sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

EM MEMÓRIA DO JORGE LEMOS, QUE NOS DEIXOU


(Foto do Diário de Coimbra)


Embora o conhecesse há muitos anos, foi talvez há cerca de cinco anos que nos começámos a relacionar mais. O Jorge Lemos adorava selos e tudo o que indirectamente tivesse a ver com a correspondência postal e, na companhia de um amigo comum, começou a frequentar a minha loja. Na maioria das vezes passava para trocarmos umas impressões sobre tudo e sobre nada de especial.
O Jorge era um “menino” de uma timidez contida mas extemporânea quando necessário. De uma graça imanente, que jorrava do seu interior, era senhor de uma gentileza incomensurável e de uma doçura indescritível. O seu sorriso, a meio rir, como se tivesse medo de ofender o interlocutor, era de uma pureza límpida a fazer lembrar as águas puras e cristalinas que descem a colina vindas do cimo do monte. Gostava dele! Muito mesmo! Foi daquelas pessoas que me deixou marca de uma igualdade sempre presente no trato e que adorei conhecer. O Jorge, num contraposição absoluta num único ser, era uma pessoa de pés no chão e cabeça na Lua –no sentido de que, tendo noção de que o todo o homem é um ser imperfeito, cheio de defeitos, apesar da sua sempre presente racionalidade, ao mesmo tempo, numa generosidade sem limites e numa dogmática transcendental, acreditava na bondade da pessoa e na continuada caminhada da humanidade em busca da perfeição alcançável. Sem manias de superioridade, era a assertividade em pessoa. Ele tinha perfeita noção de que o respeito deve nascer de cima para baixo, sem ser imposto pelo estatuto, conquistado de forma natural e aceite pelo outro como uma graça em tributo por estarmos vivos e, em inevitável cadeia, nos entrelaçarmos uns nos outros.
Várias vezes falámos da sua doença e nunca vi nele a derrota de se sentir vencido pelo monstro que minava o seu corpo mas jamais a sua alma. Ainda há pouco mais de uma semana o encontrei na Rua da Sofia. Muito magro, de aspecto frágil e combalido, lá me foi dizendo que tinha estado internado no hospital e saíra há pouco. Quando lhe mandei aquelas frases tolas e bacocas que damos sempre a toda a gente que sabemos estar muito doente respondeu que estava a recuperar. Que tudo iria correr bem.
Foi com um misto de surpresa e dor que tomei contacto com a infeliz notícia. O Jorge Lemos, com apenas 61 anos, partiu precocemente. Sem particularizar a minha amizade, tenho a certeza, todos perdemos um amigo. Uma boa pessoa.
Ao Partido Socialista, à Câmara Municipal, onde, na década de 1990, desempenhou o cargo de vereador e posteriormente, já neste milénio, o lugar de deputado municipal, à Associação de Futebol de Coimbra, onde era vice-presidente, à Casa do Povo de São Marinho do Bispo, onde exercia o lugar de presidente, e essencialmente à sua família os nossos –em nome do comércio tradicional da cidade, se posso escrever assim- sentidos e amargurados pêsames.
As ruas estreitas da Baixa de Coimbra e as suas pedras da calçada, tantas vezes pisadas diariamente pelo Jorge, sentirão a sua falta e irão também chorar o seu desaparecimento. Até um dia, Jorge Lemos. Foi um prazer conhecê-lo!

1 comentário:

Super-febras disse...

Amigo:
É verdade, não somos mais que umas velas, de cera e pavio aceso...ao vento.
Para a família e para si, nesta perda de um bom amigo, ofereço os meus sentimentos de pesar.

Um Santo dia:
Álvaro José da Silva Pratas Leitao