segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A CARTA

(Imagem da Web)




Na semana passada, um professor de economia do Instituto Superior de Gestão, em Lisboa, que dá pelo nome de Carlos Paz, com o título “Carta aberta a um personagem menor”, escreveu uma longa missiva que publicou no blogue “As minhas leituras” e na sua página do Facebook.
Para começar no título, o “personagem menor” que refere é o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Logo a entrar no primeiro parágrafo do texto somos surpreendidos por três adjetivos ofensivos ao mais alto magistrado da Nação que, para não dar publicidade e estar a embarcar na mesma jangada de pedregulhos, não vou repetir aqui. Ora, retirando os impropérios, o que este senhor professor sustenta no artigo de opinião muito bem fundamentado é mentira? Não, não é! Tudo o que defende ali eu assinaria por baixo. Então, perguntará o leitor, onde quero chegar com este “patuá”? Já lá vou. Dê-me tempo, se faz favor.
Numa primeira questão, recomeço por dizer, portanto, que concordo com a substância mas não com a forma. Como ressalva, votei no actual Chefe de Estado no primeiro mandato. Como estou descontente com a sua magistratura de influência, se eventualmente pudesse voltar a ser candidato, não veria mais o meu voto. Porém, entendo que a democracia num estado de Direito é um jogo com um conjunto de regras que são para cumprir por todos os cidadãos. Quem perde o seu candidato votado, para além de aguardar mais quatro anos –no caso das eleições legislativas- ou cinco -se for para a presidência da República-, está obrigado a aceitar o que a maioria dos eleitores decidiu. E por isso, mesmo não estando satisfeitos com o vencedor, devemos respeitar a sua preferência. Por discordar não vamos insultar gratuitamente este ou aquele eleito. A liberdade de expressão tem limites legais, sabemos, mas quando perdemos a noção das suas fronteiras transformamo-nos em agressores vulgares e perdemos completamente a razão. Poderemos dizer tudo sem cair na boçalidade, na ordinarice. Além de mais, pela forma injuriosa, desabrida e de ameaça, somos passíveis de ser demandados pelo visado –que aliás, no caso em apreço, está salvaguardado no Código Penal Português, no artigo 328. Espero, sinceramente, que Cavaco Silva, seguindo o mesmo procedimento de junho de 2013 quando em Elvas foi pretensamente insultado por um cidadão comum, mais uma vez venha defender a sua honra. Se tal não acontecer, somos levados a acreditar que para o Presidente o estatuto pesa na decisão de avançar ou não para o Ministério Público. Salienta-se que a ofensa e agressão aos mais altos representantes do regime já vêm desde 1910. Quero dizer, por conseguinte, que, embora estando salvaguardado pela lei, a meu ver não é admissível este tipo de trato a alguém que ocupe um cargo de relevância no Estado –e mais ainda provindo de um professor, que tem responsabilidade acrescida na formação de adultos.
A segunda questão, e que me causa algum prurido, é o facto de cerca de dois milhares de pessoas terem colocado no Facebook o tradicional “gosto”, quase três mil terem feito partilhas do texto e largas dezenas, tomando o escrito como seu, sustentaram tudo. Poucos foram os que defenderam o direito à dignidade do cargo do ocupante do Palácio de Belém. Para piorar, acusando de “barriga cheia”, enxovalharam os discordantes com mimos desde bem instalados até fascistas. A moral e a ética estão a caminhar para onde? Será património esclerosado de Velhos do Restelo?


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