sexta-feira, 21 de novembro de 2014

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "BAIXA: INVENTEM-SE NOVOS CONCEITOS", deixo também a crónica "NECESSIDADES FISIOLÓGICAS SÓ DURANTE A MANHÃ"; "BAIXA: OS IDIOTAS DO COSTUME"; "UM MONUMENTO AO FUMADOR NA PRAÇA"; e "O CARLITOS POPÓ" DE BAIXA".




BAIXA: INVENTEM-SE NOVOS CONCEITOS

No último Sábado, logo de manhã, fui surpreendido por um telefonema de uma funcionária do Instituto dos Registos e Notariado, da Loja do Cidadão, a informar-me de que os documentos do meu automóvel estavam na sua posse. Um munícipe de nome Pedro Silva –a quem, depois de já ter telefonado, mais uma vez, aproveito para agradecer o gesto de grande significado e cidadania- tinha encontrado o registo patrimonial próximo do espaço da antiga Triunfo e junto à Rua dos Oleiros. Foi o resultado de um estacionamento rápido e, duplamente a marcar o erro, não ter trancado o carro e deixar lá dentro os documentos.
Pelo facto de ter sabido de que havia mais papéis espalhados no local onde Pedro Silva encontrou os documentos voltei ao terreiro. Então, de uma forma impressionante que tocava a alma, perante os meus olhos estava um recanto atapetado com invólucros de seringas. Dava que pensar!
A Baixa, entre as Ruas Direita e Oleiros, nos seus becos mais esconsos e casas decrépitas, sobretudo à noite, está transformada em área pública de consumo endovenoso de drogas duras. Bem sei que a criação de uma sala de chuto assistida gera polémica. Isto mesmo se passou comigo até ver tantos depósitos de seringas vazios. Não seria melhor mudarmos o conceito? Isto é, aceitar discutir este assunto sem pré-conceitos e chegarmos a uma solução do menor custo para todos. Ou, continuando a enterrar a cabeça na areia e fazendo de conta de que não se passa nada, deveremos continuar a ignorar uma realidade que se passa à frente dos nossos olhos?


NECESSIDADES FISIOLÓGICAS SÓ DURANTE A MANHÃ

Não se sabe bem o que estará por detrás da decisão camarária de, há cerca de duas semanas, manter os sanitários públicos da Praça do Comércio abertos somente durante as manhãs. Podemos aventar que se trate de um recurso para obrigar os passantes, residentes ou turistas em trânsito, a uma poupança forçada na evacuação física ou, sei lá, por parte da autarquia, poupar nos custos com pessoal. O que sei é que o João Rodrigues, o proprietário do café Pepe Kebab, ao lado das sentinas, não está a gostar nada da brincadeira. “Olhe que tive de fechar os meus WC’s. As pessoas entravam, sem pedir licença e sem consumir absolutamente nada, iam directos à satisfação da sua necessidade e ainda por cima deixavam tudo sujo. Bolas, não é ser insensível mas isto ultrapassa as marcas. Sem contraprestação, não posso substituir um serviço que deve ser intrinsecamente público e cabe à edilidade assegurar.”




BAIXA: OS IDIOTAS DO COSTUME

Os comerciantes das Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges com vasos a embelezar as suas entradas, nos últimos dias, têm sido acometidos pela fiscalização camarária para a obrigação de tirarem licença de ocupação de espaço público. Saliento que as flores abrangem uma área de trinta centímetros quadrados. O resultado desta medida é que, para além de dois estabelecimentos, todos os outros retiraram os seus embelezamentos. Com estes profissionais da compra e venda, que decidiram tornear a questão digna de figurar no anedotário nacional, nenhum quis dar a cara. Um lojista, a quem pedi uma declaração, disse mesmo, expressamente, que preferia não o fazer, nem se identificar, porque era muito amigo de Manuel Machado e não o queria prejudicar.
Dos únicos que estão a tratar do assunto e com completa indignação e repúdio são Pedro Cruz e Maike Chen, ambos estabelecidos na Rua Ferreira Borges. Pelo primeiro, Pedro Cruz, foi dito que “já recebemos o e-mail da Câmara para pagar a área ocupada pela ornamento florístico. É inconcebível o que está a acontecer. Estão a transformar a rua numa via triste, sem cor e sem alegria. Então e logo agora que estamos próximos do Natal? Quando se deveria defender que cada um tratasse do seu espaço para tornar a Baixa mais agradável vem a edilidade estragar tudo para tentar cobrar 15 euros? Isto não é incrível? Não se trata de pagar ou não pagar mas sim do quanto a medida é repelente.”
Maike Chen, enfatizou que “perante a insistência dos serviços de fiscalização da autarquia, no último dia 7 fui requerer a licença para poder manter dois pequenos arranjos à minha porta. Só para entregar o requerimento liquidei 10 euros. Se me for concedido o pedido pagarei mais 5 euros, dois euros e meio por cada flor. Isto não é tão comezinho? Não acha?”
Preferi não responder. Perante este “vale tudo”, este sacar a qualquer jeito e mesmo que sejam umas moedas aos aflitos comerciantes que, a fazer contas diariamente, tentam aguentar as portas abertas, dá para ver que a situação financeira da Câmara Municipal de Coimbra deve estar no vermelho retinto. Não cairia melhor fazer-se um peditório?


UM MONUMENTO AO FUMADOR NA PRAÇA

Depois de uma importante transformação de projeto, está pronto a ser inaugurado o gigantesco cinzeiro na Praça 8 de Maio. Numa altura em que o fumador é tratado abaixo de rafeiro pelos governos nacionais e transnacionais –refiro também as diretivas emanadas do Parlamento Europeu, em Bruxelas- é de louvar esta iniciativa de Manuel Machado, Presidente da Câmara Municipal de Coimbra. Só um homem especial, singular, de grande sensibilidade social, poderia levar a cabo uma ação de tão largo espectro comunitário. Espero, sinceramente, que o seu bom exemplo transponha as fronteiras portuguesas e comova todos os povos vizinhos. Lembro que a classe dos fumantes é uma das mais importantes na contribuição de impostos para o Orçamento.
Naturalmente que tenho de ir para a rua saber o que pensa o munícipe, o cidadão comum. Comecei com um comerciante da zona, que, como já é habitual, pediu o anonimato, “olhe, isto é mais uma parvoíce! Numa altura em que se procura por todos os meios encetar uma luta contra o tabagismo, fará algum sentido montar aqui um cinzeiro? Espere para ver. Dentro de dois dias passe cá! Olhe ali –e aponta uma prata a boiar na água. Hoje é o primeiro dia e já está a começar! Isto vai ser um caixote do lixo! Diga-me, sendo a Igreja de Santa Cruz Panteão Nacional não faria muito mais sentido colocar aqui uma estátua alusiva a D. Afonso Henriques?”
Precisava de uma outra declaração, agora de um cidadão calcorreante de becos e travessas e calçadas esburacadas. Por acaso, encontrei o António Simões da Silva, mais conhecido por “Popeye”, e pedi-lhe umas palavras sobre a nova função alegórica ao cigarro. “Estou muito satisfeito. Uma obra de grande significado. É certo que é mais uma rotunda, mas isso até faz parte do pensamento arquitetónico e político de Machado. Ele é mestre na sua criação.”
Já agora, e por último, por entender que esta alteração pode implicar custos para os trabalhadores romenos e que já há muito tempo que utilizam o rebordo como assento para descansar das longas fadigas diárias, fui ouvir o Costica, um alegado natural da região do Báltico. Num português arrastado, mais que certo pelo cansaço da faina, mesmo que imaginado, enfatizou: “Gosto disto! Está giro! Ainda ontem à noite, lá em casa, estive a falar com a minha patroa e os meus filhos sobre esta belíssima obra de arte! Tive de manter os miúdos à rédea curta. Caso contrário, já hoje queriam vir tomar banho para inaugurar a nova piscina!”


O “CARLITOS POPÓ” DE BAIXA

O nosso mais importante embaixador da “Peace and Love”, paz e amor, do Centro Histórico, Carlos Alberto dos Santos Duarte, mais conhecido por “Carlitos Popó”, por motivos de saúde, está fora de serviço. Devido a problemas no coração –mais que certo em consequência de muitos amores clandestinos nestes becos e ruelas da Baixa-, está em convalescença na Unidade de Saúde Fernão Mendes Pinto, na Avenida Fernão de Magalhães. Embora magro e muito mais surdo, o Carlitos está recuperar bem e, pela cor do rosto, pareceu-me, dentro de cerca de mais um mês estará pronto para as curvas e contra curvas que a vida lhe reserva. Descansem as viúvas, as divorciadas e as solteiras, que o tempo tornou casadas com a virgindade, que o “popó” não se esquecerá delas e regressará muito em breve cheio de pujança física e pronto para o amor. Um pouco com a voz arrastada, lá me foi dizendo que tem muitas saudades das suas meninas e até aceitava um raminho de flores de uma ou outra mais afoita pela nostalgia.
Segundo o seu grande amigo e protetor Bruno Morais, “o Carlitos, apesar dos seus 68 anos, está a recobrar muito bem. Ele sempre teve um problema com a aorta e há cerca de um mês sentiu-se mal e foi internado nos HUC. Agora está a recuperar na clínica Fernão Mendes Pinto. Dentro de mais três ou quatro semanas, quando tiver alta, vamos tê-lo novamente entre nós.”

Sem comentários: