LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "BAIXA: INVENTEM-SE NOVOS CONCEITOS", deixo também a crónica "NECESSIDADES FISIOLÓGICAS SÓ DURANTE A MANHÃ"; "BAIXA: OS IDIOTAS DO COSTUME"; "UM MONUMENTO AO FUMADOR NA PRAÇA"; e "O CARLITOS POPÓ" DE BAIXA".
BAIXA: INVENTEM-SE NOVOS CONCEITOS
No último Sábado, logo de manhã, fui
surpreendido por um telefonema de uma funcionária do Instituto dos Registos e
Notariado, da Loja do Cidadão, a informar-me de que os documentos do meu
automóvel estavam na sua posse. Um munícipe de nome Pedro Silva –a quem, depois
de já ter telefonado, mais uma vez, aproveito para agradecer o gesto de grande
significado e cidadania- tinha encontrado o registo patrimonial próximo do
espaço da antiga Triunfo e junto à Rua dos Oleiros. Foi o resultado de um
estacionamento rápido e, duplamente a marcar o erro, não ter trancado o carro e
deixar lá dentro os documentos.
Pelo facto de ter sabido de que havia mais
papéis espalhados no local onde Pedro Silva encontrou os documentos voltei ao
terreiro. Então, de uma forma impressionante que tocava a alma, perante os meus
olhos estava um recanto atapetado com invólucros de seringas. Dava que pensar!
A Baixa, entre as Ruas Direita e Oleiros, nos
seus becos mais esconsos e casas decrépitas, sobretudo à noite, está
transformada em área pública de consumo endovenoso de drogas duras. Bem sei que
a criação de uma sala de chuto assistida gera polémica. Isto mesmo se passou
comigo até ver tantos depósitos de seringas vazios. Não seria melhor mudarmos o
conceito? Isto é, aceitar discutir este assunto sem pré-conceitos e chegarmos a
uma solução do menor custo para todos. Ou, continuando a enterrar a cabeça na
areia e fazendo de conta de que não se passa nada, deveremos continuar a
ignorar uma realidade que se passa à frente dos nossos olhos?
NECESSIDADES FISIOLÓGICAS SÓ DURANTE A MANHÃ
Não se sabe bem o que estará por detrás da
decisão camarária de, há cerca de duas semanas, manter os sanitários públicos
da Praça do Comércio abertos somente durante as manhãs. Podemos aventar que se
trate de um recurso para obrigar os passantes, residentes ou turistas em
trânsito, a uma poupança forçada na evacuação física ou, sei lá, por parte da
autarquia, poupar nos custos com pessoal. O que sei é que o João Rodrigues, o
proprietário do café Pepe Kebab, ao
lado das sentinas, não está a gostar nada da brincadeira. “Olhe que tive de fechar os meus WC’s. As pessoas entravam, sem pedir
licença e sem consumir absolutamente nada, iam directos à satisfação da sua
necessidade e ainda por cima deixavam tudo sujo. Bolas, não é ser insensível
mas isto ultrapassa as marcas. Sem contraprestação, não posso substituir um
serviço que deve ser intrinsecamente público e cabe à edilidade assegurar.”
BAIXA: OS IDIOTAS DO COSTUME
Os comerciantes das Ruas Visconde da Luz e
Ferreira Borges com vasos a embelezar as suas entradas, nos últimos dias, têm
sido acometidos pela fiscalização camarária para a obrigação de tirarem licença
de ocupação de espaço público. Saliento que as flores abrangem uma área de
trinta centímetros quadrados. O resultado desta medida é que, para além de dois
estabelecimentos, todos os outros retiraram os seus embelezamentos. Com estes
profissionais da compra e venda, que decidiram tornear a questão digna de
figurar no anedotário nacional, nenhum quis dar a cara. Um lojista, a quem pedi
uma declaração, disse mesmo, expressamente, que preferia não o fazer, nem se
identificar, porque era muito amigo de Manuel Machado e não o queria
prejudicar.
Dos únicos que estão a tratar do assunto e com
completa indignação e repúdio são Pedro Cruz e Maike Chen, ambos estabelecidos
na Rua Ferreira Borges. Pelo primeiro, Pedro Cruz, foi dito que “já recebemos o e-mail da Câmara para pagar a
área ocupada pela ornamento florístico. É inconcebível o que está a acontecer.
Estão a transformar a rua numa via triste, sem cor e sem alegria. Então e logo
agora que estamos próximos do Natal? Quando se deveria defender que cada um
tratasse do seu espaço para tornar a Baixa mais agradável vem a edilidade
estragar tudo para tentar cobrar 15 euros? Isto não é incrível? Não se trata de
pagar ou não pagar mas sim do quanto a medida é repelente.”
Maike Chen, enfatizou que “perante a insistência dos serviços de
fiscalização da autarquia, no último dia 7 fui requerer a licença para poder
manter dois pequenos arranjos à minha porta. Só para entregar o requerimento
liquidei 10 euros. Se me for concedido o pedido pagarei mais 5 euros, dois
euros e meio por cada flor. Isto não é tão comezinho? Não acha?”
Preferi não responder. Perante este “vale tudo”, este sacar a qualquer jeito
e mesmo que sejam umas moedas aos aflitos comerciantes que, a fazer contas
diariamente, tentam aguentar as portas abertas, dá para ver que a situação
financeira da Câmara Municipal de Coimbra deve estar no vermelho retinto. Não
cairia melhor fazer-se um peditório?
UM MONUMENTO AO FUMADOR NA PRAÇA
Depois de uma importante transformação de
projeto, está pronto a ser inaugurado o gigantesco cinzeiro na Praça 8 de Maio.
Numa altura em que o fumador é tratado abaixo de rafeiro pelos governos
nacionais e transnacionais –refiro também as diretivas emanadas do Parlamento
Europeu, em Bruxelas- é de louvar esta iniciativa de Manuel Machado, Presidente
da Câmara Municipal de Coimbra. Só um homem especial, singular, de grande
sensibilidade social, poderia levar a cabo uma ação de tão largo espectro
comunitário. Espero, sinceramente, que o seu bom exemplo transponha as
fronteiras portuguesas e comova todos os povos vizinhos. Lembro que a classe
dos fumantes é uma das mais importantes na contribuição de impostos para o
Orçamento.
Naturalmente que tenho de ir para a rua saber
o que pensa o munícipe, o cidadão comum. Comecei com um comerciante da zona,
que, como já é habitual, pediu o anonimato, “olhe, isto é mais uma parvoíce! Numa altura em que se procura por todos
os meios encetar uma luta contra o tabagismo, fará algum sentido montar aqui um
cinzeiro? Espere para ver. Dentro de dois dias passe cá! Olhe ali –e aponta
uma prata a boiar na água. Hoje é o
primeiro dia e já está a começar! Isto vai ser um caixote do lixo! Diga-me,
sendo a Igreja de Santa Cruz Panteão Nacional não faria muito mais sentido
colocar aqui uma estátua alusiva a D. Afonso Henriques?”
Precisava de uma outra declaração, agora de um
cidadão calcorreante de becos e travessas e calçadas esburacadas. Por acaso,
encontrei o António Simões da Silva, mais conhecido por “Popeye”, e pedi-lhe umas palavras sobre a nova função alegórica ao
cigarro. “Estou muito satisfeito.
Uma obra de grande significado. É certo que é mais uma rotunda, mas isso até
faz parte do pensamento arquitetónico e político de Machado. Ele é mestre na
sua criação.”
Já agora, e por último, por entender que esta
alteração pode implicar custos para os trabalhadores romenos e que já há muito
tempo que utilizam o rebordo como assento para descansar das longas fadigas
diárias, fui ouvir o Costica, um alegado
natural da região do Báltico. Num português arrastado, mais que certo pelo
cansaço da faina, mesmo que imaginado, enfatizou: “Gosto disto! Está giro! Ainda ontem à noite, lá em casa, estive a falar
com a minha patroa e os meus filhos sobre esta belíssima obra de arte! Tive de
manter os miúdos à rédea curta. Caso contrário, já hoje queriam vir tomar banho
para inaugurar a nova piscina!”
O “CARLITOS POPÓ” DE BAIXA
O nosso mais importante embaixador da “Peace and Love”, paz e amor, do Centro
Histórico, Carlos Alberto dos Santos Duarte, mais conhecido por “Carlitos Popó”, por motivos de saúde, está
fora de serviço. Devido a problemas no coração –mais que certo em consequência
de muitos amores clandestinos nestes becos e ruelas da Baixa-, está em
convalescença na Unidade de Saúde Fernão Mendes Pinto, na Avenida Fernão de
Magalhães. Embora magro e muito mais surdo, o Carlitos está recuperar bem e,
pela cor do rosto, pareceu-me, dentro de cerca de mais um mês estará pronto
para as curvas e contra curvas que a vida lhe reserva. Descansem as viúvas, as
divorciadas e as solteiras, que o tempo
tornou casadas com a virgindade, que o “popó”
não se esquecerá delas e regressará muito em breve cheio de pujança física e
pronto para o amor. Um pouco com a voz arrastada, lá me foi dizendo que tem
muitas saudades das suas meninas e até aceitava um raminho de flores de uma ou
outra mais afoita pela nostalgia.
Segundo o seu grande amigo e protetor Bruno
Morais, “o Carlitos, apesar dos seus 68
anos, está a recobrar muito bem. Ele sempre teve um problema com a aorta e há
cerca de um mês sentiu-se mal e foi internado nos HUC. Agora está a recuperar
na clínica Fernão Mendes Pinto. Dentro de mais três ou quatro semanas, quando
tiver alta, vamos tê-lo novamente entre nós.”
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