Depois de uma importante transformação de
projecto, está pronto a ser inaugurado o gigantesco cinzeiro na Praça 8 de
Maio. Numa altura em que o fumador é tratado abaixo de rafeiro pelos governos
nacionais e transnacionais –refiro também as directivas emanadas do Parlamento
Europeu, em Bruxelas- é de louvar esta iniciativa de Manuel Machado, Presidente
da Câmara Municipal de Coimbra. Só um homem especial, singular, de grande
sensibilidade social, poderia levar a cabo uma acção de tão largo espectro
comunitário. Espero, sinceramente, que o seu bom exemplo transponha as
fronteiras portuguesas e comova todos os povos vizinhos. Lembro que a classe dos
fumantes é uma das mais importantes na contribuição de impostos para o Orçamento.
Naturalmente que tenho de ir para a rua saber
o que pensa o munícipe, o cidadão comum. Comecei com um comerciante da zona,
que, como já é habitual, pediu o anonimato, “olhe, isto é mais uma parvoíce! Numa altura em que se procura por todos
os meios encetar uma luta contra o tabagismo, fará algum sentido montar aqui um
cinzeiro? Espere para ver. Dentro de dois dias passe cá! Olhe ali –e aponta uma
prata a boiar na água. Hoje é o primeiro dia e já está a começar! Isto vai ser
um caixote do lixo! Diga-me, sendo a Igreja de Santa Cruz Panteão Nacional não
faria muito mais sentido colocar aqui uma estátua alusiva a D. Afonso Henriques?”
Precisava de uma outra declaração, agora de um
cidadão calcorreante de becos e travessas e calçadas esburacadas. Por acaso,
encontrei o António Simões da Silva, mais conhecido por “Popeye”, e pedi-lhe umas palavras sobre a nova função alegórica ao
cigarro. “Estou muito satisfeito. Uma
obra de grande significado. É certo que é mais uma rotunda, mas isso até faz
parte do pensamento arquitectónico e político de Machado. Ele é mestre na sua
criação.”
Já agora, e por último, por entender que esta
alteração pode implicar custos para os trabalhadores romenos e que já há muito
tempo que utilizam o rebordo como assento para descansar das longas fadigas
diárias, fui ouvir o Costica, um natural da região do Báltico. Num português
arrastado, mais que certo pelo cansaço da faina, disse o seguinte: “Gosto disto! Está giro! Ainda ontem à noite,
lá em casa, estive a falar com a minha patroa e os meus filhos sobre esta
belíssima obra de arte! Tive de manter os miúdos à rédea curta. Caso contrário, já
hoje queriam vir tomar banho para inaugurar a nova piscina!”
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