quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

NAMORAR A VIDA

(Imagem da Web)



Na próxima sexta-feira, 14 do corrente, comemora-se o Dia de Namorados. Num tempo em que tanto se fala de amizade e de amor parece quase paradoxal ter de haver uma data para nos lembrar de que é preciso praticar a afeição e o dar-se ao outro. Com a proliferação das redes sociais banalizou-se completamente a amizade –do latim amicus, amigo, cujo étimo teria derivado de amore- e, quem sabe por arrastamento histórico, aconteceu a mesma futilidade ao afecto genuíno. Hoje, falar em amor tornou-se uma vulgaridade. O que deveria ser um sentimento de convulsão pura, leve e de sensação inconsciente, onde ressaltava a afeição e o altruísmo como chaves universais do mundo relacional, passou a ser uma mera alavanca sem substância com propósito bem definido. O amor petrificou e materializou-se. Transformou-se no meio e fim para chegar à posse. Meio porque através da sua palavra proferida, numa sociedade isolacionista e solitária, individual e vazia, serve de ponte entre o emissor calculista e o receptor ansioso por carinho. Fim porque passou a ser o objecto a querer alcançar sem princípios custe lá o que custar. Depois de conquistada a presa passou a ser troféu do conquistador. Talvez esta minha teoria explique as 38 mortes de mulheres, no ano passado, por violência doméstica –ou foi por amor?
É preciso libertar o amor. Dar-lhe a carta de alforria, talvez perdida no último meio-século. O bem-querer é um fluido invisível, a tal chama que arde sem se ver, como nos deixou Camões em testamento, ou lição aos vindouros. Neste dia internacional do namoro ofereçamos uma flor a quem estiver mais próximo do nosso coração e aos outros, a quem passa por nós, um sorriso de simpatia. O amor verdadeiro agradece.

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