terça-feira, 8 de setembro de 2015

OS TÍTULOS DE FUMO NA IMPRENSA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




À hora do almoço, na SIC, no canal generalista, foi anunciado que as vítimas de violência doméstica, por nova lei, passariam a receber 2,200 euros imediatamente. No pequeno snack-bar onde almoçava, a notícia caiu que nem uma bomba. Uma senhora de meia-idade, entre uma garfada na salada e a paragem no movimento entre a boca e o prato, ironizou: “Olha!, vou dizer ó meu Manel que me dê um enxerto e a seguir vou reclamar uns milhares. Cada vez mais vale apanhar umas chapadas! Começa a ser um negócio!”
Também fiquei todo eriçado com a informação e fiquei a pensar na forma desbragada como se dá dinheiro facilmente por tudo e por nada, quase a fomentar a violência para usufruir do subsídio, e quantas vezes não se dá a quem mais precisa. Ainda estava a arrumar as minhas ideias quando outra senhora presente no pequeno estabelecimento hoteleiro atirou logo: “pois!, como estamos em ano de eleições há dinheiro para tudo, para dar casas a refugiados, mas não há para portugueses que mais precisam. Vejam ali a “Maria” –nome truncado-, que trabalha ali naquela loja, coitada! Com trinta e poucos anos, está a atravessar imensas dificuldades. Há cerca de um ano, sem sequer fumar, o marido sofreu um cancro nos pulmões e, infelizmente e apesar da quimioterapia, parece não estar a melhorar. Tinham comprado habitação com hipoteca ao banco e com filhos, imagine-se, tem sido um mar de problemas para tentar não entregar a casa à instituição bancária. Já recorreu à Segurança Social para pedir um apoio e a resposta dada foi que o processo de análise demora dois anos. É mesmo para dar tempo para o marido morrer! Não acha? Coitada da Maria! O que lhe tem valido são os sogros e os pais!”
Pensei logo para mim que este Governo e outros funcionam ao sabor dos ventos. Quanto maior for a pressão mediática mais facilmente cedem e há dinheiro para distribuir. E a minha raiva surda contra o sistema cresceu.
Até que li o Diário de Notícias. As coisas não são nada assim. Nem nada que se pareça! Afinal a nova lei anunciada apenas veio ratificar um procedimento já comum em face da urgência de uma qualquer vítima de violência doméstica. Constata-se que a informação nas televisões é cada vez menos formativa de opinião e cada vez mais de manipulação. Dá para ver que os jornais em papel são cada vez mais necessários. É preciso ler para compreender. No entanto, em ambos, jornal e televisão, a recorrência a títulos de fumo, que induzem o leitor em erro, são similares. Veja-se o título do DN: “Maus-tratos Vítimas passam a receber logo dois mil euros”. Só em subtítulo, com letras pequeninas, se explica a alteração.
Talvez valha a pena pensar se os media estão a contribui para uma melhor informação ou desinformação pública.

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