segunda-feira, 14 de outubro de 2019

EDITORIAL: É PRECISO TER LATA







Conforme a tradição, ontem realizou-se mais um Cortejo da Latada. Alegadamente, por causa desta festa académica, tal como em anos passados, a Baixa da cidade acordou hoje com lixo até ao pescoço, em tudo o que é esquina e contra-esquina.
Tal como em anos anteriores, no dia a seguir aos cortejos académicos, os excedentes não são recolhidos. Embora sem explicação oficial, está de ver que pelas muitas toneladas de resíduos gerados pela comitiva, com o mesmo pessoal camarário para uma anormal colheita, como é óbvio, algumas zonas têm de ficar para trás.
Antes de prosseguir, convém apurar o significado de “tradição”. Segundo “Conceitos e Significados”, tradição” é uma palavra com origem no termo em latim traditio, que significa "entregar" ou "passar adiante". A tradição é a transmissão de costumes, comportamentos, memórias, rumores, crenças, lendas, para pessoas de uma comunidade, sendo que os elementos transmitidos passam a fazer parte da cultura. Para que algo se estabeleça como tradição, é necessário bastante tempo, para que o hábito seja criado.”
Então, vamos analisar a festa das latas a dois tempos. Primeiro É uma tradição? Ou não é? Isto é, a realização deste evento decorre desde os confins do tempo? Ou, pelo menos, tem mais de um século? Por que já sou velho, pelo que sei, nos moldes em que se faz, é recente. Passou a ser assim, a cada ano que passa com maior tenolagem de detritos, a partir de de 1979, com o aumento de alunos no ensino superior, conforme se afirma aqui.
Segundo, não sendo considerada tradição, a autarquia tem, ou não, obrigação de exigir à Associação Académica de Coimbra os custos da remoção?
Tal como o Cortejo da Queima das Fitas, que já vem do século XIX, se a Latada é considerada uma tradição, então, neste caso, compreende-se a envolvência da cidade. Isto é, Coimbra deve chamar a si o evento e, através da edilidade, deve assumir os seus custos e proventos. A ser assim, assumindo os custos, não faz sentido continuar-se a sacrificar uma parte alargada da cidade para beneficiar um quinhão. Porque não se contrata mais pessoal para a limpeza no dia da procissão estudantil?
E já não falo do ruído que estas festas, de modo inquisitorial, se impõem na cidade. Basta seguir de perto os queixumes nas redes sociais. Mas, sendo um outro assunto, prefiro incidir apenas na (não) recolha que se verifica sempre nesta altura.

Sem comentários: