Ontem, cerca das 10h30, a Praça 8 de Maio
estava com vários automóveis estacionados que, presumivelmente, ali teriam passado a noite. De tal modo que um deles teve de
permanecer no meio da esplanada e após a arrumação das mesas e das cadeiras. É
certo que um agente da PSP estava a fazer-lhes
a folha, como quem, diz a passar-lhes multas e a colocá-las nos vidros dos
veículos.
A questão que se deve levantar é, numa análise
simples, porque acontecem diariamente casos como este? Poderíamos começar pela vigente
cultura do desenrasca do cidadão. Para muitos automobilistas qualquer local
serve para estacionar. Seja nesta praça, seja na Praça do Comércio, seja numa
qualquer praceta desta zona velha.
A seguir a mesma observação, já se sabe e até
nem vale a pena bater no ceguinho, desde há muitos anos que a Baixa está sem
policiamento nocturno e entregue à sua sorte. É puro milagre não acontecer por
cá mais vandalismo e atentados ao património. Num procedimento governamental, de contenção de custos, desde há uma década para cá, a segurança de pessoas e bens durante a noite
deixou de ser uma preocupação. Em vez de se apostar na prevenção, no antes, a
montante, acomoda-se tudo no depois, a jusante. E entre o destino a sorrir para
quem é dono de alguma coisa e o “deus queira que não aconteça nada”, há sempre
uma explicação que, como capote de encobre misérias, serve para tudo. Na “Conferência A Baixa no Centro da cidade:
turismo pelo património e(m) segurança”, Paulo Dinis, o chefe da área de
operações do Comando de Coimbra da Polícia de Segurança Pública afirmou que a
criminalidade desceu 29% na Baixa da cidade desde que, em 2009, entrou em
funcionamento o sistema de videovigilância. Curiosamente já li isto mesmo em 2010 mas, mesmo assim, não duvido dos dados noticiados.
Porém, estabelecer a causa da redução da criminalidade por efeito da instalação
das 17 câmaras electrónicas -12 com sistema de gravação e 5 apenas para visionamento do trânsito-, é quase como acreditar em prodígios por obra e graça do
Espírito Santo. Que há muitos crentes que admitem a possibilidade, lá isso há!
Tenho muita pena mas não comungo da tese e demarco-me totalmente da opinião
expressa. Acompanhei muito de perto a instalação da vigilância digital. A meu
ver, o decréscimo do crime nesta parte histórica nem de perto nem de longe se
deve a este meio. Aliás, salvo erro até hoje, só uma ocorrência foi detectada através
dos ecrãs: um assalto à desaparecida Perfumaria Pétala, em Abril de 2012. Se afirmarmos
que esta diminuição se deve ao bom trabalho das brigadas à civil, de rua, da
PSP, assim, e juntamente com outros recursos instrumentais, talvez me convença
mais. E um deles, estrutural, assenta no excelente acompanhamento que as instituições
de apoio aos toxicodependentes fazem na zona do Terreiro da Erva –e que,
curiosamente, como andam todos ocupados com a sua liquidação total ninguém
fala deste bom trabalho. Hoje a pequena criminalidade nesta parte de antanho
socorre-se do roubo por esticão a pessoas na via pública e furto nas lojas em
pega e corre que se faz tarde.
É evidente que a PSP se agarra aos dados estatísticos
que detém e, entre a conveniência de apresentar trabalho feito e os princípios
da segurança e tranquilidade das populações, sem grande preocupação de os
analisar em profundidade –interessa mesmo é mostrar que estamos cada vez mais
próximos do paraíso-, parece-me, projecta-os sobre uma acção falsamente
preventiva –que no caso da vigilância digital nem isso chegou a ser. A eficácia
deste meio impeditivo ainda está para se provar. Salvo melhor opinião, embora
seja a minha convicção, as câmaras foram somente uma medida política de Carlos
Encarnação, ex-presidente da edilidade coimbrã. Tratou-se de um fogo-de-vistas,
um investimento de cerca de 150 mil euros, que serviu essencialmente para calar
os comerciantes da zona histórica –que entre 2007 e 2008 sofreram uma vaga de
assaltos, por arrombamento, sem precedentes.
Voltando à análise da ocupação fácil da Praça
8 de Maio, está de ver que este átrio em frente ao Panteão Nacional precisa de
uma outra dignidade. No mês passado a Câmara Municipal não deu licença para a realização
de uma feira de artesanato urbano naquele local. E fez muito bem. O que se
espera é que continue a fazer o mesmo para todos os certames, sejam eles quais forem. Este belo
rossio, no respeito pela ancestralidade, não pode continuar a ser um vazadouro
de manifestações de compra e venda. Há outros locais interessantes como, por
exemplo, a Praça do Comércio -já agora, porque não cobrir esta praça com painéis de vidro e realizar ali todos os eventos e alegorias?- e as ruas largas da calçada. Mais ainda, a antiga praça de Sansão não pode
continuar a ser palco de um mau gosto sublinhado, como agora, na instalação de um pinheiro no
meio do lago. Custa-me dizer mal mas tem de ser. Colocar uma árvore recentemente
cortada –na qual há anos se pede protecção nesta quadra- no meio de um lago com água, sinceramente,
é de um mau gosto que brada aos céus. E que alternativa? Pode perguntar-se?
Pedir a uma escola de artes que promovesse uma escultura para as festas
natalícias. No Mercado Municipal, com o patrocínio da edilidade, fez-se isto mesmo com uma árvore em garrafas de
plástico, recicladas. Um bom exemplo a seguir!
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