Hoje, nas colunas dos defuntos existentes na
Baixa, fui surpreendido com o anúncio da morte de António Carlos de Carvalho
Graça. E quem foi, o que fez de notável o senhor Graça? Perguntará o leitor?
Não sei! Sei apenas que durante muitos anos foi um frequentador assíduo do
Largo da Freiria, nas ruidosas “tertúlias”
diárias de jogo da moeda, que se realizavam na conhecida praceta, junto da
desaparecida Sapataria Reis e com o “Manel” Magalhães –que também já não está entre nós- a comandar as operações de grande campeão.
Interessante como, tantas vezes, mesmo
passado cerca de uma dezena de anos, como é o caso, os barulhos da cidade
continuam tão presentes na nossa memória. Passado todo este tempo, quando
recordo esta vivência, continuam a ribombar na minha cabeça os gritos dos
jogadores: “uma!”, “três!”, “seis!”. O prémio para o ganhador da jogada era uma rodada na “tasca da Mariazinha”, na Rua do Almoxarife e ali próximo. Na
altura, talvez pela recorrência diária, até se tornava aborrecido, agora que o
silêncio é mais do que o necessário, tenho saudade dessa sumida efervescente
forma de vida citadina. Impressionou-me tanto que até compus uma canção a que
dei título “Hino à cidade Perdida”, cantado pela Celeste Correia, membro integrante da "Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra".
Com esta pequena descrição de um costume que
desapareceu perante os nossos olhos, aproveito para fazer uma pequena homenagem
póstuma ao senhor António Graça. Em nome dos comerciantes do Largo da Freiria
que por cá estão e ainda vão resistindo, em nome da Baixa, para a família
enlutada os nossos sentidos pêsames.
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