Durante anos e anos, a fio, em encontro de
vizinhos, passou por mim nestas ruelas estreitas. Sempre que me via, com uma
generosidade sem limites, parava e fazia-me uma festa prazenteira de palavras e
acompanhada de um cumprimento: “olá,
senhor Luís! Como é que está? E a família? Está tudo bem?”. Naturalmente,
respondia com agrado à sua tão viva e marcante saudação. Talvez num egoísmo sem
sentir, nunca procurei saber nada desta senhora. Nem o seu nome eu conhecia. Sabia
apenas que morava numa destas ruas estreitas. Quando falava com ela apreendia o
seu lado pachorrento e bom, com a mesma intensidade que se vê e ouve e recebe a
mensagem de paz da água límpida a correr no riacho. Dava gosto. Era um contentamento
para a alma.
Hoje encontrei a sua foto numa comunicação de
necrologia plasmada num mural. Chamava-se Georgina Nunes dos Santos,
tinha 69 anos, morava na Rua das Padeiras, e foi a enterrar neste último
domingo. Fica aqui a homenagem sentida à pessoa anónima, boa e gentil, que me
deixou gratas recordações e passou por nós. À família enlutada, em nome da
Baixa, se posso escrever assim, os nossos mais sentidos pêsames.
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