Desde há cerca de dois anos que, todas as quintas e
sextas-feiras, dando mais vida ao Centro Histórico se faz ouvir pelas ruas da
Baixa. À quinta o seu grito inconfundível ecoa pelos becos e ruelas: “olha o Campeão! Traz as últimas frescas e
boas!”. No antepenúltimo dia da semana, à sexta, o seu pregão é
inconfundível: “Olha O Despertar! Lê-se há
um século sem nunca cansar!”
Quem é este homem, de educação
esmerada e uma gentileza notada, que invadiu o nosso espaço urbano trazendo à
nossa memória uma profissão que se julgava extinta? Posso adiantar que este “self made man”, que se fez sozinho nos
caminhos da vida e aprendeu os sete
ofícios que hão-de garantir a sua sustentabilidade, dá pelo nome de Vitor Costa.
Mas quem nos vai contar um pouco da sua história é ele mesmo. Vamos lá, Vitor!
Despeja aí o saco:
“Nasci em Lisboa, no Intendente, decorria o
ano de 1962. Na Capital fiz a escola primária, hoje básica, até que quando conclui
o ensino os meus pais emigraram para a Alemanha e fiquei com a minha avó, que
era natural de Malhada do Rei, em Pampilhosa da Serra. Em 1975, pela sua mão,
fomos viver para esta bonita terra do Pinhal Interior Norte. Como sempre tive
queda para as artes plásticas, enquanto estive em Lisboa, desde muito cedo,
frequentei a antiga Escola do Ultramar, no Campo Grande, e aprendi a misturar
as tintas na paleta. Em 1986, com 24 anos, peguei na minha mala de cartão e fui
à procura de um novo mundo, no outro lado do globo, na Austrália. Durante quase
uma década, por lá, fui pintor da construção civil. Em 1995 regressei a
Portugal e fui viver para a Lousã. Em 1998 fui para a Suíça. Entre motorista e
pintor passei neste país helvético 14 anos. Há dois anos regressei novamente à
terra que deu origem ao Licor Beirão. Desde essa altura que, apesar de estar
sempre ocupado nos meus restauros vários em madeira e cerâmica e a pintar
telas, continuo desempregado –fiz uma grande exposição de pintura no Museu de Pampilhosa
da Serra. Podes crer, conheces-me e sabes que não tenho a mania de que sou
artista, ponho a mão a qualquer coisa. Sou uma pessoa humilde. Com facilidade,
adapto-me a qualquer situação. Preciso é de trabalhar! Pinto casas, muros e o
que aparecer, ou pequenos trabalhos de carocas. Nunca digo que não. Faço parte
de uma geração que não se pode ver inactiva.
Esta minha experiência de ardina, que começou na venda d'O Despertar, está a ser muito
rica. Contacto com todas as classes de pessoas. Sinto-me muito bem a fazer o
que faço. Podes achar que é vaidade mas, sobretudo quando os turistas pedem
para me tirar uma fotografia e para eu assinar o jornal para levarem como
recordação, sinto-me importante. Uma figura típica da Baixa de Coimbra.
Parece-me que sou o único ardina em exercício no país. Segundo me disseram uns
espanhóis há dias, ao que parece, há apenas um a operar em Madrid. Muito
obrigado por deixares que eu seja a notícia dentro da notícia. É giro não é?”
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