Antes de ontem, na Alemanha, o Presidente da
República afirmou “que, em comparação com
campanhas anteriores, esta campanha eleitoral para as legislativas está a
correr de forma mais informativa”. Se o Chefe de Estado, o mais alto magistrado
da Nação, o diz é porque é verdade! E quem sou eu para o desmentir? Pois!
Acontece que, apesar de um mero cidadão, vou mesmo argumentar contra a completa
falácia com que Aníbal Cavaco Silva parece querer convencer-nos. Aliás, é
preocupante a forma e a substância como uma inverdade, desta envergadura, é
apresentada assim aos portugueses e cuja consequência se sente na actualidade e
se adivinha para o futuro. Mas vamos ao contraditório:
Não se pode compreender o tratamento discriminatório
a que os pequenos partidos estão sujeitos pela imprensa em geral mas sobretudo
pelas televisões. Que os canais privados, na sua lógica egoísta, procurem o seu
interesse e até se estejam a marimbar para o debate e o esclarecimento popular
até se entende, mas que um canal público pago por todos nós, no caso a RTP,
alinhe pelo mesmo diapasão é simplesmente inconcebível. Qualquer cidadão, que preze
a cidadania e defenda a igualdade de oportunidades, deveria revelar-se contra
este procedimento iníquo, desajustado e atentatório, que fere de morte e investe contra a
própria democracia. Não é de admirar que o rotativismo, entre os dois maiores partidos,
PSD e PS, continue com as mesmas caras e a mesma política e conduza Portugal
para um resultado pré-anunciado.
Esta noite passada, o debate entre os
representantes do “Livre/Tempo de Avançar”
e o “PEV, os Verdes”, respectivamente,
Ana Drago e Francisco Lopes, foi para o
ar na SIC Notícias quando passavam vinte e seis minutos da uma hora da
manhã. Consegue dar-se uma explicação cabal para se remeterem estes candidatos para
este horário? Na introdução do debate a própria Ana Drago deixou bem claro que “a comunicação social é uma guardiã do que já
existe”.
A própria imprensa escrita, em papel, sem
critério de razoabilidade, alinha pela mesma bitola. Para exemplo, vejamos a
descrição de campanha feita pelo jornal “Diário
de Notícias” nesta última segunda-feira. A Coligação “PAF, Para a Frente Portugal”, com Passos Coelho à frente, teve direito
a uma página e dois quintos de outra –e mais à frente, na mesma edição, mais
uma página quase inteira com Paulo Portas em destaque. Ao “PS, Partido Socialista”, com António Costa, foram concedidos três
quintos de uma página. A “CDU, Coligação
Unitária”, com Jerónimo de Sousa, teve uma página. Ao Bloco de Esquerda,
com Catarina Martins, foi-lhe atribuída uma página. Ao “Agir”, de Joana Amaral Dias, que agrega o “MAS, Movimento Alternativa Socialista”, e o “PTP, Partido Trabalhista Português”, e que, pelo que parece, foi
uma boa decisão mostrar a barriguinha, foi oferecida uma página. Já o “PDR, Partido Democrático Republicano”,
com Marinho Pinto, teve menos de dois quintos de espaço de leitura. Os partidos
“Livre/Tempo de Avançar” e o “Nós, Cidadãos” tiveram um cantinho e
foram arrumados na coluna de Marinho e Pinto. A talhe de foice, lembremos também
o episódio no programa de Ricardo Araújo Pereira, na TVI, em que foi mostrado o
rosto de Marinho num bacio e a ser borrifado com urina. A meu ver, o que se
lamenta nem será tanto o facto da imagem do ex-bastonário da Ordem dos
Advogados, no programa de riso, ser presumivelmente denegrido num acto atentatório
à sua dignidade. O problema reside no facto de, juntamente com os outros
partidos –que foram mostrados com a sigla- só ele ter aparecido com a sua
fotografia. Ou seja, se em cada penico estivesse a representação de todos os
líderes já não chocaria tanto. O que mexe connosco é o duvidoso critério de
(des)igualdade. E, especulando, poderemos interrogar a razão do actual
eurodeputado ter sido destratado. Foi, penso, porque é o líder de uma pequena
formação política. Quero dizer que, nesta acção a raiar o mau gosto e a
ponderar se não haverá servilismo perante os grandes partidos, se projecta uma
certa escola básica, bacoca e tacanha, em que o desrespeito por quem é pequeno assentou praça há
muito tempo.
Depois da minha argumentação -feliz ou infeliz,
depende de quem ler- pergunto ao senhor Presidente da República se sentirá
assim tanto orgulho pelo que está acontecer nesta campanha para as eleições
legislativas? Onde está a parte informativa? Ainda que não concorde comigo, lamento
dizer-lhe: uma vergonha nacional! Repito, uma vergonha que não deveria acontecer num
país já com alguma experiência democrática!
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