sábado, 15 de fevereiro de 2014

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: A LIÇÃO QUE NÃO SE APRENDE" e "NAMORAR A VIDA"e "ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS: O ARDINA"; e "PARABÉNS AO VICTOR".


REFLEXÃO: A LIÇÃO QUE NÃO SE APRENDE

Encerrou a semana passada o café “Mui Chocolate, na Rua da Gala. Abriu portas em final de Agosto do ano transato. Passados cinco meses, Leonor Prazeres, a investidora do negócio, depois de apostar forte em obras, máquinas e decoração, perante o pouco movimento de transeuntes na Baixa, viu-se obrigada a claudicar agora. Quando falei com esta senhora, numa reportagem que fiz para este jornal, era bem patente o seu otimismo: “Estou na meia-idade, naquela altura de balanço existencial em que uma pessoa dá por si a interrogar-se sobre o que fez até agora, o que faz neste momento, e o que quer fazer no futuro. Há quem diga que esta catarse toca todos. O problema será conseguirmos dar resposta. O medo de tomar decisões toma-nos de assalto e condiciona-nos na inação. Eu era secretária de direção numa empresa na cidade há cerca de duas décadas. Estava portanto empregada. Há muitos anos que me deitava embrulhada no sonho de ter um negócio meu e acordava com a mesma pergunta: quando vais ser capaz de ser capaz de dar o salto, Leonor?
Ora, apesar de provavelmente ter conseguido passar o seu café, perante esta evidência, está de ver que este sonho, mais que certo, se tornou num pesadelo de terror, de consequências imprevisíveis. Gostaria de ressalvar que, com este texto, não pretendo de modo nenhum julgar a proprietária do encantador estabelecimento –sem favor estava primoroso e tinha um serviço espetacular. Falhar é humano e só não erra quem nada arrisca como a Dona Leonor, que aproveito para lhe enviar um grande abraço pela coragem que sempre demonstrou. O que gostaria de chamar a atenção pública –e já escrevi imensos textos sobre este assunto- é sobre o modo facilitista, quase de encantamento cego, como qualquer um, sem se informar previamente, julgando que está a fazer bem, o melhor, pode sair afetado, quer no campo psicológico, financeiro –porque sai pior do que entrou- e sobretudo familiar. É urgente alertar –e este trabalho de sensibilização deveria caber por inteiro à Câmara Municipal de Coimbra, sempre que possível, na altura do pedido de informações no Atendimento- que qualquer ator, pouco preparado e mal informado, que entre num filme destes, de enredo mercantil onde a desertificação e a escassez de procura marcam a história, pode ficar ferido para o resto dos seus dias. Repare-se que a renda descrita desta senhora era de 200 euros, o que quer dizer que, contrariamente ao que escrevi anteriormente noutras crónicas, o custo fixo do “aluguer” já não é o principal óbice ao sucesso de um qualquer empreendimento comercial. Tomai muita atenção! A Baixa precisa de novos investidores, de novos negócios como de pão para a boca, mas dispensa as desgraças que possam vir adicionar a outras que por cá estão. Tratemos o insucesso comercial com o mesmo respeito que um combatente mereceu ao lutar por nós e que sucumbiu no campo de batalha. Porém, em nome de uma moral tantas vezes esquecida pelo nosso egoísmo comum, alerte-se e evite-se novas tragédias.


NAMORAR A VIDA

Na próxima sexta-feira, 14 do corrente, comemora-se o Dia de Namorados. Num tempo em que tanto se fala de amizade e de amor parece quase paradoxal ter de haver uma data para nos lembrar de que é preciso praticar a afeição e o dar-se ao outro. Com a proliferação das redes sociais banalizou-se completamente a amizade –do latim amicus, amigo, cujo étimo teria derivado de amore- e, quem sabe por arrastamento histórico, aconteceu a mesma futilidade ao afeto genuíno. Hoje, falar em amor tornou-se uma vulgaridade. O que deveria ser um sentimento de convulsão pura, leve e de sensação inconsciente, onde ressaltava a afeição e o altruísmo como chaves universais do mundo relacional, passou a ser uma mera alavanca sem substância com propósito bem definido. O amor petrificou e materializou-se. Transformou-se no meio e fim para chegar à posse. Meio porque através da sua palavra proferida, numa sociedade isolacionista e solitária, individual e vazia, serve de ponte entre o emissor calculista e o recetor ansioso por carinho. Fim porque passou a ser o objeto a querer alcançar sem princípios custe lá o que custar. Depois de conquistada a presa passou a ser troféu do conquistador. Talvez esta minha teoria explique as 38 mortes de mulheres, no ano passado, por violência doméstica –ou foi por amor?
É preciso libertar o amor. Dar-lhe a carta de alforria, talvez perdida no último meio-século. O bem-querer é um fluido invisível, a tal chama que arde sem se ver, como nos deixou Camões em testamento, ou lição aos vindouros. Neste dia internacional do namoro ofereçamos uma flor a quem estiver mais próximo do nosso coração e aos outros, a quem passa por nós, um sorriso de simpatia. O amor verdadeiro agradece.


ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS: O ARDINA

 Desde há cerca de dois anos que, todas as quintas e sextas-feiras, dando mais vida ao Centro Histórico se faz ouvir pelas ruas da Baixa. À quinta o seu grito inconfundível ecoa pelos becos e ruelas: “olha o Campeão! Traz as últimas frescas e boas!”. No antepenúltimo dia da semana, à sexta, o seu pregão é inconfundível: “Olha O Despertar! Lê-se há um século sem nunca cansar!”
Quem é este homem, de educação esmerada e uma gentileza notada, que invadiu o nosso espaço urbano trazendo à nossa memória uma profissão que se julgava extinta? Posso adiantar que este “self made man”, que se fez sozinho nos caminhos da vida e aprendeu os sete ofícios que hão-de garantir a sua sustentabilidade, dá pelo nome de Vitor Costa. Mas quem nos vai contar um pouco da sua história é ele mesmo. Vamos lá, Vitor! Despeja aí o saco:
“Nasci em Lisboa, no Intendente, decorria o ano de 1962. Na Capital fiz a escola primária, hoje básica, até que quando conclui o ensino os meus pais emigraram para a Alemanha e fiquei com a minha avó, que era natural de Malhada do Rei, em Pampilhosa da Serra. Em 1975, pela sua mão, fomos viver para esta bonita terra do Pinhal Interior Norte. Como sempre tive queda para as artes plásticas, enquanto estive em Lisboa, desde muito cedo, frequentei a antiga Escola do Ultramar, no Campo Grande, e aprendi a misturar as tintas na paleta. Em 1986, com 24 anos, peguei na minha mala de cartão e fui à procura de um novo mundo, no outro lado do globo, na Austrália. Durante quase uma década, por lá, fui pintor da construção civil. Em 1995 regressei a Portugal e fui viver para a Lousã. Em 1998 fui para a Suíça. Entre motorista e pintor passei neste país helvético 14 anos. Há dois anos regressei novamente à terra que deu origem ao Licor Beirão. Desde essa altura que, apesar de estar sempre ocupado nos meus restauros vários em madeira e cerâmica e a pintar telas, continuo desempregado –fiz uma grande exposição de pintura no Museu de Pampilhosa da Serra. Podes crer, conheces-me e sabes que não tenho a mania de que sou artista, ponho a mão a qualquer coisa. Sou uma pessoa humilde. Com facilidade, adapto-me a qualquer situação. Preciso é de trabalhar! Pinto casas, muros e o que aparecer, ou pequenos trabalhos de carocas. Nunca digo que não. Faço parte de uma geração que não se pode ver inativa.
Esta minha experiência de ardina, que começou na venda d’O Despertar, está a ser muito rica. Contacto com todas as classes de pessoas. Sinto-me muito bem a fazer o que faço. Podes achar que é vaidade mas, sobretudo quando os turistas me pedem para tirar uma fotografia e para eu assinar o jornal para levarem como recordação, sinto-me importante. Uma figura típica da Baixa de Coimbra. Parece-me que sou o único ardina em exercício no país. Segundo me disseram uns espanhóis há dias, ao que parece, há apenas um a operar em Madrid. Muito obrigado por deixares que eu seja a notícia dentro da notícia. É giro não é?”


PARABÉNS AO VICTOR

Na semana passada, na Rua das Padeiras ouviu-se um coro afinado a cantar “Parabéns a você”. Tratava-se de uma pequena homenagem dos vizinhos ao Victor Espírito Santo, da Sapataria Pessoa, por ter feito 59 anos -já agora, aproveitando a oportunidade, desejemos todos também parabéns e muitas felicidades ao nosso vizinho e bom amigo. A Clara, a esposa, perante aquela manifestação de carinho de quem lhes quer bem, não disfarçava um sorriso de contentamento em forma de sol primaveril. Pela sua cordialidade e camaradagem, deveria escrever muito mais sobre o Victor Espírito Santo, e que há mais de quatro décadas nos faz companhia nestas ruas estreitas onde os dias de chuva teimam em se alongar neste inverno que se eterniza e nos fragiliza a alma, mas vou ficar somente nas suas curtas frases: “encaro sempre o futuro com esperança. Dou graças a Deus por ter saúde e todos os meus e tão bons amigos. Que hei-de querer mais?”


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