LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Para além do texto "REFLEXÃO: A CONSPIRAÇÃO", deixo também as crónicas "BAIXA: UMA OPORTUNIDADE PERDIDA"; "ERGUE-TE DÁ UMA MÃO NESTE NATAL"; e "UMA VIRGEM DE LUZ NA RUA DO POETA MORTO".
REFLEXÃO: A CONSPIRAÇÃO
O país, nos últimos dias, sofreu dois abalos
telúricos na escala de Richter –como se sabe, é o modo de quantificar e
atribuir um número à energia libertada num sismo. Se o primeiro, constituído
pela detenção de vários quadros de topo do Estado por corrupção, andou numa
magnitude de grau 7, considerado médio, embora causasse apreensão não trouxesse
pânico, o segundo terramoto, a retenção de José Sócrates, na mesma escala de
10, ocorrido na passada sexta-feira –já considerada de negra pelos Socialistas- está a revolver a Nação.
Na primeira avançada sobre a prisão de altas
chefias, presumivelmente por serem funcionários e não políticos, entre eles o
presidente do Instituto de Registos e Notariado (IRN) e o diretor do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF), como se fosse um ato normal de investigação,
ninguém questionou ou colocou em causa a legitimidade da justiça e a sua
consequência não abalou a segurança nacional. Já a segunda investida, a
detenção do ex-Primeiro Ministro José Sócrates, está a dividir o retângulo. As
teses de conspiração, umas com Miguel Macedo, o caído em combate ministro da
Administração Interna, e a cidade de Braga por um canudo, entre outras, estão
aí à mão de semear nas redes sociais. Poucos são os que estão preocupados com a
nua e crua verdade. Esta passou a ser uma mera convicção ao sabor da ideologia
de cada um. A sua reação de massas é de grupo religioso. Como prosélitos, como
seguidores cegos e fanáticos, estão apenas inquietados com a prisão do seu
líder espiritual. Afinal, interrogo eu, que sou um bocado parvo: queremos ou
não uma outra forma responsável de fazer política?
BAIXA: UMA OPORTUNIDADE PERDIDA
Nos próximos dias 27 e 28 vai decorrer no
Centro Histórico a conferência sobre o mote “A BAIXA NO CENTRO DA CIDADE: TURISMO PELO PATRIMÓNIO E(M) SEGURANÇA”.
É uma iniciativa conjunta da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), da Agência para
a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) e da Polícia de Segurança Pública (PSP).
É um evento abrangido pelo programa “Mais
Centro”, co-financiado pelo QREN,
Quadro de Referência Estratégica Nacional.
A primeira jornada, quinta-feira 27, no Salão
Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, começa pelas 9h00 com o “acolhimento” e seguido da entrega de um
prémio. Pelas 11h00 o primeiro painel temático “Estratégias para a dinamização e promoção dos centros históricos” e
seguido de debate. Na parte da tarde, pelas 14h30, inicia-se o segundo tema
para discussão “Questões de segurança nos
Centros históricos” e com o sucessivo debate. O terceiro assunto, anunciado
para as 16h30, é “Centros históricos,
reabilitação urbana e benefícios fiscais” com debate na subsequência pelas
17h30. A sessão de encerramento será pelas 18h00, com três palestrantes, e que,
certamente chegará até às 19h00.
A segunda etapa, sexta-feira 28, no Edifício
chiado, na Rua Ferreira Borges, inicia-se pelas 9h30 com vários “workshop’s”, reunião de várias pessoas
interessadas num determinado assunto. O primeiro será “A exposição do produto como fator de atração”. O segundo, pelas
10h15, será “Medidas de Segurança”. O
terceiro, pelas 11h30, será “Boas
práticas no sector do turismo na componente digital”. E a quarta oficina será “Boas práticas para o conhecimento do património”.
Pelo anunciado, pela riqueza dos temas para
discussão, estão de parabéns os promotores, a CMC, a APBC e a PSP.
MAS, Ó SENHOR?! NESTE HORÁRIO, A QUEM SERVE ISTO?
Se tivesse ficado pelo ponto final e parágrafo,
porque seria apenas uma notícia, estas três entidades até me batiam palmas de
contentes. Acontece que eu não sou jornalista, sou fazedor de opinião,
treinador de bancada, como vulgarmente se diz. Sendo assim, indo muito mais
para além do anúncio do evento, começo logo por partir a louça toda com
interrogações: tendo em conta que ocupa completamente um dia e meio, a quem se
dirige esta convenção ou se quiserem chamar-lhe conferência? Aos mesmos do
costume? Àqueles que, de fora, têm uma ideia “formatada”, “plastificada”,
da vivência e dos problemas da Baixa? Os organizadores deste importante
–sublinho importante- congresso, por acaso, só mesmo por acaso, pensaram que
estes trabalhos deveriam ser participados pelos pequenos comerciantes e
industriais de hotelaria, residentes e moradores? Claro que não se preocuparam
com o sucesso deste acontecimento. Em juízo de valor, estas ocorrências
importantíssimas para se analisar o situacionismo das urbes antigas e visar o
seu desenvolvimento não têm por objecto a discussão pública mas antes um falar
para dentro, um cumprir de calendário. Em metáfora, fazer isto neste horário, é
o mesmo que tentar pregar para surdos. É mandar dinheiro fora! É perder uma
oportunidade vital. Sabendo os organizadores que a pequena loja do Centro
Histórico está a funcionar apenas com uma pessoa, realizar um evento destes à
quinta e sexta-feira é o mesmo que estabelecer uma rede invisível para certos
extractos sociais. Foi intencional? Não acredito! Creio mais na idiotice que,
como pandemia, infelizmente, grassa por aí. Uma pena! Continuarmos a estourar
verbas em conversas para “boi dormir”!
ERGUE-TE DÁ UMA MÃO NESTE NATAL
O projeto “ERGUE-TE”,
um movimento que tem por missão ajudar mulheres em situação de risco,
desestruturadas da família e em contexto “prostitucional”, que além de defender
a sua dignidade e fomentar uma nova filosofia de vida, gratuitamente, presta
apoio social, psicológico e jurídico a quem o solicitar.
Com sede no Edifício Azul, no Largo das
Olarias, junto à Loja do Cidadão, desde a semana passada e até 16 de Dezembro,
está a realizar uma venda de Natal no rés-do-chão do mesmo edifício onde está
implantado. A funcionar entre as 10 da manhã e as 19h00, um sorriso espera quem
transpõe a porta. Quer pela causa nobre que desencadeia fenómenos de partilha e
solidariedade, quer por serem artigos muito baratinhos, a verdade é que a
procura está a exceder a oferta. Até parece que a austeridade não existe para
quem entra no salão de exposição. Mesmo com a crise que se vive é interessante
verificar a afluência em busca de uma prendinha. Tentar justificar esta atração
é o mesmo que acreditar que quem compra um pequeno artigo, por um ou dois
euros, misturando egoísmo e alteridade num forte abraço, sente que está a colaborar
para uma causa humanitária de largo espectro social.
Aproveitei a presença de uma senhora de
meia-idade que estava a pagar. Sob anonimato, aceitou dar-me umas palavras.
Pelas roupas simples, notava-se, era de origem humilde. Por cerca de 10 euros,
levava para casa uma sacada de artigos, uns manufaturados pelos imensos
voluntários, outros doados por gente que quer participar. Coloquei-lhe a
seguinte questão: o que a levou a vir à loja da “ERGUE-TE” e adquirir esta
mercadoria?
“Todos os anos venho cá e, embora tenha dificuldades, deixo o meu contributo.
Sei que este projeto faz um bom trabalho de interajuda ao próximo. Uma pessoa
sente-se bem a colaborar. O bem é um sentimento que nos transcende e se propaga
até ao infinito. O bem traz o bem. Entende? Conheço uma rapariga que, há vários
anos, andava aí na rua a prostituir-se. Começou a frequentar um dos vários
cursos desta instituição de solidariedade, reconquistou a dignidade, e agora
luta com uma força incrível. Só gostava que visse o brilho novo e intenso dos
seus olhos!”
UMA VIRGEM DE LUZ NA RUA DO POETA MORTO
Há cerca de um mês, abriu a “Corina Sapataria”, na Rua Adelino Veiga.
Sobre gerência de Ana Brito e apoio do marido Luís Brito, proprietários de um
estabelecimento congénere, a sapataria “Low
Cost”, na Rua Sargento Mor, esta nova sapataria promete dar que falar na
nobre arte de aconchegar os pés. Tal como a casa-mãe, na “Corina Sapataria” há
uma preocupação: ter qualidade a baixo preço. Segundo Ana Brito, “sinceramente, estamos muito satisfeitos. No
princípio, confesso, estávamos com muito medo. Mas depois, entre o avançarmos
ou estarmos quietos, pensámos: vamos em frente. Se não der, perdemos apenas o
valor de uns meses de renda, já que o artigo existente volta para a nossa
primeira loja. E valeu a pena! O aforismo de que “quem não arrisca não petisca”
aplica-se completamente. Felizmente, estamos a petiscar!”
Há um pormenor muito interessante que ressalta
na paisagem: quem passou anteriormente na Rua Adelino Veiga, quando esta antiga
loja, que pertenceu à desaparecida Fetal, esteve encerrada, mais que certo,
apercebeu-se do quanto contribuía para o apagamento da artéria do poeta morto.
Agora, com este novo estabelecimento aberto, que dá pelo nome de “Corina” –que
significa “virgem”, “imaculada”-, parece que uma nova luminosidade desceu
naquele local. Não há dúvida de que as lojas comerciais, com a sua luz, cor e
movimento, são o espírito que impede que as vias pedonais, outrora tão cheias
de vida, caiam num silêncio sepulcral onde o fenecimento e a solidão são uma
constante. É uma pena que quem manda não veja, não sinta a sensibilidade, e
tenha de ser a iniciativa privada, sem apoio de espécie alguma, a desencadear a
revitalização das cidades.
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