(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Escrevem
os dicionários que o termo “justicialismo”
foi criado por Juan Domingo Peron, político argentino e fundador do
peronismo. Em esboço geral,
esta filosofia existencialista
traça um quadro pessimista sobre a sociedade hodierna
e volta-se para o passado, para
os idos anos de 1930, como virtuosos.
Desencantada pelo caminho da
moral e ética “nauseabundas” nos
tempos que correm, “esta
doutrina justicialista ganha forma; como justo equilíbrio entre os
extremos (a terceira
posição, nesse sentido
sinónimo
de justicialismo, será representada como um ponto no centro de um
arco cujas extremidades são o individualismo e o coletivismo), mas,
sobretudo, como doutrina da justiça social que Perón considera a
base da democracia”.
Em
tese, pela voz do povo, associamos “justicialismo”
a um movimento que absolutiza a justiça. Valorizando os fins sem
levar em conta os meios, em tese, persegue
os interesses do colectivo como bandeira existencial e desvaloriza
os direitos do indivíduo. O que interessa é que alguém seja
condenado para acalmar as hostes sedentas de sangue. Gerando com este
“julgamento”
popular enormes injustiças por este mundo fora, esta transposição
é, em paradigma, a negação de justiça como a primeira de todas as
virtudes.
Vem isto a
propósito de hoje ter corrido um boato, aqui na Baixa, de que um “homem
alto, de chapéu, que costuma percorrer diariamente as ruas
estreitas”, ser um
perigoso pedófilo. “Se
alguém o avistar, tem obrigação de lhe dar uma coça”,
afirma uma das várias pessoas que comigo falou.
Como
se não chegasse, na qualidade de administrador da Página da Câmara
Municipal de Coimbra (Não Oficial), recebi para
publicação uma fotografia partilhada de um homem com chapéu na
cabeça e sentado num autocarro a ler um jornal, que dizia o seguinte:
“Atenção, Coimbra! ‼️⚠️ Aconselho a leitura dos comentários da publicação original, de forma a perceberem o que se passa! Está lá tudo... Não me parece que estejamos aqui num caso de difamação. A pessoa está identificada. 😠 Se calhar está na altura de pôr um ponto final a isto, não?!? “
“Atenção, Coimbra! ‼️⚠️ Aconselho a leitura dos comentários da publicação original, de forma a perceberem o que se passa! Está lá tudo... Não me parece que estejamos aqui num caso de difamação. A pessoa está identificada. 😠 Se calhar está na altura de pôr um ponto final a isto, não?!? “
“ALERTA
Coimbra. Este Monstro de chapéu e de óculos, na casa dos 60 anos é
um predador sexual. Este tem como prática de assediar MULHERES e
Adolescentes do sexo feminino nos autocarros de Coimbra. Tenho casos
de amigas e mulheres de amigos que já sofreram abusos deste sujeito.
Se alguém já tiver passado pela mesma situação, peço que me
comunique pois este já teve um processo judicial arquivado por falta
de testemunhas. OBRIGADO”
Ora,
como é fácil de ver -e isto já aconteceu inúmeras vezes em
partilhas de redes sociais no país e até no estrangeiro, por
exemplo no Brasil, em que redundou em mortes – pessoas de bom-senso
não podem nem devem partilhar um teor destes. É preciso esclarecer
que não está em causa a verdade imanente que possa estar associada,
mas sim ao facto de serem
gerados movimentos de justiceiros que, substituindo-se aos tribunais, não medem as
tragédias que podem
desencadear por se confundir a
pessoa em causa. A haver crime, cabe às autoridades chamarem a si o
assunto.
Sem comentários:
Enviar um comentário