Na última quinta-feira, da semana passada, a APBC,
Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, tocou a reunir os empresários da
Baixa e cerca de uma trintena respondeu à chamada. Como já escrevi foi chover no molhado. Como quem diz, se
fosse possível rebobinar os filmes dos encontros da última década veríamos que
as reivindicações são sempre iguais. É mesmo chover no molhado! Os directores da agência, salvo pequenas
diferenças de programação –como desta vez que apresentaram, para este ano, um inovador
festival de música para novos talentos, à imagem dos concursos televisivos- apresentam
repetidamente as marchas populares como o habitual caso de sucesso e num
discurso contundente, de voz grossa e barbuda, perante os comerciantes, mostram
a mesma posição musculada perante a Câmara Municipal de Coimbra.
Na mesma proporcionalidade, durante
o tempo da discussão, como se fossem bonecos mecânicos com a corda toda, os
empresários, num acutilante desfolhar de discurso gasto pelo tempo, malham e
voltam a malhar na autarquia e, se preciso for, até acusam o executivo municipal
de comer meninas ao pequeno-almoço.
Passadas as cerca de duas horas do bate-boca,
uns e outros, directores da entidade e empresários, calmamente e na paz de Deus
por terem cooperado, dão por encerrada a sua participação comunitária e vão à
sua vida. Como caracol que se encolhe na casca, recolhem ao seu abrigo e,
durante um ano, haja o que houver, e nem que sejam pulverizados com chuva de
aço pela edilidade, nunca darão um grito –e muito menos um pio- de revolta
contra o agressor malandro e insensível aos problemas alheios.
O desenvolvimento dos personagens presentes nestes
encontros, talvez sem se aperceberem, faz deles actores de uma peça teatral sem
grande ensaio mas bem-sucedida. Num espectáculo cénico, umas vezes burlesco
outra dramática, cada um, dando tudo o que tem para mostrar que é activo, está
atento, tem soluções, queixa-se de estar a ser prejudicado. Contorcendo-se e
procurando frases rebuscadas, faz o melhor para parecer bem no papel que lhe
coube na sua performance. Então se a assistência bate palmas, ui, ui, é um
verdadeiro orgasmo mental para o orador.
Vamos então ver as reivindicações que atravessaram
a última década e continuam na moda. Como num muro de lamentações e, sem o
tempo a fazer mossa, aqui está a dialéctica do bom povo que lavra no rio:
- A Polícia Municipal continua a malhar no
pessoal do comércio. Mas esquece-se de actuar na Praça do Comércio e, perante a
rebelião surda de São Tiago, deixa transformar aquele vetusto largo em
estacionamento à borliú.
- A falta de estacionamento, sobretudo barato
ou gratuito.
- A discriminação que a Baixa sofre pela
comunicação social ao ser tema de notícia por um simples assalto a um açougue. Em contrário, a ladroagem que actua nas grandes superfícies nunca é tema na imprensa local.
- A fealdade endémica de muitas lojas, que não
se modernizam e continuam com as mesmas caras
de pau à sua frente.
- A falta de iluminação pública, com os
candeeiros de rua a concorrerem para um filme de terror.
- As montras apagadas durante a noite.
- A constante realização de eventos nas ruas
largas e o esquecimento deliberado das ruas estreitas.
- A paupérrima iluminação de Natal
proporcionada pela Câmara Municipal.
- O abuso continuado de alguns comerciantes em
ocuparem o seu espaço na via pública e o do vizinho e obstaculizarem a carga e
descarga e até a passagem de um carro de bombeiros.
- A autarquia é mais papista que o Papa e papa
tudo em taxas e emolumentos. Assim a continuar, especulando, vai obrigar os
velhinhos a pagar pela ocupação dos bancos de jardim.
É urgente a isenção de pagamento
de taxas de publicidade nos estabelecimentos, de toldos e ocupação de via
pública com pequenos vasos que alindem as fachadas das lojas e prédios.
- A falta de limpeza pública durante o dia na
Baixa e a aviltante carência de formação de quem cá reside e que coloca o lixo
a todas as horas.
- As Noites Brancas, como nevoeiro em manhã de
Agosto, não fazem sentido –a não ser para a hotelaria. O visitante vem à festa
como se fosse à romaria de São Brás. Vem nesse dia e só retorna quando houver
mais festa em honra do santo padroeiro.
- É preciso fazer alguma coisa para atrair
pessoas à Baixa, nem que seja oferecida uma verba pecuniária a cada cliente.
- É preciso revitalizar o arrendamento barato
e trazer moradores para a zona histórica.
-É necessário alargar os horários para além
das 19h00. Sobretudo a partir da Primavera os estabelecimentos devem estar
abertos até mais tarde e inclusive ao Domingo. É a única forma de certo modo
combater as grandes superfícies.
E pronto! Do que foi escrito, está tudo dito.
Falta apenas fazer uma referência à empresa FOCUS que no final, a correr e por
falta de tempo, apresentou sumariamente o Programa Comunitário de Apoio “COMPETE
2020”. Trata-se de incentivos para dinamizar o comércio e o turismo, que, cobrindo 90 por cento das despesas elegíveis, podem
ir até à elaboração de um diagnóstico e plano de acção para cada empresa.
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