Meu caro político partidário, espero que esta
minha carta o vá encontrar de boa saúde e sobretudo com uma voz límpida, sem
rouquidão, para a campanha eleitoral que está a viver intensamente, na busca de
um lugar ao sol e eu, contra a minha vontade, tenho de gramar.
Escrevo-lhe, meu caro, para lhe dizer que,
embora ainda estejamos no princípio da romaria, já não aguento o forrobodó. Faz-me
lembrar uma feira onde se vende tudo e mais alguma coisa e o pregador, de microfone
ao peito, grita para o quem quer ouvir: “não
paga cinco, não paga três, só paga um! Mais, se comprar, ainda leva mais isto,
mais aquilo e aqueloutro!”. Acontece que já tenho a casa cheia de tudo que,
como o feirante, me quer despachar. Por
outras palavras, a sua propaganda barata não me convence mesmo que me ofereça
um Audi A6.
Já estou farto, pá! Estou esgotado
psicologicamente, pá! Não consigo aguentar a sua lengalenga de vendedor de
seguros, mentiroso compulsivo. Veja se entende, você já me enganou há cerca de
quatro anos, lembra-se? Comprei-lhe uma apólice onde me prometia segurar a
minha vida em caso de infortúnio. Ora o que fez? Não só infernizou o meu viver
como, depois, não garantiu a minha sobrevivência. E repare, não pense que estou
a escrever visando apenas o primeiro-ministro, enquanto chefe do governo, estou
a visá-lo a si também, enquanto líder de um partido de oposição. Onde estava
você quando o meu amigo Daniel, empresário, se suicidou? O que fez você pelo
meu amigo Manuel e a família quando perderam a casa e, depois de uma vida de
trabalho, foram colocados na rua como cães danados? Que, como sabe, estes
animais de quatro patas têm mais protecção declarada do que os humanos que caem
em desgraça. Onde se encontrava você quando o meu amigo comerciante, o
Francisco –o nome é irrelevante-, depois de perder tudo o que angariou durante
uma vida de trabalho pediu as insolvências da firma e particular e hoje vive de
ajudas?
E agora, depois de nada fazer por quem ainda trabalha
neste país –sim, por quem trabalha, porque você defende mais quem nada faz- vem
pedir-me outra vez o voto? Só se eu fosse parvo! Para não ouvir e ver a sua
imagem –porque só a sua visualização me causa turbulência nas vísceras-, se eu
pudesse, já que não consigo evitar a sua presença visual, saía daqui para não
voltar. Veja se entende: só visibilizar a sua figura, para além de me tirar do
sério, irrita-me de sobremaneira. Para mim, você é um contorcionista social, um
ser abjecto, que faz tudo para alcançar e concretizar os seus mesquinhos interesses.
Para si, Portugal é um meio de alcançar os seus desmesurados intentos interesseiros
e jamais um fim como deveria ser se você fosse um político de quatro costados, como
deveria ser. Você é um aprendiz de feiticeiro que, sem rasgo nem criatividade, agora,
volta a empregar as mesmas mistelas, as mesmas mezinhas para convencer um povo
atrasado, mesquinho, bacoco, que gosta de ser enrabado por uns meninos de coro,
sem história e sem classe, e que gosta de embandeirar em arco.
E sabe o pior que me pode acontecer? O que
desencadeia a minha frustração e me faz roer as unhas? É que na feira posso
sempre desviar caminho para não me cruzar com o vendedor barato, mas consigo, mensageiro
de ideias vazias, trauliteiro de promessas vãs, não consigo evitar a sua
ubiquidade. Se desligo a televisão, você está no computador, se me afasto da
Internet você está na rádio, se apago a telefonia você está nas ruas em
cartazes gigantescos. Você é uma praga maléfica, um vírus, que não pára de me atazar o juízo. É certo que, por vezes, somente
para me livrar de si, apetece-me comprar tudo o que me quer impingir de uma vez
só. Mas desisto porque acho que não vai resolver nada. Você, como ser mutante,
multiplica-se até ao infinito e vai continuar a azucrinar a minha cabeça.
Sabe uma coisa? Se eu fosse mal-educado, ou
mal formado, mandava-o foder! Acontece
que sou um tipo humilde e, por isso mesmo, como não sou dado a impropérios,
olhe: vá bugiar!
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