É o primeiro Sábado de Dezembro. Oficialmente
está aberta a corrida às compras na Baixa da cidade. A maioria das lojas
comerciais já esteve a receber clientes durante a manhã e a tarde. Hoje é
também o primeiro dia das ornamentações natalícias. Os técnicos da firma
Teixeira Couto, Lª –a propósito, pessoal muito simpático- estão a todo do gás
nas afinações finais para que, por volta das 18h00, se dê à luz com o
beneplácito da autarquia e esta parte histórica da cidade, pelo brilho
encantador das luzes e dos ornatos em suspensão, conquiste uma nova esperança
com sorrisos brilhantes de humanidade e gosto em viver.
Ao longo de algumas ruas, das colunas de som
colocadas nas paredes, ainda em experiência, ouvem-se canções de Natal a
dar-nos uma sensação de paz e amor. As artérias, pela quebra do silêncio tantas
vezes incomodativo, como um novo espírito de alegria misturado em nostalgia, ganharam
uma nova vida. Até São Pedro, normalmente tão sisudo e sempre pronto a mandar
chuva como se fosse castigo divino, hoje parecia estar bem-disposto e ofereceu-nos
um dia espectacular, maravilhoso, com uma temperatura amena e ambiência leve de
luminosidade e cor.
Embora ainda seja apenas o começo de uma época
comercial que se espera profícua e, pelo menos com alguns bons negócios,
sente-se nos comerciantes uma expectativa renovada, como se fosse desta vez que
as palavras anunciadas tantas vezes pelo Governo se concretizassem, no renascer
da economia. Esta classe comercial, que tanto respeito nos deve merecer, como
milhares de portugueses, há uma década que sofre a bom sofrer as agruras da
queda do consumo interno.
Por parte dos visitantes da urbe que, morando
nos arrabaldes ou zonas altas, tantas vezes largam aquela expressão que irrita
o mais apático e cordato “há mais de seis
meses que não venho à Baixa”, parecem ter acordado de um longo sonho
letárgico e estão a regressar em massa aos estabelecimentos, ruas e ruelas que contribuíram
para serem os citadinos que são hoje.
É uma verdade que, mais que certo pela
classificação de Património Mundial pela Unesco, temos muito mais turistas do
mundo inteiro a visitar-nos e, mesmo a adquirir pouco em lembranças pequeninas e gota-a-gota,
as suas compras contribuem para acreditarmos que havemos de ter futuro.
Como já falei também, estamos a assistir a uma
procura intensa de locais para arrendamento comercial e para se habitar -já
escrevi, se é certo que as rendas baixaram bastante pelo aumento da oferta, é
também uma constatação que ainda estão muito acima do que qualquer agregado
pode pagar. De qualquer modo este interesse intenso em querer vir para cá
deixa-nos contentes e faz-nos ver que, provavelmente, outras cidades nacionais estarão
muito pior do que nós. E, quando nos parece que está sempre tudo na mesma como a lesma, esta migração está a transformar
completamente esta zona de antanho. Estão a surgir novos espaços comerciais com
ramos diferenciados e a desencadear uma diversidade que julgávamos perdida.
Pelo menos nesta quadra, retiremos os olhos do
chão e olhemos para o que nos rodeia. Façamos um esforço para não dizer mal de
tudo –eu estou a tentar fazer isso. Recuperemos o gosto de viver aqui. Esta
Baixa é a nossa terra. Lutemos por ela, mas sem perder o ânimo. Contem comigo!
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