sábado, 27 de fevereiro de 2016

UM DRAMA PARA ALÉM DOS GRITOS






Cerca das 11h30 de hoje, na Rua das Padeiras, um casal de residentes à volta de sessenta anos, que moram nesta artéria há cerca de dois anos, deu em discutir a sua vida particular em altos berros na via pública. Como um acontecimento invulgar que quebrou a rotina de uma manhã de pacato Sábado na Baixa, os transeuntes paravam pelo espectáculo e sem tomar em conta as frases saídas da mulher –que, tanto quanto sei, é muito doente. Aqui também conflituante nesta discussão acesa onde os insultos se misturavam com os raios de sol envergonhados, o marido, que “baptizei” de “fininho” costuma estar à porta da Igreja de Santa Cruz a pedir uma moeda. Todos nós, a começar por mim, temos tendência em reprovar o acto de pedir sem procurar saber as razões que motivam tal humilhação –por que, diga-se o que se disser, do ponto de visto societário, estender a mão à caridade é profundamente humilhante. Embora me dê bem com ele, para não entrar na sua vida privada, nunca lhe perguntei a razão de estar diariamente a pedir junto do Panteão Nacional. Hoje, porque tomei atenção à discussão entre o casal, fiquei a saber tudo. Como em tantos casos que nos últimos tempos têm dado às notícias, não é de admirar que um dia destes aconteça uma tragédia a juntar a tantas outras acontecidas em casas portuguesas.
Vou então reproduzir o que ouvi da boca da mulher: “não me chames porca, que eu não sou! Qualquer pessoa pode ir ver a nossa casa e verificar que está tudo limpinho! Vivo muito mal, pois vivo! Recebes 424 euros e pagamos 300 de renda de casa, como é que dá para viver? Eu deveria tomar 17 medicamentos e deixei de os tomar por não ter dinheiro! Não me dão a reforma. Tomara eu que ma dessem! O gordo disse que recebias mais de mil euros? Bandalho, é o que ele é! Eu é que sei o que passo em casa!”

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