terça-feira, 8 de outubro de 2019

BAIXA: CRÓNICA DO MALHADOR (16)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Ontem, Segunda-feira, na qualidade de munícipe, levei um assunto à Reunião de Câmara Municipal, que, pela acutilância, entendo ser do interesse geral, pelo menos para quem reside na Baixa da cidade.
Como já vem sendo costume no atraso sistemático da minha intervenção, o relógio marcava 18h17, isto é, uma hora e dezassete minutos depois do tempo regulamentar, que está preconizado para as 17h00. Sem nunca ter sido cumprido o estabelecido no Regulamento, relembro que, desde Fevereiro último, para intervir no hemiciclo, já esperei duas, três, quatro e até cinco horas.
Antes de entrar na matéria de facto, mais uma vez, chamando a atenção do presidente para este abuso sistematizado, repeti que estava na altura da câmara, mudando o procedimento, começar a respeitar os munícipes. Alterando a metodologia, sem haver derrotas, ganhavam todos. Mostrando algum agastamento e pressa, como é normal, o chefe do executivo começou a interromper deliberadamente a minha exposição. Como vem sendo também hábito, ao mesmo tempo que ia pedindo que não me impedisse, continuei a expor.
No fim da minha apresentação o presidente, dizendo que Coimbra era uma cidade segura, “sacou” de uma exposição baseada em números contemplados na estatística. Sem se focar na Baixa, que foi a área que levei para análise, defendendo que não havia causa para alarme social, dispersou-se em variedades e terminando com a frase de que era o presidente da autarquia e não o xerife.
Num exercício de rusticidade, grosseria e má-educação – aliás, como vem sendo prática continuada em todas as sessões abertas ao público - sem permitir o contraditório, o “mayor” da cidade deu por encerrada a sessão e deixou-me a falar para o boneco.
Eis então o conteúdo da minha explanação:



Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, senhores vereadores:

Nas antecedentes reuniões da Câmara Municipal tenho vindo a falar de factores que na urbe, enquanto espaço de apropriação pública, se não lhes for dada a atenção devida pela administração funcionam ao contrário, ou seja, contribuem para a estagnação da cidade, o desligamento, o esvaziar da identidade social, o partir para outros lugares abandonando as origens. No desempenho da participação política, como princípio de cidadania, entendo ser meu dever arguir sobre formas de convivência essenciais que, embrulhadas num tempo económico de poupança pelo Estado, vão sendo esquecidas. No caso, vou falar de segurança na Baixa.
Desde o virar do milénio que a nível nacional se assiste a uma falência do Estado em matéria de segurança interna. Para poupar em meios, humanos e materiais, os cidadãos são deixados por sua conta e risco. Sabe-se que o policiamento realizado por agentes, para além da prevenção, contribui fortemente para o apaziguamento de conflitos emergentes, para uma sensação de segurança psicológica e um enorme incentivo para a paz na colectividade.
Focando o que se passa na parte baixa do Centro Histórico, se, por um lado, concordamos que na actualidade, comparativamente com grandes metrópoles no país, é uma zona calma, de pouca criminalidade estatística, por outro, ainda que embalados num torpor de falsa tranquilidade, quem cá reside e trabalha, sabe que ela existe e convive connosco ao virar da esquina. Se durante o dia é escasso o avistamento de polícias em patrulhamento a pé, durante a noite, então, só por milagre divino se enxerga um agente da PSP. A propósito, interrogo, o que se passa com as Câmaras de videovigilância? Estão a funcionar?
Só para mostrar alguns casos, não todos, exemplificando que a criminalidade está presente nesta parte velha, nos últimos três anos, sobretudo durante a noite, assistimos a vários assaltos a estabelecimentos. Em 18 de Julho de 2016, foi arrombada uma loja de peles na Praça do Comércio; em Maio de 2017, pelas 07h00, um comerciante de coleccionismo com loja na Praça 8 de Maio foi assaltado na Praça do Comércio; em Maio de 2018, uma conhecida ourivesaria na Rua Eduardo Coelho, durante duas noites consecutivas, sofreu tentativas de incursão. Dormindo dentro do estabelecimento, coube ao proprietário fazer a sua guarda; em Julho de 2018, um antigo quiosque em frente a Igreja de São Tiago, com recurso a arrombamento, foi violado.
Mais recentemente, no último Agosto, na Rua da Fornalhinha, uma habitação ao lado de uma ourivesaria que já citei em cima foi esventrada na tentativa de intrusão na loja de venda de ouro. Pela quarta vez nos últimos anos, ficou com a sua casa parcialmente destruída. Também neste Agosto deste ano de 2019 foi notícia no Diário de Coimbra o rocambolesco assalto, pelas 07h00, a um reconhecido empresário pasteleiro, com estabelecimento de restauração na Rua Ferreira Borges, em que, para ir no encalço do ladrão, teve de pedir a um condutor particular que fizesse a perseguição.
Por outro lado, em épocas de festividades académicas, salienta-se o constante estilhaçar de vidros e os altos berros vociferados por estudantes universitários durante toda a noite. Numa tradição discutível, como se a cidade fosse tomada por vândalos, como se vivêssemos numa terra sem lei, o ruído toma conta das artérias estreitas e impede o legítimo descanso a quem cá habita.
Se queremos ser uma cidade agradável para se viver, se queremos inverter a perda de população que se verificou no decorrer desta última década, há que, através da política, resolver os problemas sociais. E esta solução cabe por inteiro aos senhores.
Enquanto presidente da autarquia e chefe do executivo, tenciona fazer alguma coisa para que os munícipes se sintam mais seguros?


POST SCRIPTUM: Por coincidência infeliz, a contradizer completamente o que afirmou Manuel Machado, o Diário de Coimbra de hoje, Terça-feira, em título de caixa-alta, noticia que o “Centro de Saúde Norton de Matos foi de novo assaltado” - segundo o jornal, foi assaltado pela segunda vez no espaço de uma semana.


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1 comentário:

Anónimo disse...

Que dizer do comportamento do presidente da CMC,responsavel máximo da cidade e por inerência da sua eleição a pessoa indicada para nos «ajudar»,para nos representar,para nos melhorar a cidade e a vida dos municipes?!?
Já faltam adjectivos para classificar o dr.Machado,a obrigação dele é no minimo ouvir os seus municipes,a grosseria e má educação com que o Luis Quintans é brindado cada vez que intervem começa a ser demais,mas como já vimos não é o unico o sr.Cidade recentemente fez o mesmo,ou seja,parece que já faz «escola» este tratamento ao municipe Luia Quintans.
Será que o problema é pessoal? Mesmo que o seja os paços do concelho não é o local indicado para resolver o problema,
Deixo uma sugestão:colocar os videos das suas intervenções,como fez aquando da figura triste do dr.Cidade.Pode ser que vendo exposto publicamente o comportamento lamentável cada vez que interrompe e se dirige ao municipe Luis,ganhem vergonha!
Abraço,Luis e força em nome de todos os conimbriceences


Marco Pinto