Gostamos de desempenhar o papel de vítima.
Contrariamente ao de opressor –que motiva raiva, ostracismo e desprezo-, ser
vítima é ser o centro de atenção geral. Cria dentro de nós um sentimento de
infelicidade e desgraça que, se por um lado entristece e nos esgota, por outro,
faz emergir forças até aí desconhecidas que nos elevam e superam o próprio
estado de vitimização.
Sendo a sociedade o berço gerador da injustiça
que origina e dá destino ao padecente, é esta mesma colectividade que o
transforma em modelo de virtude e, a
posterior, faz dele o arquétipo da opressão, da selvajaria humana. Aludindo
à boa acção individual, desencadeia a pena, a caridade, e apela para a
conversão universal. Sem vítima não haveria escritores, poetas, heróis, santos
e o humano, mesmo sendo tanto quanto é, seria ainda muito mais brutal.
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