Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.
Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS, para além de "COGITANDO SOBRE...", na rubrica "NÓS POR CÁ" leia "DECISÕES CAMARÁRIAS ANACRÓNICAS". Na rubrica "OLHAR PARA SUL..." deixo também os textos "A CARTA" e "NÃO MATEM A FALECIDA".
COGITANDO SOBRE…
Num convite que muito me honra, fui desafiado
a colaborar n’O Campeão com uma
página semanal. Suponho, a primeira interrogação que o leitor fará é que mal
terá feito à administração do jornal para merecer levar comigo desta forma
continuada. A segunda, embora interesse pouco, é saber quem é o escriba. Se na
primeira não me posso pronunciar, na seguinte devo apresentar-me. Como atividade
profissional principal, sou comerciante na Baixa da cidade. Como ocupação
secundária escrevo sem ser escritor. No mesmo modelo deste agora encetado,
colaboro com O Despertar há cerca de
três anos. Como todos os homens têm sempre um “vício”, creio, o meu é garatujar. Em metáfora, sou uma espécie de
ladrilhador feito pelo tempo e que pela sua experiência empírica, mosaico a
mosaico, compõe os painéis da sua vida passada, presente e futura. Nesta com a
prosápia de se julgar presciente. Portanto, do mesmo modo ou parecido, sou um
fraseador. Um contador de histórias do homem da rua. Com muito gosto por me
sentir útil, uma espécie de muro das lamentações na zona onde estou inserido.
Através da junção das palavras que me são ditas, torno públicas as suas
aflições, contentamentos e sonhos. Por sentir que estou a fazer feliz alguém,
nem que seja por um dia, sinto-me muito bem. Escrevo por mim mas sempre
direcionado para o outro.
Como se vê, não sou jornalista. Ninguém espere
que seja independente. Sério sim, mas parcial! As minhas crónicas serão sempre
de influência e tentando atingir um objectivo –que é o de sensibilizar o poder
decisório para alguém ou grupo em particular ou, no geral, pelo bem comum. Sem
partido político, ou ideologia de esquerda ou direita, sou liberal por
convicção, no verdadeiro sentido de respeitar a idiossincrasia, a forma de ser,
de cada um. Mesmo na dificuldade em conseguir, faço tudo para ser credível e honesto.
Sou um colecionador de sonhos desfeitos. Sem me alongar, já tentei realizar
muitos mas, como se o destino me colocasse à prova no sofrimento e estando
embrenhado na angústia poder falar dele, ficaram pelo caminho. Como os governos
do futuro, ninguém espere de mim nada de novo. Sou mais do mesmo. Ainda que de
forma diferente, pelo amadorismo implícito, talvez seja mais apaixonado na
descrição.
Em resumo, até me tornar
intragável, espero que me aturem um tempo. Muito obrigado pela oportunidade.
NÓS POR CÁ...
DECISÕES CAMARÁRIAS ANACRÓNICAS
O Diário de Coimbra (DC), de 4 do corrente, referindo
Paulo Dinis, presidente da ACMC, Associação do Comércio dos Mercados de
Coimbra, noticiava “voltou a lamentar o
facto de, pela primeira vez na vida da associação, ter sido necessário pagar à
Câmara Municipal de Coimbra uma taxa de 10 euros pela ocupação do espaço
público onde se realizou a festa” -fazendo alusão à “Festa da Febra”, uma iniciativa executada no dia anterior para
tentar sensibilizar e levar novos clientes ao Mercado Dom Pedro V. Continuando
a citar Dinis no DC, “O presidente da
ACMC lembrou que esta associação está “a trabalhar em prol de um mercado que
pertence ao município”. A ACMC recebe um subsídio anual da Câmara, no valor de
2.500 euros, para as atividades, pelo que não percebe a falta de isenção da
taxa de ocupação.”
Nas últimas semanas a fiscalização camarária
andou a atormentar os comerciantes das Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, que
detinham vasos com flores nas suas entradas, para a obrigação de tirarem
licença de ocupação de espaço público. As importâncias em causa oscilam entre
10 euros para a entrada do processo e mais 2,5 euros por cada recetáculo
floral. Ou seja, falamos de valores na ordem de menos de 20 euros por lojista.
O resultado desta ação ridícula foi que, contabilizando apenas estas artérias e
num universo de cerca de três dezenas, apenas dois profissionais estabelecidos
aceitaram pagar e que todos os outros retiraram os seus contributos para o
embelezamento público. Não é preciso ser estadista ou economista para se ver o
que ganhou a Baixa com esta medida avulsa, sem rasgo político, muito perto do “vale tudo”, da pouca-vergonha pela
insensibilidade social, do saque miserável aos pequenos comerciantes que,
diariamente, fazendo das tripas coração, se esfalfam para aguentar e conseguir
sobreviver neste Estado de confisco, onde cada entidade, chamando a si o
direito de sugar, aperta até ao estertor final.
Dá impressão que voltámos à Idade Média, ao
tempo do senhor feudal. Este senhor feudal
compilava e aplicava as suas leis nas suas unidades territoriais. Em completo
domínio, enquanto dono dos meios de produção e da terra, oferecidas pelo rei, o
feudo, sem investimento, cobrava tributos aos seus servos quer pelo uso quer
pela simples passagem e atravessamento dos solos. Para lembrar, esta sociedade
era composta por três classes: o Clero, a Nobreza e o Servo. Ficou célebre a
frase do bispo Adalberon de Laon: “Nesta
sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham.”
Terá o executivo municipal alguma noção do
estado financeiro em que maioritariamente se encontram os profissionais da
compra e venda na Baixa da cidade? É óbvio que não tem –por que não quer ter.
Não lhe interessa saber. É um assunto de servos, de servidão humana. É triste
termos votado em gente assim! Enfim…
A CARTA
Na semana passada, um professor de economia do
Instituto Superior de Gestão, em Lisboa, que dá pelo nome de Carlos Paz, com o
título “Carta aberta a um personagem
menor”, escreveu uma longa missiva que publicou no blogue “As minhas leituras” e na sua página do
Facebook.
Para começar no título, o “personagem menor” que refere é o
Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Logo a entrar no primeiro
parágrafo do texto somos surpreendidos por três adjetivos ofensivos ao mais alto
magistrado da Nação que, para não dar publicidade e estar a embarcar na mesma
jangada de pedregulhos, não vou repetir aqui. Ora, retirando os impropérios, o
que este senhor professor sustenta no artigo de opinião muito bem fundamentado
é mentira? Não, não é! Tudo o que defende ali eu assinaria por baixo. Então,
perguntará o leitor, onde quero chegar com este “patuá”? Já lá vou. Dê-me tempo, se faz favor.
Numa primeira questão, recomeço por dizer,
portanto, que concordo com a substância mas não com a forma. Como ressalva,
votei no atual Chefe de Estado no primeiro mandato. Como estou descontente com
a sua magistratura de influência, se eventualmente pudesse voltar a ser
candidato, não veria mais o meu voto. Porém, entendo que a democracia num
estado de Direito é um jogo com um conjunto de regras que são para cumprir por
todos os cidadãos. Quem perde o seu candidato votado, para além de aguardar
mais quatro anos –no caso das eleições legislativas- ou cinco -se for para a
presidência da República-, está obrigado a aceitar o que a maioria dos
eleitores decidiu. E por isso, mesmo não estando satisfeitos com o vencedor,
devemos respeitar sua a preferência. Por discordar não vamos insultar
gratuitamente este ou aquele eleito. A liberdade de expressão tem limites
legais, sabemos, mas quando perdemos a noção das suas fronteiras
transformamo-nos em agressores vulgares e perdemos completamente a razão. Poderemos
dizer tudo sem cair na boçalidade, na ordinarice. Além de mais, pela forma injuriosa,
desabrida e de ameaça, somos passíveis de ser demandados pelo visado –que aliás,
no caso em apreço, está salvaguardado no Código Penal Português, no artigo 328.
Espero, sinceramente, que Cavaco Silva, seguindo o mesmo procedimento de junho
de 2013 quando em Elvas foi pretensamente insultado por um cidadão comum, mais
uma vez venha defender a sua honra. Se tal não acontecer, somos levados a
acreditar que para o Presidente o estatuto pesa na decisão de avançar ou não
para o Ministério Público. Salienta-se que a ofensa e agressão aos mais altos
representantes do regime já vêm desde 1910. Quero dizer, por conseguinte, que,
embora estando salvaguardado pela lei, a meu ver não é admissível este tipo de
trato a alguém que ocupe um cargo de relevância no Estado –e mais ainda
provindo de um professor, que tem responsabilidade acrescida na formação de
adultos.
A segunda questão, e que me causa algum
prurido, é o facto de cerca de dois milhares de pessoas terem colocado no
Facebook o tradicional “gosto”, quase
três mil terem feito partilhas do texto e largas dezenas, tomando o escrito
como seu, sustentaram tudo. Poucos foram os que defenderam o direito à
dignidade do cargo do ocupante do Palácio de Belém. Para piorar, acusando de “barriga cheia”, enxovalharam os
discordantes com mimos desde bem
instalados até fascistas. A moral
e a ética estão a caminhar para onde? Será património esclerosado de Velhos do Restelo?
NÃO MATEM A FALECIDA
Esta semana mais uma mulher morreu às mãos do
seu companheiro, de cerca de sessenta anos. Tal como muitos outros, este
homicídio foi seguido de suicídio do assassino.
O que está acontecer à geração de homens
nascidos nas décadas de 1950, 60 e 70? O estudo e diagnóstico já foram feitos
até à exaustão. Segundo parece, por parte do autor, predominam os fatores da
baixa autoestima, o ciúme, a obsessão e a posse. Por já tanto ter sido dito e
escrito, não vou continuar a bater no ferro molhado. Na qualidade de mais de
meio-século e a sentir na carne um problema que muitos daqueles sentiram, que é
o partir uma família a meio, dividir os bens por dois o que aparentemente, pelo
sonho e sacrifício na sua obtenção, era indivisível, julgo-me no direito e na
obrigação de, ainda que paternalista, escrever umas frases simples: não molestemos
nem matemos a companheira de uma vida! Respeitemos o falecimento de um amor que
morreu. Façamos o luto com coragem na dor que toca os dois. Honremos as
memórias, o lado bom que a vida em comum nos deu. Os filhos alguma vez
perdoarão um matricida? No nosso egoísmo, pensemos neles. Uma separação e a
divisão do património não são o fim de tudo. Apesar de já um pouco velhos, há
sempre alguém disposto a recomeçar tudo de novo. Façam como eu. Embora triste,
aceitando a inevitabilidade do destino, estou bem!
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