(Imagem da Web)
“O
escritor Mário Cláudio confirmou à RTP que foi contactado e aceitou fazer parte
de um movimento para apelar ao antigo Presidente da República, Ramalho Eanes,
para se candidatar à presidência da República. Para o escritor ter Eanes na
presidência seria uma solução para o país” –retirado da RTP Notícias.
Como ressalva, gostaria de dizer que, pelo seu
“low profile”, pela discrição, na sua
contenção verbal ou até por posições tomadas abdicando de homenagens e
subvenções nas últimas décadas, aprecio e tenho a maior estima pelo antigo
presidente da República António Ramalho Eanes -nascido em Janeiro de 1935, fará
dentro de um mês 80 anos. Tenho a certeza que o meu sentimento é comum a
milhares de portugueses.
O que se assiste nos nossos dias no
comportamento de muitos dos nossos compatriotas raia a esquizofrenia e esta proposta de Mário
Cláudio é apenas uma amostra. Quando um país se vira para o passado em
busca de soluções vindouras indica que a confiança nos homens de hoje está
esgotada. Sabendo todos que a esperança, para além de ser uma das três virtudes
teológicas do Cristianismo –Fé, Esperança e Caridade- é uma crença emocional futura
e assente na possibilidade de resultados positivos, ao procurarmos no antigo uma
solução política para amanhã significa que nos sentimos velhos para travar os
combates que se adivinham. Achamos que, tal como os nossos pais pensavam de
nós, esta geração hodierna não serve os propósitos que esperamos dela. Já dizia
Séneca que “o temor combate-se com a
esperança”. Torga, na mesma linha, defendia que “é impossível que o tempo actual não seja o amanhecer de outra era”.
Uma interrogação consome-nos: porquê
este anacronismo, esta falta de alinhamento com o nosso tempo? Haverá várias
explicações. Provavelmente esta viragem para trás começa nos partidos,
organizações políticas envelhecidas e sem soluções para o descrédito e expectativa
em encontrar verdadeiros estadistas. O próprio António Costa, pretendente a
próximo primeiro-ministro, no último Congresso Nacional do Partido Socialista,
afirmou querer um presidente na “linha de
Soares e Sampaio”. A seguir, este esboroar da segurança continua nos
governos, sem credibilidade, em que prometendo uma vida melhor nos têm imposto
pela força coerciva o Inferno social, no desaparecimento da classe média e aumento
da pobreza. O desespero que sentimos e o
que vemos à nossa volta, como neblina que alastra, é demasiado evidente para
embarcarmos em navios de esperança vã. Por outro
lado, ainda, nas últimas décadas, um governo com quatro anos de mandato só tem
direito a três meses de aura de luz. A partir daí é a humilhação baixa, dos
prosélitos ressabiados e da oposição sequiosa de poder, a política de
terra-queimada. Vale tudo desde que seja para pôr o executivo a baixo. A
facilidade com que se passa de bestial a besta é alucinante. E, naturalmente
perante este estado apoplético, a mediocridade toma todo o espaço nacional.
Hoje, pelo que se diz, vivemos na era
da informação. Claro que é uma frase sem substância e em jeito de cliché.
Apesar deste oceano de comunicação, as pessoas, bem no fundo, estarão mais
esclarecidas? Tenho a certeza de que não e há cada vez mais ignorantes
disfuncionais. Muitos dos que se interessam consomem as notícias da mesma forma que se
come um croquete. Ingere-se apenas para tapar um buraco de fome no estômago.
Não se aprecia o seu sabor, porque não há tempo. Não há tempo porque falta a
tranquilidade para pensar. Habituamo-nos todos a carregar no botão e receber
tudo pronto e sem esforço. O saber passou
a ser o olhar vago para o horizonte e tomar a árvore pela floresta. O conhecer, que implica colocar-se a
caminho, entrar dentro do matagal, subir à árvore e do cimo ver qual é a sua posição no
meio de outras, deixou de fazer sentido.
A política, sendo o único instrumento
possível para se atingir o desenvolvimento perene, tem de residir nos mais
jovens e não nos que já desempenharam o seu papel social.
Sem comentários:
Enviar um comentário