Como já vem sendo hábito, nas colunas da
partida sem regresso que se multiplicam pela zona histórica –a talhe de foice,
era altura de se dar outra dignidade ao local onde são colados estes anúncios- fui
hoje surpreendido pelo desaparecimento de Mário Duarte Monteiro, de 73 anos.
Embora o conhecesse mal, durante décadas, foi dono da Foto Monteiro, na Baixa,
e um nome grande na fotografia em Coimbra.
Pedi a um colega de profissão, o Mário Afonso que conviveu com o finado mais do que eu, que me desse umas palavras acerca do
grande retratista. Diz o Mário: “embora
não tivesse muita confiança com ele, falei e fui várias vezes ao seu
estabelecimento. Foi um nome muito prestigiado na fotografia, em Coimbra.
Enquanto fotógrafo do mesmo ofício do Monteiro, lamento profundamente a forma
como esta sociedade hodierna trata quem levou uma vida a servir os outros.
Ainda que legitimamente se procure o lado egoísta, já que ainda não se inventou
outra fonte de rendimento que não seja o trabalho, os artistas –porque um
fotógrafo é e será sempre um criador-, que se dedicam a uma causa, na
generalidade e salvo excepções de origem particular, são simplesmente
esquecidos pela cidade que os acolheu e eles, na sua função, tanto deram para
que a urbe fosse reconhecida no país e no estrangeiro. É uma pena que o poder político
só tenha olhos para os seus, os da sua classe, e despreze os pequenos que, em
esforço de formiga, ajudaram a projectar Coimbra no mundo. No mínimo, deveriam
merecer uma pequena homenagem póstuma.”
Se posso escrever assim, em nome dos poucos fotógrafos ainda em actividade, em nome de toda a Baixa, para a família enlutada, pelo falecimento do seu ente querido, os nossos sentidos pêsames.
TEXTOS RELACIONADOS
"A morte... na nossa vida"
"O culto hipócrita da morte"
"O Outono e as nossas vidas"
"Saudade"
"O genocídio do entusiasmo de viver"
"Um abraço solidário"
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