segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

UM COMENTÁRIO RECEBIDO... E UMA RESPOSTA



David Carvalho deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: OS INTERESSEIROS DO METRO":


Gostaria de saber, porque é que a Carris, os STCP dão prejuízo atrás de prejuízo, e ninguém põe em causa a sua existência ou exploração estatal!
Este texto é egoísta e fruto de quem não tem problemas de mobilidade mas também não pensa nos outros.


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RESPOSTA DO EDITOR


Começo por lhe agradecer o ter comentado esta minha crónica, senhor David Carvalho. Tenho de lhe confessar que hesitei em lhe responder, mas depois, voltando a ler a sua missiva, cheguei à conclusão que é uma pessoa de bem e, não tem em mente ofender este (in)significante escriba que dá o corpo às balas por escrever o que pensa, nada o move mais do que simplesmente o sentimento de ter sido muito maltratado pelos governos PS e PSD.
Depois desta pequena ressalva, pelo respeito que me merece, vou então responder-lhe ponto-por ponto. Antes disso, começo por lhe dizer que já escrevo sobre o Metro Ligeiro de Superfície desde Junho de 2007 –creio que este foi o meu primeiro texto a insurgir-me sobre este plano fantasma que nos haverá de consumir o corpo, a alma e quem vier a seguir reencarnado. Mais lá no fundo, no fim deste texto, verá que escrevi muitas crónicas sobre este mesmo assunto. Quero dizer, portanto, que sobre o projecto do metro para Coimbra não mudei agora. Antes de prosseguir, alerto sobre aquilo que você já adivinhou: eu não conto nada; não sei nada! Limito-me a tecer umas opiniões. Não passam de comentários baratos. Mas vamos lá ao que interessa que, creio, você terá mais que fazer. Comecemos:

1 -“Gostaria de saber, porque é que a Carris, os STCP dão prejuízo atrás de prejuízo, e ninguém põe em causa a sua existência ou exploração estatal!”

Começo por lhe dar razão. É verdade o que afirma sobre o prejuízo dos transportes de Lisboa e do Porto –e mais grave e discriminatório para os meios de locomoção das outras cidades: o facto de serem subsidiados pelo Orçamento Geral do Estado.
Passando por cima, sem esquecer este atentado contra a igualdade, tenho para mim que os transportes são um dos pilares fundamentais de um país –tal como, por exemplo, a Saúde, a Educação, a Justiça. E quanto escrevo que são pilares desta Nação, quero dizer que os que dão prejuízo podem, em justaposição de subsidiaridade, ter de ser custeados pelos que dão lucro, ou através dos impostos. Porém, esta medida deve ter em conta, pelo menos, três princípios: o da proporcionalidade –isto é, ter em conta o número de utentes no espaço em que se insere- o da utilidadeou seja, faz falta? Se é necessário deve manter-se, se não deve extinguir-se- e o princípio da racionalidade –neste item deve ter-se em conta sempre os custos da sua manutenção e os custeios que esta extinção acarreta para o futuro das populações, nomeadamente  o esvaziamento do interior. É nesta ponderação difícil entre prós e contras que deve sair a decisão política. O que, a ser assim, pode dar uma discussão, entre o sim e o não, ad aeternum –e nunca mais haver deliberação, como em tantos casos que conhecemos. Também aqui surge a pergunta se será melhor para o país uma decisão ou não decisão –isto é, uma resolução atabalhoada ou o deixar correr para que o executivo que vier a seguir decida, como nos têm habituado. Por conseguinte, uma decisão de acabar com qualquer serviço público de proximidade deve ser objecto de muita ponderação e, como está acontecer, o despacho não deve ser de gabinete e sem falar e negociar com os vários intervenientes.
É claro que, a meu ver, já há muitos anos que os municípios –sem falar somente nos do Porto e  de Lisboa- optaram por transportes de luxo ao invés de se escolher meios simples mas eficazes. Em metáfora, vez de se preferir burros, que comem erva, escolheram-se cavalos lusitanos, que só se alimentam de alfarroba. Quero dizer que em vez de se optar por autocarros humildes, com os bancos forrados a “sumópau” e sem ar condicionado, com um custo de transporte para o passageiro acessível, nas últimas décadas escolheu-se o contrário –e com um utente a pretender pagar cada vez menos porque acha que o Estado deve suportar tudo. Como se fosse pouco, entrou-se na loucura de se construir metros ligeiros de superfície –pagos por todos nós. Para piorar, tendo a zona metropolitana de Lisboa cerca de um quinto da população portuguesa e o concelho do Porto 237 mil pessoas (segundo o último censos de 2011), Coimbra, com uma população na cidade de cerca de 100 mil habitantes, também se acha no direito de ter o seu metro. Neste momento, cá na nossa parvónia, ninguém quer saber que os grandes centros urbanos continuam a perder população –o Porto, entre 2001 e 2011, passou de 263,131 para 237,559 e deixou escapar quase 10 por cento dos seus residentes. Coimbra, também neste período, perdeu mais de 5000 habitantes. Se se somar o crescimento do desemprego nos três últimos anos e ao facto destes centros urbanos terem uma ocupação muito envelhecida, com tendência para um desaparecimento acelerado, facilmente se chega a uma conclusão de que a escolha por meios mais ligeiros mas muito mais vultuosos não será virtuosa.

2 –“ Este texto é egoísta e fruto de quem não tem problemas de mobilidade mas também não pensa nos outros.”

Ora bem se é egoísta –que admito que o seja- não foi essa a minha intenção ao escrevê-lo. Tive a pretensão de, juntando extractos da imprensa, mostrar factos. Há uma coisa que talvez desconheça, em 2010 quando o Movimento Cívico de Lousã e Miranda aderiu e passou a ter uma página no Facebook –daí a minha confusão em pensar que tinha sido criado nesta altura- passei também a integrar o movimento –não só por a minha mulher e a sua família directa serem da zona de Miranda do Corvo mas também por entender que a reposição da linha era um imperativo de cidadania e uma luta que deveria envolver todos os conimbricenses. Para além de ter composto duas canções a favor desta luta justa, com custos grandes para a minha vida profissional, fui a várias manifestações de rua –e, em solidariedade, deixei de votar nas eleições presidenciais. Acto de sufrágio que, até esta altura, nunca tinha deixado de participar.
Antes de prosseguir, gostava de enaltecer o desempenho nesta causa do médico Jaime Ramos. Sejam lá quais forem os seus interesses, pessoais ou patrimoniais, são legítimos –escrevo isto com total sinceridade. Nada me move contra este senhor, natural e residente em Miranda do Corvo. Se as suas conveniências patrimoniais se harmonizam com as vantagens das populações –e não tenho dúvida que assim é- nada há a apontar. Aliás, numa colectividade profundamente egoísta, é de sobrevalorizar. Se os seus interesses são pessoais, no sentido de, através do protagonismo, retirar dividendos para outros voos como já se escreveu tanto, também não vejo que daí venha mal ao mundo e também são compreensíveis e genuínos.
Ora, chegados aqui, estará o senhor a interrogar: então por que razão não continuou a enfileirar as manifestações? Eu respondo a esta questão por mim formulada. Cedo me comecei a aperceber do forte carisma de Jaime Ramos –o que estou a escrever pretende ser apenas uma constatação e jamais um encómio barato ao citado. Sem me querer armar, e muito menos querer ofender alguém, depressa dei por mim a acreditar que se estava perante um caso de estudo. Isto é, muitas das várias centenas de pessoas que engrossavam as manifestações iam para agradar ao líder e não pela justiça da causa –admito que esteja completamente errado, mas começou a ser óbvio para mim que a causa infame de se terem suprimido os carris, para muita gente, estava em segundo plano. E retirei esta ilação completamente depois de ter composto uma segunda canção, serenata ao Metro, e a ter apresentado na Praça 8 de Maio. Na altura mostrei a ideia a Jaime Ramos –que tal como na primeira em que se gravou um vídeo e fez o favor de aceitar mesmo sem me conhecer de lado nenhum- e ele deu o plano como bom. Mas disse logo que não poderia estar presente junto à igreja de Santa Cruz na data proposta. É certo que chovia muito, mas saberá o senhor David Carvalho quantas pessoas apoiantes desta causa estiveram presentes? Menos de meia-dúzia –não precisa de se rir. Concordo que o artista não merecia mais! Ou seja, em conclusão, vi ali o que suspeitava há muito: se o líder não estiver presente poucos querem saber da causa que deu origem ao movimento de reivindicação.
Bem sei que fui longo. Quando começo a escrever sou assim. Peço-lhe muita desculpa pelo tempo perdido. Um grande abraço.
Luís Fernandes


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