Embora já tivesse falecido há mais de uma
semana, só agora tomei conhecimento que o senhor António Ventura nos deixou e partiu na longa viagem sem retorno.
Na companhia da esposa, Maria Helena, filhos, Maria Cristina e António Manuel (Tomané), e várias empregadas que ali tiraram o brevete para se lançarem na comercialização, foi durante décadas estabelecido na “praça”, como era conhecido o velho Mercado Municipal D. Pedro V, antes de ser remodelado por alturas do virar do milénio.
Na companhia da esposa, Maria Helena, filhos, Maria Cristina e António Manuel (Tomané), e várias empregadas que ali tiraram o brevete para se lançarem na comercialização, foi durante décadas estabelecido na “praça”, como era conhecido o velho Mercado Municipal D. Pedro V, antes de ser remodelado por alturas do virar do milénio.
Se todo homem comum, a meu ver, deveria
merecer uma resumida crónica final a contar a sua história, é bem verdade que
uns, para uns, têm mais narrativa do que outros. Por outro lado, a sua passagem
existencial, nos seus feitos, como não são todas iguais, podem ser, ou não,
mais visíveis.
No caso presente, conheci muito
bem o senhor Ventura. Era um homem simples, acessível, e com um espírito de
lutador invulgar, ou não fossem assim todos os alentejanos. Foi muito
importante numa fase da minha história comercial. Talvez seja comezinho o que vou contar a seguir,
mas, afinal, sempre que falamos de nós não são sempre banalidades? Militando no
reconhecimento, não podemos esquecer quem, numa determinada etapa da nossa vida, nos ajudou. Porque lhe ficarei para sempre, eternamente, grato, entendo que, em
agradecimento póstumo, tenho obrigação de escrever e enaltecer a importância
que o senhor António desempenhou na minha vida – e para muitos mais hoteleiros
da cidade, tenho a certeza.
À família enlutada, nesta partida sem aviso
mas que todos contamos porque somos meros passageiros efémeros, em nome de
todos os colegas do Mercado Municipal D. Pedro V –se posso escrever assim- e em
meu nome, os nossos sentidos pêsames. Até sempre, senhor António. Descanse em
paz!
O QUE FEZ O VENTURA POR
MIM?
Em 1982, em plena crise económica e em que os
bancos dificilmente emprestavam dinheiro mesmo a quem desse garantias quanto
mais a quem não tinha nada –que era o meu caso-, com dinheiro emprestado por
familiares e amigos, com muita dificuldade, estabeleci-me com um pequeno café.
Na companhia do meu também falecido amigo Daniel Tibério, que era também hoteleiro
e já cliente, fui apresentado ao senhor Ventura com a recomendação do Tibério
para me fiar o que eu precisasse. O senhor António, naquela pronúncia de
franqueza alentejana, disse logo: “o
senhor pode levar tudo o que quiser da minha casa! Está a ouvir? Só precisa de
pedir!”.
Ora, como eu estava a começar e
dinheiro não havia, encontrar uma pessoa assim foi importantíssimo no arranque
da minha etapa empresarial. A sua magnanimidade na confiança estabelecida foi
qualquer coisa que não posso deixar de recordar. Fui sempre seu cliente até me despedir
da hotelaria em finais de 1994. Mesmo depois do AVC, Acidente Vascular Cerebral, a que foi acometido há poucos anos, sempre que nos encontrávamos era com uma grande manifestação recíproca de festa e envolvidos num forte abraço.
1 comentário:
Fiz um negócio com o sr Ventura em 1982, quando me vendeu o primeiro automóvel que tive. O meu saudoso Toyota Corolla 42-68-SM, através dum anúncio que o sr Ventura tinha colocado no Diário de Coimbra. Pediu-me 385 contos ao que eu lhe pedi um desconto de 2 contos e quinhentos, porque o dinheiro não abundava. Simpaticamente me disse que o preço era aquele já que não teria qualquer custo acrescido pois sabia bem o que me estava a vender. Comprei-lhe a viatura e até 1993 altura em que o troquei não tive qualquer problema. Era gasolina e mudar o óleo. Fique seu cliente na loja do mercado. Era um homem sério e com uma simpatia de enaltecer. Que descanse em paz.
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