(Imagem da Web)
Há dois dias mais um homem na cidade, comerciante
por acaso, colocou termo à vida. Nos últimos dois anos, várias pessoas que
conhecia, alguns amigos, entre eles alguns profissionais do comércio, suicidaram-se. O que é
que está acontecer aos nossos homens? Porque decidem acabar com a vida? Tem a
ver com doenças que enfraquecem a sua vontade de viver? Será pela crise económica
que atravessamos? Talvez valesse a pena especular sobre o assunto.
Do ponto de vista histórico, o suicídio,
sobretudo nas sociedades ocidentais, sempre foi estigmatizado –ou melhor,
ocultado. Nos dias que correm, embora haja já por parte da ciência médica e
psicológica uma maior atenção para o assunto, ainda se procura esconder a razão da
morte. Tanto quanto julgo saber, nas exéquias fúnebres a igreja tradicional,
católica, durante séculos, recusou o acompanhamento religioso. Mesmo depois da
proibição dos enterramentos em igrejas, na Europa, finais do século XVII e
princípio de XVIII, quando se criaram os cemitérios, as vítimas de suicídio não
eram enterradas próximo das ocasionadas por morte natural –em Portugal, a
inauguração do primeiro espaço público dedicado ao culto dos mortos ocorreu em Dezembro
de 1839, no Porto, depois da construção
do Cemitério do Pardo do Repouso.
Hoje, na
tentativa de reduzir o fenómeno, já se noticia na imprensa e os próprios
relatórios médicos, na certidão de óbito, estão obrigados a referir o suicídio.
Naturalmente, a igreja alterou o procedimento e já não distingue uns de outros.
Ainda há uma semana o Bastonário da Ordem dos Psicólogos apelava à população
para estar atenta aos sinais de alerta do suicídio, para poder ajudar quem está
em risco.
As causas serão várias e, obviamente, que
deixarei o tema para quem sabe. No entanto sempre se pode especular que, por um
lado, a vida stressante que levamos em busca obsessiva pelo ter e bem-estar,
por outro, a falta de convicções, o desligamento da religião, a sacralização, e
a falta de fé do homem hodierno enquanto suportes, fios condutores, para um
amanhã imprevisível, levaram a um vazio espiritual, sensação de não-existência,
e, até aí, tampão de complementaridade para a desilusão e a incompletude perene.
Sabe-se que algumas pessoas são mais ou menos vulneráveis a acontecimentos de trauma, Outras podem ser mais facilmente tocadas como, por
exemplo, o comportamento de imitação seguido por alguém muito chegado –quem não
se lembra, em Pereira do Campo, há poucos anos, quando um rapaz de cerca de 20 anos se atirou
para baixo do comboio e, um ano depois, com a mãe a segui-lhe o exemplo? Com
uma nefasta coincidência incrível: o maquinista da composição que atropelou o
filho viria a ser também o carrasco da progenitora.
Mas, afinal, que motivações podem despoletar
o suicídio? O que pode levar alguém a desencadear o seu próprio final? Segundo
Guido, aqui, os factores são de ordem psicopatológico, pessoal, psicológico e
social. E podem ser enumerados assim:
Psicopatológicas:
1. Depressão endógena, esquizofrenia, alcoolismo, dependência de drogas
e distúrbios de personalidade.
2. Modelos suicidas: familiares, pares sociais, histórias de ficção e/ou notícias veiculadas pelos media.
3. Comportamentos suicidas prévios.
4. Ameaça ou ideação suicida com plano elaborado.
5. Distúrbios alimentares (bulimia).
2. Modelos suicidas: familiares, pares sociais, histórias de ficção e/ou notícias veiculadas pelos media.
3. Comportamentos suicidas prévios.
4. Ameaça ou ideação suicida com plano elaborado.
5. Distúrbios alimentares (bulimia).
Pessoais:
1. Ter entre 15 e 24 anos ou mais de 45.
2. Morte do cônjuge ou de amigos íntimos.
3. Presença de doenças de prognóstico reservado (HIV, cancro, etc.).
4. Hospitalizações frequentes, psiquiátricas ou não.
5. Família desagregada: por separação, divórcio ou viuvez.
1. Ter entre 15 e 24 anos ou mais de 45.
2. Morte do cônjuge ou de amigos íntimos.
3. Presença de doenças de prognóstico reservado (HIV, cancro, etc.).
4. Hospitalizações frequentes, psiquiátricas ou não.
5. Família desagregada: por separação, divórcio ou viuvez.
Psicológicas:
1. Ausência de projetos de vida.
2. Desesperança contínua e acentuada.
3. Culpabilidade elevada por atos praticados em experiências passadas.
4. Perdas precoces de figuras significativas (pais, irmãos, cônjuge, filhos).
5. Ausência de crenças religiosas.
1. Ausência de projetos de vida.
2. Desesperança contínua e acentuada.
3. Culpabilidade elevada por atos praticados em experiências passadas.
4. Perdas precoces de figuras significativas (pais, irmãos, cônjuge, filhos).
5. Ausência de crenças religiosas.
Sociais:
1. Habitar em meio urbano.
2. Desemprego.
3. Migração.
4. Acesso fácil a agentes letais, tais como armas de fogo ou pesticidas.
5. Estar preso.
1. Habitar em meio urbano.
2. Desemprego.
3. Migração.
4. Acesso fácil a agentes letais, tais como armas de fogo ou pesticidas.
5. Estar preso.
Uma coisa é certa, seja por que motivo for e
os alertas surjam cada vez com maior ressonância, não estamos a conseguir
estancar esta hemorragia social. Os nossos vizinhos, os nossos amigos estão a
morrer sem que possamos fazer alguma coisa para o evitar. Talvez valha a pena
pensar nisto com preocupação e seriedade.
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