(Imagem do jornal online Notícias de Coimbra)
“No
meio disto tudo, a velha raposa, de voz grossa e emproado,
sentado
comodamente no cadeirão central, sabendo que não
precisa
de fazer nada para os ventos lhe correrem de feição,
coçando
a barriga com despudor, sorri a bom rir.
A
velhice é um posto!”
A
menos de dois anos das eleições autárquicas, enquanto Manuel
Machado, com pompa e circunstância, inaugura na cidade as obras de
requalificação de um túnel e vai cortar a fita de mais umas linhas
de transportes colectivos para servir a periferia, o que fazem os
restantes partidos e movimentos com e sem assento parlamentar e que,
em longas noites de insónia, pensam vir a ocupar uma cadeirinha ou,
como loto, o cadeirão do poder?
1 - A
CDU, com o vereador
Francisco Queirós à frente de vários pelouros, faz contas à vida.
Tomando o exemplo das recentes eleições legislativas, em que a
coligação chefiada por Jerónimo de Sousa foi bastante penalizada
por ter feito parte da “Geringonça”
nos últimos quatro anos, Queirós, que desde 2013 vem dando uma
mãozinha
ao Partido Socialista no
executivo em Coimbra, sabe que tem pouco tempo para mostrar aos
conimbricenses a sua utilidade como único eleito pela Coligação
Democrática Unitária (PCP-PEV).
E portanto, numa prova de vida,
tentando demonstrar que está
ao lado do povo e não está
de “unha e carne”
com Machado, em vez de se abster sistematicamente,
já começou a votar contra.
Levantou a mão nas
recentes alterações ao Regimento das Reuniões da Câmara Municipal
de
Coimbra e repetiu ontem nas Grandes Opções do Plano (GOP) para
2020. Será tarde? Os “inimigos”,
ceguinhos para
lhe ocuparem o lugar, estão à espreita e vão fazer tudo para lhe
darem um empurrão e o retirarem de cena.
2
– O CDS/PP,
a atravessar uma grave crise por causa dos resultados nacionais
nestas últimas eleições legislativas e também com os órgãos
distritais demissionários por não conseguir eleger nenhum deputado
pelo círculo, em jejum do executivo conimbricense desde 2013, quando
perdeu o seu único vereador, embora muito vulnerável para encarar o
pleito em 2021, não deixará de apresentar uma lista concorrente e
bater-se para recuperar a sua anterior bandeira no concelho.
3 – O Cidadãos
por Coimbra (CpC),
ainda em choque por não ter conseguido reeleger
o seu único vereador no executivo em 2017, ainda a atravessar uma grave crise de identidade, resultado de um golpe palaciano e se ter
colado ao Bloco, e ter perdido muitos apoiantes de centro-esquerda,
vai bater-se forte para recuperar o seu lugar na Câmara Municipal.
É de supor que,
para
voltar a ter actuação
executiva,
vai apostar num candidato menos ligado à
ortodoxia comunista e mais
abrangente, acima
de tudo, que roube eleitores ao
PS. Tal como fez o Bloco de Esquerda, em Lisboa, é essencial que o
CpC, em Coimbra, seja mais aglutinador e tome uns comprimidos de
social-democracia. Se assim não for, pressupõe-se, pode
continuar apenas representado na Assembleia Municipal. Coimbra,
geneticamente, é uma cidade dividida entre o socialismo e o
liberalismo da
social-democracia, e os coordenadores
do CpC
sabem isso. É certo que novos
dados que estão a emergir podem baralhar tudo e constituir uma séria
ameaça à sua existência. E sobretudo com uma nova força política,
o Livre, com José Reis, que já defendeu as cores do CpC.
4 – O
Iniciativa Liberal (IL), o
Chega,
o Livre
e o Aliança
podem apresentar candidatos em Coimbra, em 2021.
O
IL
e o Chega,
com as suas vitórias recentes
de elegerem um deputado na Assembleia da República, se concorrerem
na cidade dos estudantes, para além de tudo
indicar terem aceitação na
urbe, vão roubar votos ao CDS/PP e ao PSD – essencialmente, os
sociais-democratas que se cuidem.
Quanto ao Livre
o mais certo é concorrer à edilidade conjuntamente com os Cidadãos
por Coimbra. No que toca à
Aliança, de Santana Lopes, o mais certo é não apresentar lista em
Coimbra.
5 – O
PSD/PPD, depois de, em
2013, ter perdido a Câmara, um bocado por excesso de confiança de
Barbosa de Melo, na altura o
chefe da edilidade, e quatro anos depois, em 2017, ter apostado num
candidato “pára-quedista”
para se bater contra o actual regedor, continua à deriva e sem rumo,
de certo modo, copiando a estrutura nacional. Pese embora o grande
esforço de Rui Rio para voltar
a trazer este grande partido para a ribalta.
A menos de dois
anos do grande combate, estranhamente, o PSD local, em jogos de poder
no executivo, com uma vereadora
a ausentar-se de uma votação proposta pelo seu grupo e noutro caso
a votar ao lado do PS quando os seus congéneres votam contra, parece
indicar preferir o abismo.
Com ameaças muito
sérias do Chega,
do IL
e do Somos
Coimbra virem
a ocupar completamente
o seu espaço político na cidade, se
não reflectir e continuar neste
caminho dúbio que os eleitores
não percebem, corre
o sério risco de passar a ser
minoritário no universo público. Quem
salva o PSD em Coimbra?
6 – O Somos
Coimbra, movimento
constituído por dois vereadores eleitos em 2017, é, sem dúvida
alguma, o grande combatente
e resiliente no executivo.
Apesar de saber que a cidade, pelo menos por enquanto, é castradora
para movimentos independentes, o seu líder, José Manuel Silva, não
se dá por vencido e, estrebuchando como pode, continua a acreditar
que vai conquistar o cadeirão-mor.
Estudioso quanto
baste, as suas intervenções conjuntas com a sua colega de bancada
no hemiciclo são acutilantes e continuam a irritar e
a desgastar o chefe do governo
local, Manuel Machado.
Com o
contorcionismo do grupo social-democrata que estamos a assistir,
Silva sabe que os tempos que se avizinham são cada vez mais difíceis
para alcançar o poder. Atingir
o púlpito só com uma aliança entre a sua agremiação e o PSD.
Porém, agora com as piruetas dos laranjas, a tomarem o antigo lugar
de Francisco Queirós, quem arrisca subscrever um acordo de governo?
7
- No
meio disto tudo, a velha raposa, de voz grossa e emproado, sentado
comodamente no cadeirão central, sabendo que não precisa de fazer
nada para os ventos lhe
correrem de feição, coçando a barriga com despudor, sorri a bom
rir. A velhice é um posto!
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