Quem já teve a felicidade de ver e ouvir o estudante
universitário, de engenharia Mecânica, Eduardo Catela nas Ruas largas, Visconde
da Luz e Ferreira Borges, de certeza absoluta, teve de suster a passada e
deixar-se invadir pelos trinados melódicos saídos da sua guitarra de Coimbra.
Trajado a rigor, de capa e batina, para além da excelência instrumental e dos muitos
turistas a tirarem fotografias, o Eduardo contribui para um bonito postal
ilustrado da cidade. É um prazer revê-lo e tê-lo entre nós a quebrar o silêncio
das artérias da Baixa, por vezes, tão notoriamente sepulcral.
“Estou
aqui, a tocar na rua, para ajudar a pagar as minhas propinas”, responde
assim ao meu porquê? Continua o Eduardo, “embora
os universitários estejam malvistos pelos excessos de uma minoria, no geral, os
transeuntes gostam muito de ajudar os estudantes. Sinto um carinho muito
especial quando estou a tocar na rua. Claro que, volta e meia, recebo umas “bocas”
incomodativas de pessoas, sobretudo mais velhas e acima de 70 anos, assim no
género: “é uma vergonha um estudante universitário estar na rua a pedir!”. Com
alguma tolerância, porque acho que é a falta de formação, a incultura, que os
faz confundir troca de serviço público com mendicidade, lá vou explicando que,
com a minha música, estou a alegrar e a dar um outro sentido harmónico a quem
passa tantas vezes ensimesmado pelos seus imensos problemas. Por outro lado,
interrogo, se tenho dificuldades em pagar as minhas propinas o que é melhor? É
estar aqui a desenvolver uma função proactiva, turística e comunitária, ou,
como alguns colegas fazem, andar a fazer tropelias? Eu não peço nada a ninguém.
Cada um, na sua subjectividade, dá se achar que eu mereço. Ou seja, há uma contra-prestação
pelo meu serviço!”
1 comentário:
Amigo:
Como sabe venho até aqui todos os dias! Por vezes imagino-me por Coimbra, fazendo uma ou duas piscinas pela baixa, todos os dias, como era meu costume . Beberia o meu café no Santa Cruz e entre olhares por cima dos óculos, coscuvilhando o movimento humano, leria os matinais com a intenção de procurar algo noticioso que me desse a razão de ir até ao seu bazar de memórias para o provocar -Oh Amigo, vossemecê já leu a terceira página de hoje?
Acredite, penso muito na minha cidade mãe! Distraio-me nos sonhos! Caminho levemente pelas ruas,subo e desço pelas suas escadas seculares, cumprimento e sorrio aos empregados das lojas, compro falhocas e castanhas e reencontro-me com amigos e amadas dentro dos cafés em que o decór ainda hoje é o de MCMLXXIX!
Sabe Amigo, ainda hoje tenho no olfacto as fragrâncias das diversas ruas da baixa e nos devaneios meus, ao dobrar da esquina vai-se o aroma do café e vem o do curado coiro nos sapatos de verniz em saldo que ao fim da rua já se mistura no faro com o cheiro da matizada fazenda fina, quem sabe de longínqua oriental mariposa vendida à medida da extensão paralelepipédica de um pedaço de pau Africano!
Hoje contudo, nas minhas quimeras vejo Coimbra como se vê em muitos dias a Madalena, não a que financiou os paços de Cristo, mas a freguesia litoral do Pico coberta de densas nuvens anti-ciclónicas que só ao pico do Pico deixam banhar em sol e ao humano enxergar lá do longe no alto mar.
Mas há sempre uma aberta, um raio de sol que penetra, ilumina, aquece e nos dá esperança!
Este jovem e a sua guitarra com lágrima são essa esperança, esse raio de sol!
Quem sabe ele não é para Coimbra parte importante de um futuro feixe de luz!
Um abraço
Álvaro José Da Silva Pratas Leitao
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