quinta-feira, 20 de novembro de 2014

UM COMENTÁRIO E UMA RESPOSTA DADA...





CASTANHEIRA BARROS deixou um novo comentário na sua mensagem "QUER SER GUARDA PRISIONAL?":



PREZADO LUÍS FERNANDES:

O Diário de Coimbra também noticiou no dia 11.11.2014 o que ocorreu na última reunião pública da Câmara Municipal de Coimbra, concretamente o episódio da relutância do Dr. Manuel Machado em se assumir como maçon quando foi por mim confrontado com essa sua indesmentível condição.
Concordo plenamente com a sua sugestão de que sejam noticiados os problemas apresentados pelos munícipes nas reuniões públicas de Câmara, não apenas do Município de Coimbra, mas de todas as autarquias da área abrangida por cada jornal regional.
Será no fundo dar voz ao Povo.
Como julgo que sabe eu vou mais longe e defendo, na candidatura que estou a preparar desde Julho deste ano à Presidência da República Portuguesa, que é imperioso «Restituir o poder ao Povo». Trata-se obviamente de uma ideia com a qual os maçons nada simpatizam, porque as lojas maçónicas existem para defender os interesses dos seus filiados e não para reconhecer que a soberania reside no Povo e não nos circunstanciais titulares de cargos políticos, mesmo que integrados em órgãos de soberania.
Discordo apenas de um ponto da sua mensagem: não pode ser considerado eterno candidato a determinado cargo quem a ele concorreu apenas uma vez, como foi o caso quando em 2010 concorri a Presidente da Comissão Política Nacional do Partido Social Democrata.
Escrevi intencionalmente por extenso Partido Social Democrata pois é essa a verdadeira matriz do PSD e a única com a qual me identifico, demarcando-me assim de quem pretende transformá-lo num Partido liberal.
Fico por aqui antes que resolva acusar-me de utilizar o seu blogue para campanha eleitoral.
Ah, só mais uma coisinha: vai perceber em breve que até o Bloco de Esquerda encontrará fundamentos para apoiar a minha eventual mas provável candidatura, quanto mais não seja pela luta comum que temos vindo a travar há muitos anos contra a co-incineração de resíduos perigosos, luta essa que foi a razão principal da minha intervenção na dita reunião de Câmara.
Receba um cordial abraço do : Castanheira Barros.



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RESPOSTA DO EDITOR


Começo por felicitá-lo, meu caro Castanheira Barros –sobretudo pelo seu “low profile”. Gosto disso! Não gosto de quem fala grosso a coberto do estatuto, com a voz intencionalmente bem colocada, para se fazer ouvir. Em seguida, começo por agradecer-lhe ter vindo à minha mercearia e taberna e, sem peneiras, ter pedido um “copo de três”, como antigamente. Gosto disso!
E, em minha defesa, vou então à minha contra-argumentação. Em relação às notícias publicadas nos dois matutinos, Diário as Beiras e Diário de Coimbra (DC), fogo!, é preciso ter azar! E logo agora que até tinha afiado a baioneta e tudo! Porra! Todos os dias leio os dois jornais e, sei lá por quê, não me apercebi. E esta então do diário de Coimbra, assinada pelo meu amigo António Manuel Rodrigues, ocupa um terço de página. Para eu não ver, só podia estar mesmo com os olhos em bico –mais duas explicações, uma para o meu amigo Rodrigues e outra para o seu jornal, o DC.
Prosseguindo nas alegações, já viu que o meu texto foi escrito inicialmente em tom brejeiro e acabou em nota marcial. Quero dizer com isto que o referente à sua pessoa está na parte cimeira e pretensamente foi escrito com algum humor. Mas tenho de acrescentar que, de facto, plasmei “eterno candidato a secretário-geral do PSD” por considerar ser um sonho seu, legítimo, aliás. Como sabe melhor do que eu, intuo, ainda vai voltar a candidatar-se ao lugar. Portanto, quero dizer que não se sinta ofendido pela graça –penso que, pela sua resposta, compreendeu perfeitamente.
Quanto à matriz do Partido Social Democrata, quando diz que se demarca de quem pretende transformá-lo num partido liberal, tenho de lhe dizer que, discordando, o problema do PSD não assenta nem na social-democracia nem no liberalismo. A meu ver, o cancro, em metástases, que está a corroer a “ideologia” do (ex) partido de Sá Carneiro é o ultraliberalismo –que é o absolutismo, o imperativo categórico, o esmagamento radical da filosofia liberal e levando-a para o extremismo fundamentalista. Bem sei que parece confuso mas vou explicar melhor o que entendo por um e outro e até Social-democracia.

O QUE FOI O LIBERALISMO?

Sabemos todos que o liberalismo germinou na Revolução Francesa, em 1789, na tal trilogia “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”. Ganhou personalidade logo no princípio do século XIX –por cá, no sobe e desce, implantou-se em 1820. Com as premissas revolucionárias de “eleições democráticas”, “liberdade de religião”, “liberdade de imprensa”, “livre comércio” –com mais iniciativa privada e menos Estado-, “direitos civis” -o cidadão como centro do universo, com direitos e prerrogativas sociais- e defesa intrínseca da “propriedade privada” –descentralização da terra e respeito absoluto pela pertença individual- desenvolveu-se e atingiu a celebridade por volta de 1850 e arrastou-se até finais do mesmo século XIX.

A SOCIAL-DEMOCRACIA

A social-democracia, enquanto ideologia política, surgiu no final do século XIX. De certo modo como evolução do liberalismo mas para suavizar a filosofia Marxista. No fundo pretendia combater a ortodoxia Marxista. Esta, denegando a acção política, entendia a supremacia económica num determinismo planeado. Por outro lado, Marx defendia que a mudança social só era possível em corte horizontal, com uma revolução. O conceito de social-democracia, embora sendo de esquerda, preconizava que, através do reformismo, era possível a transição para o Socialismo gradualmente, tornando a sociedade mais igualitária, sem golpes transversais.
Com a Primeira Grande Guerra a decorrer, após a revolução bolchevique, em 1917, com milhares de mortos, que derrubou a autocracia russa e elevou ao poder Lenine, estava criado o vírus pandémico de temor para a Europa e para a necessidade de um novo conceito de social-democracia. A crise de 1929 veio mostrar a indispensabilidade de criar o Estado de bem-estar Social para proteger e defender a população de grandes cataclismos naturais, sociais, e económicos garantindo o mínimo de dignidade social, desde o nascimento até à sua morte. Com o sucesso da Social-Democracia nos países do Norte da Europa logo a seguir ao final da 2ª Guerra Mundial, após a queda dos regimes ditatoriais e autoritários, os países do Sul, incluindo Portugal, por alturas de 1970, adoptando a Democracia, transformando-se em estados de Direito, aplicaram a mesma fórmula de Estados Providência dos países nórdicos. Porém, com enormes diferenças. Lá, nas nações escandinavas, retirando os pilares estruturantes como educação, saúde e justiça, só é distribuído pelo Estado o que cada um, proporcionalmente, contribui ao longo da sua vida. No Sul da Europa, mais essencialmente em Portugal, fez-se o contrário. Num igualitarismo exacerbado, entendeu-se que, pelo simples facto de serem cidadãos, todos tinham direito a receber, mesmo sem contra-prestação. Para piorar, os directores-gerais, outros e políticos de carreira, com as suas subvenções e reformas milionárias e outras benesses que chamaram para si e para as suas famílias, para além de erros crassos na administração elevando até ao infinito a dívida pública, fizeram com que, em consequência, o que resta hoje da matriz social-democrata seja um esqueleto.

O ULTRALIBERALISMO

O ultraliberalismo, também chamado de neoliberalismo, embora absolutista, é inspirado na corrente social-democrata da segunda metade do século XX no Norte da Europa mas com diferenças radicais e autoritárias. O liberalismo/social-democracia defendia a livre concorrência e a livre iniciativa mas sempre com o Estado a regular a economia, evitando as assimetrias económicas, acautelando que o grande capital mundial, pela sua força aglutinadora, não submergisse a pequena economia. Por outro lado, garantindo os direitos dos trabalhadores, regulando as leis do trabalho, e, ainda e sobretudo, que as grandes empresas nacionais estruturantes se mantivessem na sua posse. O ultraliberalismo veio derrubar todas estas antigas premissas.
Pode afirmar-se sem possibilidade de erro que em Portugal começou com José Sócrates, em 2005. Com o “crash” de 2008, tornou-se viral e com a motivação substantivada na razão para o endurecimento de medidas cada vez mais cerceadoras dos direitos e aflitivas para o cidadão. Com Passos Coelho a usar e a abusar da mesma fórmula baseada na crise, desvalorizando o valor do trabalho no custo da produção e com a quebra de direitos levando-nos ao empobrecimento colectivo, aproximamo-nos cada vez mais dos países emergentes. O que resta hoje da Social-Democracia versus Liberalismo é uma mera sombra. É um projecto inscrito num livro empoeirado que repousa no sótão da nossa esperança.

Em resumo, meu caro Castanheira Barros, como vê sou muito sucinto na réplica. Quando entender, seja campanha eleitoral ou não, faça o favor de mandar para cá os seus anúncios que eu, com gosto e dentro da liberdade que entendo assistir-lhe, publicarei. Muito obrigado. Não fui muito longo, pois não?


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