sábado, 26 de outubro de 2019

BAIXA: UM CASO DE APARENTE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Nesta última semana, dia e noite, no Largo da Freiria, na esplanada do restaurante Padaria Popular, os seus lamentos profundos e entristecidos, como picada de faca afiada, pareciam enterrar-se-nos na carne. Cristãos e membros de outras religiões, políticos de direita, centro e liberais, e de esquerda, gentes solidárias de todos os quadrantes, perante um quadro de tamanha consternação, ninguém ousaria ficar impávido e sereno.
O Sérgio Ferreira, o dono do café, bom amigo e de bom coração, preocupado com a situação, pediu-me ajuda. “Ó Luís, não acha que devíamos fazer alguma coisa?” - interrogou. “Implicitamente, estamos perante um declarado caso de violência doméstica. O companheiro expulsou-a de casa. Coitadinha!”. Continua o Ferreira, “e se ligássemos para a PSP? Aposto que mandariam agentes para tomar conta da ocorrência. O que lhe parece?
A vítima, como se tivesse ouvido o apelo do bom samaritano, olhou-nos e, num choro compulsivo, esparramou o seu pranto na calçada de pedrinhas e becos e ruelas em redor.
O parceiro malévolo, adiposo e aparentar soberba, a obstaculizar a entrada, como se fosse dono de todo o prédio, parecia coçar a barriga e gozar com a situação. “Que crueldade”, parecemos nós dizer em troca de um olhar de compaixão. Há seres que são piores que animais!
O cabrão do gato… a expulsar a inofensiva gata do edifício. Às tantas quer saltar-lhe para a espinha e a coitadinha... - pensei para mim em silolóquio, sem ousar falar alto, não fosse alguém ainda queixar-se de mim por insulto a ser senciente.
E o Sérgio insistia: “se chamar-mos a PSP, acha que vem cá? Isto é, garantidamente, violência doméstica!

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