formativo. É comum
esquecer-se esta vertente tão importante para a sociedade. Para não maçar, entre
tantos, relembro apenas dois: “O clube
dos poetas mortos” e “Filadelfia”.
Ontem vi a metragem “Mommy”, do canadiano Xavier Dolan. Mais um extraordinário filme que deveria ser incluído na lista de formação e mostrado a todos os candidatos a pais. Todos nos queixamos dos valores
perdidos, da educação que não se vê nos jovens, sobretudo nas crianças, no
entanto, ninguém se preocupa em preparar os casais para serem educadores. Parte
tudo do princípio de que todos estão preparados para a função –incluindo a
parte sexual. Não é preciso ser muito esperto para verificar que a violência
doméstica, com tão graves consequências nefastas no país, também poderia ser atenuada
se fossem criadas escolas com aulas práticas para novos progenitores. Cada par, à sua
maneira, educa os seus filhos com base na sua experiência adquirida e sentida
na carne através dos seus criadores. É assim que se chega à conclusão que se
a recebida foi profícua, em princípio –por que ter filhos bons ou maus nem
sempre resulta de uma boa ou má educação-, mesmo com os naturais erros que
todos já praticámos, os resultados serão animadores. Se foi marcante pela
negativa, sobretudo pela carência, para os novos pais pode acontecer duas formas de ensinar: ou se mantém
a bitola no pólo oposto ao que se recebeu –isto é, dá-se tudo em demasia- ou,
em contrário, dá-se uma disciplina espartana, incluindo pouco amor, e o
resultado desta equação é sempre medíocre –para piorar, com custos para a
sociedade incomensuráveis e que continua a não ser contabilizado. O ideal, já se sabe, é o meio-termo mas , sem orientação e como poucos sabem onde fica, é cada vez mais complicado -não deixa de ser questionável as novas gerações continuarem a praticar os mesmos erros. Diria que
o “meio-termo” é sinónimo de bom-senso –claro que também, por vezes,
é difícil de concluir e percepcionar.
Como pai velho e já com netos, deixo um
conselho aos novos pais: mantenham-se unidos na sentença disciplinar proferida,
mesmo que aos olhos do outro seja dura. Acima de tudo em frente ao educando, nunca desvalorizem a palavra dada do
comparte. É preferível chorarem os infantes num tempo em que tudo se esquece do
que, mais tarde e quando já não houver volta a dar, chorarem os pais. Diariamente sai muita literatura a doutrinar sobre educação mas, a meu ver, os resultados
são pouco tranquilizadores. Com o devido respeito e sem generalizar, estamos a criar monstrinhos de carne e osso. E a culpa,
a haver, não é deles, é nossa. Substituímos os afectos pela materialização das
coisas em dádiva gratuita. Damos de mais! Ponto e parágrafo! É no sofrimento, na ânsia
de ter, que se valoriza as conquistas. Sem esse penar, sem esta angústia, tudo parece cair
do Céu e nada se agradece e enaltece.
Para complicar, estamos a
substituir as conversas, o diálogo, por comunicações virtuais. Os nossos putos estão viciados
nas novas tecnologias. Em extensão, já fazem parte delas e sem elas não conseguem pensar. Como robots, foram tomados e é preciso muita atenção. Estamos a formar máquinas de
forma humana, frias e desprovidas de sentimentos, sem livre arbítrio, sem ponderação e avaliação entre o bem e o
mal, que apenas procuram a satisfação das suas necessidades imediatas. E se não
forem satisfeitas agridem os pais. Começam pela verbalização, utilizando tantas
vezes as mensagens de telemóvel, para acabar em agressões físicas.
Vão ver o filme “Mommy”. É uma sugestão que
deixo. Vão sair da sala do cinema a pensar de uma outra forma.
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