(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
À hora do almoço, na SIC, no canal
generalista, foi anunciado que as vítimas de violência doméstica, por nova lei,
passariam a receber 2,200 euros imediatamente. No pequeno snack-bar onde almoçava,
a notícia caiu que nem uma bomba. Uma senhora de meia-idade, entre uma garfada
na salada e a paragem no movimento entre a boca e o prato, ironizou: “Olha!, vou dizer ó meu Manel que me dê um
enxerto e a seguir vou reclamar uns milhares. Cada vez mais vale apanhar umas
chapadas! Começa a ser um negócio!”
Também fiquei todo eriçado com a informação e
fiquei a pensar na forma desbragada como se dá dinheiro facilmente por tudo e
por nada, quase a fomentar a violência para usufruir do subsídio, e quantas
vezes não se dá a quem mais precisa. Ainda estava a arrumar as minhas ideias
quando outra senhora presente no pequeno estabelecimento hoteleiro atirou logo: “pois!, como estamos em ano de eleições
há dinheiro para tudo, para dar casas a refugiados, mas não há para portugueses
que mais precisam. Vejam ali a “Maria” –nome truncado-, que trabalha ali naquela loja, coitada! Com
trinta e poucos anos, está a atravessar imensas dificuldades. Há cerca de um ano,
sem sequer fumar, o marido sofreu um cancro nos pulmões e, infelizmente e
apesar da quimioterapia, parece não estar a melhorar. Tinham comprado habitação
com hipoteca ao banco e com filhos, imagine-se, tem sido um mar de problemas
para tentar não entregar a casa à instituição bancária. Já recorreu à Segurança
Social para pedir um apoio e a resposta dada foi que o processo de análise
demora dois anos. É mesmo para dar tempo para o marido morrer! Não acha?
Coitada da Maria! O que lhe tem valido são os sogros e os pais!”
Pensei logo para mim que este Governo e outros
funcionam ao sabor dos ventos. Quanto maior for a pressão mediática mais
facilmente cedem e há dinheiro para distribuir. E a minha raiva surda contra o
sistema cresceu.
Até que li o Diário de Notícias. As coisas não
são nada assim. Nem nada que se pareça! Afinal a nova lei anunciada apenas veio
ratificar um procedimento já comum em face da urgência de uma qualquer vítima
de violência doméstica. Constata-se que a informação nas televisões é cada vez menos
formativa de opinião e cada vez mais de manipulação. Dá para ver que os jornais
em papel são cada vez mais necessários. É preciso ler para compreender. No
entanto, em ambos, jornal e televisão, a recorrência a títulos de fumo, que
induzem o leitor em erro, são similares. Veja-se o título do DN: “Maus-tratos Vítimas passam a receber logo
dois mil euros”. Só em subtítulo, com letras pequeninas, se explica a
alteração.
Talvez valha a pena pensar se os media estão a contribui para uma melhor
informação ou desinformação pública.
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