É esguio e pela altura mediana não chama a nossa
atenção num primeiro olhar. Mas há qualquer coisa de místico na imagem de Telmo
Melo. Começa logo pela indumentária completamente negra. Mas não é apenas a
roupa preta que instiga um segundo olhar. Este homem, de apenas 25 anos,
carrega consigo uma carga inexplicável de mistério. Olhando os seus olhos
negros, pressentimos que ali, pelo brilho embaciado, está o espelho de uma alma
sofredora, o espírito de um artista em potência cuja criação está
inevitavelmente ligada à tristeza, à solidão e à nostalgia. Seja no que for,
pela sua entrega total e pelo perfeccionismo que o persegue, a área em que
mergulhar, ainda que com dificuldade acrescida como se o destino o colocasse à
prova, estará fadado ao sucesso. Tendo o lado obscuro da Lua como génio
inspiratório, o mar, dividido na bipolaridade entre a acalmia e a turbulência,
será sempre a sua projecção divina. Aqui, nas águas cálidas da arte, tomará
banho de purificação e, pela catarse, sairá mais forte e mais aperfeiçoado. Quando,
tantas vezes, nos cruzamos com ele nas ruas da Baixa da cidade, para nós mais
velhos, lembra-nos alguém da TV ou do cinema. Talvez um personagem da “Guerra das Estrelas”, como Peter Cushing,
da saga de George Lucas.
Pelo bem que queremos ao nosso menino, o Melo
é a nossa maior esperança no mundo da prestidigitação, a arte da ilusão. A magia
está para este rapaz como o Sol estará para a Terra.
O Telmo nasceu na Conchada, num
meio pobre e arrabalde da cidade. Quis o propósito que um dia, com 11 anos,
fosse ver um espectáculo de Luís de Matos, de magia, ao Teatro de Gil Vicente. Foi
tiro e queda na paixão que viria a
ser a sua profissão. Houve ali um clique, uma mensagem fluídica. Logo depois da
actuação do nosso maior ilusionista da actualidade, levou consigo um guardanapo
e, entre voltas e reviravoltas, foi até casa a tentar perceber como é que o seu
novo ídolo fazia. A seguir, sempre que podia, e colocando outras prioridades de
lado, adquiria livros de magia. Com o apoio incondicional de sua mãe esta
ofereceu-lhe uma caixa que se chamava “magia
Borras”. Estava criado o vírus que tomaria conta do seu futuro e o faria
prescindir de estudar. Veio a Internet e ajudou na pesquisa. O seu mestre
idolatrado foi sempre Luís de Matos. Embora saiba que o mágico nacional mais
premiado internacionalmente reconhece o seu trabalho e até já lhe tivesse
oferecido uma caixa mágica com 150 truques, Telmo nunca lhe pediu ajuda. Sendo
autodidacta, entende que cada um de nós deve construir a sua escada em direcção
à fama e, como um grande amor, tem de a conquistar pelos seus próprios meios. A
magia é um engenho sem tradição em Portugal e não é apoiada. Talvez por isso
mesmo tudo se torne mais difícil. Mas o nosso Telmo é um optimista e não
desiste por nada. Quando está a pisar o palco transcende-se e, como se
encarnasse num mago da Idade Média, sente-se um ser metafísico.
Apesar de sentir o calor da
cidade, gostava de ver a autarquia mais envolvida nas artes performativas.
Relembra Mário Nunes, outrora vereador da edilidade coimbrã e já desaparecido
do mundo dos vivos. Era bom que a nova vereadora da Cultura, Carina Gomes, lhe
seguisse as pisadas.
O maior desgosto que Telmo Melo sofreu
foi a partida da sua musa inspiradora terrena, a sua mãe, em 2007, quando se
transformou no seu anjo da guarda.
Desde essa data, e ao longo destes sete anos, que o seu espírito, nos momentos
bons e nos piores, passou a ser a sua luz de vida.
O seu maior sonho era poder
apresentar um programa de televisão e chegar ao grande público. Mas, digo eu,
vai acontecer Telmo! Escreve aí, meu amigo!
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