(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Nesta
última semana, dia
e noite, no Largo da Freiria,
na esplanada do restaurante
Padaria Popular, os seus lamentos profundos e entristecidos, como
picada de faca afiada, pareciam enterrar-se-nos na carne. Cristãos e
membros de outras religiões, políticos de direita, centro e liberais, e de esquerda,
gentes solidárias de todos os quadrantes, perante um quadro de
tamanha consternação, ninguém ousaria ficar impávido e sereno.
O
Sérgio Ferreira, o dono do café, bom amigo e de bom coração,
preocupado com a situação, pediu-me ajuda. “Ó Luís, não
acha que devíamos fazer alguma coisa?” - interrogou.
“Implicitamente, estamos perante um declarado caso
de violência doméstica. O companheiro expulsou-a de casa.
Coitadinha!”. Continua o Ferreira, “e se ligássemos para a
PSP? Aposto que mandariam agentes para tomar conta da ocorrência. O
que lhe parece?”
A
vítima, como se tivesse ouvido o apelo do bom samaritano, olhou-nos
e, num choro compulsivo, esparramou o seu pranto na calçada de pedrinhas e becos
e ruelas em redor.
O parceiro malévolo,
adiposo e aparentar soberba, a obstaculizar a entrada, como se fosse
dono de todo o prédio, parecia coçar a barriga e gozar com a
situação. “Que crueldade”, parecemos nós dizer em troca
de um olhar de compaixão. Há seres que são piores que animais!
O
cabrão do gato… a expulsar a inofensiva gata do edifício. Às
tantas quer saltar-lhe para a espinha e a coitadinha... - pensei para
mim em silolóquio, sem ousar falar alto, não fosse alguém ainda
queixar-se de mim por insulto a ser senciente.
E o Sérgio insistia: “se chamar-mos a PSP, acha que vem cá? Isto é, garantidamente, violência doméstica!”
E o Sérgio insistia: “se chamar-mos a PSP, acha que vem cá? Isto é, garantidamente, violência doméstica!”
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