Cerca das 11h30 de hoje, na Rua das Padeiras,
um casal de residentes à volta de sessenta anos, que moram nesta artéria há
cerca de dois anos, deu em discutir a sua vida particular em altos berros na via
pública. Como um acontecimento invulgar que quebrou a rotina de uma manhã de
pacato Sábado na Baixa, os transeuntes paravam pelo espectáculo e sem tomar em
conta as frases saídas da mulher –que, tanto quanto sei, é muito doente. Aqui
também conflituante nesta discussão acesa onde os insultos se misturavam com os
raios de sol envergonhados, o marido, que “baptizei”
de “fininho” costuma estar à porta da
Igreja de Santa Cruz a pedir uma moeda. Todos nós, a começar por mim, temos
tendência em reprovar o acto de pedir sem procurar saber as razões que motivam
tal humilhação –por que, diga-se o que se disser, do ponto de visto societário,
estender a mão à caridade é profundamente humilhante. Embora me dê bem com ele,
para não entrar na sua vida privada, nunca lhe perguntei a razão de estar
diariamente a pedir junto do Panteão Nacional. Hoje, porque tomei atenção à
discussão entre o casal, fiquei a saber tudo. Como em tantos casos que nos
últimos tempos têm dado às notícias, não é de admirar que um dia destes
aconteça uma tragédia a juntar a tantas outras acontecidas em casas portuguesas.
Vou então reproduzir o que ouvi da boca da
mulher: “não me chames porca, que eu não
sou! Qualquer pessoa pode ir ver a nossa casa e verificar que está tudo
limpinho! Vivo muito mal, pois vivo! Recebes 424 euros e pagamos 300 de renda
de casa, como é que dá para viver? Eu deveria tomar 17 medicamentos e deixei de
os tomar por não ter dinheiro! Não me dão a reforma. Tomara eu que ma dessem! O
gordo disse que recebias mais de mil euros? Bandalho, é o que ele é! Eu é que
sei o que passo em casa!”
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