Encerrou a frutaria da Rua da Gala. Durante
cinco anos, e seguindo o mesmo ramo anterior de comércio de frutas, funcionou com novo
operador. Abruptamente, sem ser anunciado, há dias encerrou sem que Santo
António, em painel de azulejos na fachada do prédio, lhe valesse.
Segundo um vizinho que pediu o
anonimato, “é mais uma tragédia que se
abateu em várias famílias. É um drama para a prole do próprio, o senhor que
explorava o negócio –que intencionalmente não refiro o nome-, e para outras que, alegadamente por falência
do primeiro, encadeados, teriam ficado em muito mau estado.”
Se é certo que, ao longo da história, sempre
assistimos a insolvências, o que perante os nossos olhos está acontecer, demasiadamente repetido, dever-nos-ia fazer pensar. Como estamos num mundo do
salve-se quem puder, ninguém fala nisto. Os comerciantes desaparecem da mesma
forma que, como cogumelos, emergem na cidade. Não quero dizer que não fosse
sempre assim. O que pretendo demonstrar é que esta insegurança que vivemos não
pode ser boa para ninguém. Um investimento não pode ser uma armadilha seja para quem for. Quando assim é, demasiadamente renovado perante os nossos olhos, alguma coisa está a funcionar
mal. Ou seja, num individualismo feroz, fazemos todos de conta de que não se
passa nada. O desespero alheio passou a fazer parte integrante das nossas
vidas. O próprio Estado, enquanto garante de salvaguarda do cidadão que ousa
romper as malhas de imobilidade e criando riqueza recusa ficar quieto, não
cumpre com a obrigação a que está adstrito e abandona quem, por direito,
deveria merecer mais protecção do que quem confortavelmente se mantém a surfar
a onda. Para os governos centrais e locais os empresários pequenos e
pequeníssimos são uma espécie de erva daninha, nascem, crescem e morrem, sem
que o seu ciclo de vida seja sentido pela administração. Seguindo a mesma linha
do Estado Novo, o poder político
apenas se interessa pelo volume do investidor, seja grande grupo ou individual,
porque, como parasita a sugar, vive do seu sucesso. É assim que se vê e revê
nas fotografias de jornais. A consequência de toda esta omissão, mais que
certo, é uma tragédia colectiva para muitas mais famílias que fazem do risco o
seu modo de vida. O que estranho é que ninguém fala deste problema. Falta
discussão em torno deste assunto.
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