(Foto do Diário de Coimbra)
Embora o conhecesse há muitos anos, foi talvez
há cerca de cinco anos que nos começámos a relacionar mais. O Jorge Lemos
adorava selos e tudo o que indirectamente tivesse a ver com a correspondência postal
e, na companhia de um amigo comum, começou a frequentar a minha loja. Na maioria
das vezes passava para trocarmos umas impressões sobre tudo e sobre nada de
especial.
O Jorge era um “menino” de uma timidez contida mas extemporânea quando necessário.
De uma graça imanente, que jorrava do seu interior, era senhor de uma gentileza
incomensurável e de uma doçura indescritível. O seu sorriso, a meio rir, como
se tivesse medo de ofender o interlocutor, era de uma pureza límpida a fazer
lembrar as águas puras e cristalinas que descem a colina vindas do cimo do
monte. Gostava dele! Muito mesmo! Foi daquelas pessoas que me deixou marca de
uma igualdade sempre presente no trato e que adorei conhecer. O Jorge, num
contraposição absoluta num único ser, era uma pessoa de pés no chão e cabeça na Lua –no sentido de que, tendo noção de que
o todo o homem é um ser imperfeito, cheio de defeitos, apesar da sua sempre
presente racionalidade, ao mesmo tempo, numa generosidade sem limites e numa
dogmática transcendental, acreditava na bondade da pessoa e na continuada
caminhada da humanidade em busca da perfeição alcançável. Sem manias de
superioridade, era a assertividade em pessoa. Ele tinha perfeita noção de que o
respeito deve nascer de cima para baixo, sem ser imposto pelo estatuto,
conquistado de forma natural e aceite pelo outro como uma graça em tributo por
estarmos vivos e, em inevitável cadeia, nos entrelaçarmos uns nos outros.
Várias vezes falámos da sua doença e nunca vi
nele a derrota de se sentir vencido pelo monstro que minava o seu corpo mas
jamais a sua alma. Ainda há pouco mais de uma semana o encontrei na Rua da
Sofia. Muito magro, de aspecto frágil e combalido, lá me foi dizendo que tinha
estado internado no hospital e saíra há pouco. Quando lhe mandei aquelas frases
tolas e bacocas que damos sempre a toda a gente que sabemos estar muito doente
respondeu que estava a recuperar. Que tudo iria correr bem.
Foi com um misto de surpresa e
dor que tomei contacto com a infeliz notícia. O Jorge Lemos, com apenas 61
anos, partiu precocemente. Sem particularizar a minha amizade, tenho a certeza,
todos perdemos um amigo. Uma boa pessoa.
Ao Partido Socialista, à Câmara Municipal,
onde, na década de 1990, desempenhou o cargo de vereador e posteriormente, já neste milénio, o
lugar de deputado municipal, à Associação de Futebol de Coimbra, onde era
vice-presidente, à Casa do Povo de São Marinho do Bispo, onde exercia o lugar
de presidente, e essencialmente à sua família os nossos –em nome do comércio
tradicional da cidade, se posso escrever assim- sentidos e amargurados pêsames.
As ruas estreitas da Baixa de Coimbra e as suas pedras da calçada, tantas vezes pisadas diariamente pelo Jorge, sentirão a sua falta e irão também chorar o seu desaparecimento. Até um dia, Jorge Lemos. Foi um prazer conhecê-lo!
As ruas estreitas da Baixa de Coimbra e as suas pedras da calçada, tantas vezes pisadas diariamente pelo Jorge, sentirão a sua falta e irão também chorar o seu desaparecimento. Até um dia, Jorge Lemos. Foi um prazer conhecê-lo!
1 comentário:
Amigo:
É verdade, não somos mais que umas velas, de cera e pavio aceso...ao vento.
Para a família e para si, nesta perda de um bom amigo, ofereço os meus sentimentos de pesar.
Um Santo dia:
Álvaro José da Silva Pratas Leitao
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