quarta-feira, 2 de setembro de 2015

EDITORIAL: COIMBRA, A CIDADE DO PODERZINHO RASTEIRO






Generalizar sobre os habitantes de uma cidade merece tanto crédito como escrever que a Lua constitui a inspiração para todos os poetas. Recorrer ao estereótipo, pela generalização global, para classificar um grupo de nativos de uma região, uma classe profissional, uma etnia, um povo de uma nação, é sempre um exercício menor. Somos todos diferentes entre aparentemente iguais.
Mesmo assim, contrariando o que sustento no parágrafo anterior, ouso defender o indefensável. Ou seja, tenho para mim que, como qualquer outra urbe com lóbis, Coimbra é uma cidade com vários poderes hierarquizados em pirâmide. A começar da base, cada um, muitas vezes usando pessoas como instrumentos, compete com o concorrente do mesmo plano –na maioria das vezes ignorando o outro completamente-, recorrendo ao golpe baixo e rasteiro de aniquilação, para agradar ao poder que lhe está acima. Para se salientar mais do que o congénere, se preciso for, utiliza a punhalada surda e fria no conluio do silêncio. Isto tudo, em escada e sempre a subir, até atingir o seu objectivo, que é captar a simpatia e chegar ao poder máximo e ficar grado e bem-visto. A recompensa, mesmo que sejam lentilhas, a seu tempo surgirá. O próprio cidadão comum, no dia-a-dia, age a coberto do mesmo princípio. Olhando para o vizinho com cisma, em apriorismo, parte sempre da desconfiança garantida para a boa-fé de incerteza. O interesse maior da cidade, o colectivo social, raramente está no seu horizonte e desconfia de quem o defenda. Para ele, que raramente tem um gesto solidário, não há ninguém que pratique o bem social desinteressadamente. Se o seu confinante tem uma determinada acção popular, este comportamento só pode mesmo querer dizer que ele quer alcançar um lugar de relevo político. Por outro lado, e é muito curioso, o poder político instalado de topo olha para baixo sempre sobre o prisma da suspeição. Então se for um munícipe isolado, que pratica a cidadania assente na cooperação e ajudar o próximo, é olhado como inimigo e jamais como um colaborador. Mais uma vez o valor superior, que é servir a cidade, fica arrumado nas catacumbas do seu egoísmo primário.
Voltando aos lóbis, poderia pegar em vários mas vou debruçar-me sobre a nossa imprensa local, diária e semanal, escrita e publicada em papel. Para um leitor atento, dá para apreender entre eles uma tensão permanente. Um ou outro nem disfarça e a ferroada no parceiro é incisiva e constante. Na relação com os blogues –falo da minha afinidade-, servem-se destes meios de informação amadores como se estes carolas fossem prostitutas de estrada, isto é usam-nos como fonte de informação e nem pagam nem os citam. É certo que já foi muito pior. Agora até já recorrem muitas vezes a pedidos de informação local e até empréstimo de fotografias –quando pedem, porque às vezes este procedimento ético não é cumprido. Sem perceber que ambos, jornal e blogue, perseguem o mesmo objecto –que é o informar o público-, tem um olhar de superioridade intelectual sobre o “blogueiro”.
Esta semana, entre muitas palmadas sem mão que tenho levado, aconteceu-me o impensável. Há vários anos que tenho por costume escrever as minhas crónicas e a seguir, algumas delas, colocava um link nas páginas dos jornais da cidade, no Facebook. A intenção era dupla. Por um lado, levar à partilha do texto pelos leitores do periódico, por outro, levar a informação ao jornal e, se entendessem ter interesse editorial, para que escrevessem sobre o assunto –e isto já aconteceu dezenas de vezes. Ora o que fez o administrador de página? Sem uma explicação sumária, bloqueou-me pura e simplesmente. Ou seja, no seu olhar curto e cego de egoísmo, porque, como um burro com palas nos olhos, só vislumbra o interesse alheio e esquece o do jornal, enquanto meio de divulgação social, e o da cidade. Como senhor de um reino imaginário, quem sabe para agradar a outro poder superior, é mais fácil calar uma fonte gratuita de informação. Se não fosse um asno, deveria ver que um blogue local será sempre um meio de informação complementar para um órgão de comunicação e não um concorrente.
Pegando nos blogues locais e tal como nos jornais a mesma forma comportamental. Embora buscando o mesmo interesse de difusão da cidade, cada um está de costas voltadas como se concorressem entre si. Este procedimento é transversal ao todo nacional, em Portugal, ou é assim somente em Coimbra?



Sem comentários: