Cerca das 20h00 de ontem, perante o espírito invisível
do velho Juvenal e cerca de uma trintena de comerciantes, no antigo Salão Brazil,
Vitor Marques, presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra,
deu as boas-vindas aos presentes. Começou por regozijar-se pelo facto de,
contrariamente ao último encontro em que estiveram cerca de uma dezena de
comerciantes, estarem ali mais de trinta profissionais do comércio. Lamentando
a falta de dinheiro e pedindo a colaboração de todos, mostrou o plano de
actividades para o ano em curso. Foi dizendo que, com a conta bancária caucionada
a descoberto, as despesas correntes da agência calculam para o ano em curso um
montante de 25 mil euros e as previsões cabimentadas em quotas de associados,
cerca de 70, chegam apenas aos 8 mil euros. “Foi deliberado um subsídio de 35 mil euros”, mas pela
insuficiência, “neste momento, não temos
nenhum projecto aprovado”, enfatizou.
QUANTOS SÃO? QUANTOS
SÃO?
Alfredo Borges, proprietário da Adega Paço do
Conde, lançando a primeira acha para a fogueira, começou por interrogar o
orador: “qual é o sector que mais
beneficia com os eventos da APBC? Quantos hoteleiros, para além de mim, estão
aqui?” –atrás de Alfredo quatro vozinhas doces, femininas, em coro, disseram:
“nós estamos aqui!”
Mas Alfredo, homem sem peias na
língua, que estava ali para pôr os pratos limpos na mesa, cheio de pica, continuou: “quem representa a Câmara aqui, hoje?”
Vitor Marques, economista e sócio
do Café Santa Cruz, lá ia tentando fazer frente como podia ao torpedo Alfredo e à questão da falta de
representatividade autárquica disse: “nós
tínhamos um representante na agência a representar a Câmara e foi ocupar outras
funções. Hoje não temos representação”, aduziu.
Salvo melhor opinião, por força das alterações da Lei 50/2012, que
levou à extinção da Empresa Municipal de Turismo de Coimbra, embora a
legislação permita a participação dos municípios em associações de direito
privado –a APBC é uma associação de direito privado ou público? Ou é uma grande
caldeirada?- obrigou a adaptações. Sem saber ler nem escrever sobre questões de
direito, avoco que o levantamento do quadro camarário não foi inocente. Confesso
totalmente a ignorância, mas creio que esta ausência será definitiva, o que
leva a interrogar: sem a comparticipação camarária e com as alterações dos programas
do Quadro Comunitário de Apoio que futuro para esta entidade?
Prosseguiu Alfredo, “o que faz a Câmara por nós, pela hotelaria que também não está cá hoje?”.
Retorquiu Marques: “temos o problema
das esplanadas. Sabem lá a conta que, para pagar em cinco dias, recebi da
Câmara?”
Alguém do público pergunta: qual a
verba? Marques titubeia e não disse qual o montante.
A mesma pessoa da assistência,
virando-se para António Madeira, dono do Hotel Oslo, em Coimbra, e membro da
direcção da AHRESP, Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de
Portugal, disse lamentar que a associação representativa dos hoteleiros não
tivesse marcado uma posição na cidade em defesa dos profissionais do sector.
Ao repto respondeu Madeira que em
Setembro de 2015 houve uma reunião entre a AHRESP e o presidente da Câmara
Municipal, Manuel Machado, e, por este, foi dito que haveria isenções desde que
fossem solicitadas. Segundo alegou, em janeiro deste ano foram surpreendidos pelos
elevados pagamentos pedidos pela autarquia e para serem liquidados em cinco
dias, sobre pena de multas elevadas. “Estamos
convencidos que haverá isenções para quem a pedir”, enfatizou o director da
AHRESP.
Vitor Marques aproveita a boleia
e diz: “eu pedi isenção!”
REGRAS CLARAS E
EQUITATIVAS PARA TODOS PRECISAM-SE
Salvo melhor interpretação, ficou ali a balouçar
um esquisito cheiro a terra queimada. Pela adjectivação, quero dizer que quem
pagou antecipadamente, inevitavelmente, vai queixar-se ao Totta. Em nome do
princípio da transparência, que deve acompanhar todos os actos públicos, a
oposição no executivo municipal deve clarificar esta estranha deliberação
camarária. Por outro lado, a haver isenções, a lista dos beneficiados deve ser
tornada pública. Se assim não for, ficamos na ideia de que uns serão mais
iguais do que outros.
CONFUSÃO NO OBJECTO
Quem esteve ontem presente no desaparecido
Salão Brazil e agora sede do Jazz ao Centro Clube, mais que certo para quem se
debruçou sobre esta questão, não sabia se estava perante a direcção da APBC se
da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, que, tanto quanto me
apercebi, não teve ninguém presente. Por que não teve lá um representante? A associação comercial já
morreu e, não fazendo anunciar o funeral, ninguém sabe? Por parte do anfitrião não
foi enviado convite para estar? Perguntas que ficam no ar e responda quem
souber.
É que o objecto social de cada uma
destas entidades são completamente diferenciados. À ACIC cabe (deveria caber)
representar os seus associados e defender os interesses de toda a classe,
comercial e industrial.
Já à APBC, através do plasmado no seu artigo
Terceiro, embora com algumas derivas, está atribuída “a promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a
requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada
de serviços de interesse comum”. Leia aqui o artigo terceiro.
Ora o que assistimos ontem mais uma vez, e igual a tantas reuniões anteriores, numa
confusão que já vem de longe, foi uma mistura de atribuições. Não admira que os
comerciantes estejam entregues a si mesmo e terem chegado a um deplorável,
triste e lamentável, estado de indigência.
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