(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Para quem andar mais atento, nota-se na Baixa,
incluindo a margem esquerda, na zona do Convento Velho de Santa Clara, uma
intensíssima movimentação comercial.
Por um lado, há vários estabelecimentos a
encerrar porque não aguentam as despesas. Embora se conste que alguns mais
antigos, com funcionários de décadas, vão cerrar portas no final do ano –num
hábito já meu conhecido, confrontados com esta hipótese, os comerciantes não
assumem-, sabe-se que são os mais novos com implantação de meses e um com menos
de dois anos os mais sacrificados. Associando a alguma inexperiência comercial,
estes, com rendas impossíveis de aguentar, são os mais expostos. Assiste-se a
deslocalizações sistemáticas. Sempre em busca do menor valor de renda a pagar.
Estou a lembrar-me de um comerciante que, no espaço de um ano, já mudou três
vezes. Mas há mais nesta situação. Como a evitar um final drástico e a tentar
prolongar um fim que se adivinha, num contorcionismo compreensível, a procura
de espaços baratos continua na mira de muitos aflitos. Mas não há lojas acessíveis
na Baixa –quando escrevo “baratos”
quero dizer entre os 100 e os 250 euros. Os valores assim praticados só se
encontram em zonas sem qualquer movimento de transeuntes, as chamadas zonas
mortas. E que ninguém quer.
Falando de novos contratos, para as
lojas de rés-do-chão, os preços operados, neste momento, nas ruas largas da calçada,
Ferreira Borges e Visconde da Luz, variam entre os 1250 e os 3000 euros. Para
os primeiros-andares oscilam entre os 450 e os 1000 euros. Nas ruas estreitas
de movimento, por que nem todas são iguais, os arrendamentos andam entre os 400
e os 1500 euros.
Por outro lado, talvez devido ao grande
incremento do turismo, com a recente classificação de Património Mundial, pela
Unesco, a procura de espaços comerciais é intensa. No geral, é como se sentisse
que aqui o futuro está ao alcance um piscar de olhos. É como se andassem
fluídos no ar a mostrar que as coisas vão mudar a breve-prazo -consta-se que o “Burger King” está prestes a obter luz
verde para se instalar na Baixa.
Falando de turismo, numa discriminação
inconcebível e num paradoxo, continua a verificar-se que a Rua da Sofia –a antiga
rua dos colégios e que mereceu a máxima distinção
da Unesco- não tem fluxo de turistas. Já escrevi sobre este assunto. A Câmara
Municipal e a Universidade de Coimbra, enquanto motores ligados ao progresso turístico,
têm obrigação de se debruçarem sobre esta questão, que é fundamental para o
comércio e hotelaria nesta histórica via larga. O que está a acontecer parece
uma anedota só aceitável nesta cidade. Quero dizer, a organização mundial
classifica uma rua como a mais importante para ser visitada e o que se constata
é que somente as zonas protegidas, envolventes e limítrofes, é que estão a ser
beneficiadas com a proclamação universal. Está certo acontecer uma coisa destas?
Continuando, verifica-se que a procura comercial
é, na maioria das vezes, feita por gente nova, sem experiência, que, a todo o
custo, procura um trabalho como rendimento que lhe permita fazer face à vida.
Tal como já escrevi várias vezes, com um enorme respeito por estas pessoas, sem
que haja alguém que se importe, as tragédias estão ao virar da esquina e ao alcance
de um olhar.
Não é preciso ser economista para verificar
que, apesar de se pensar regularizado pelo tempo, estamos a assistir a um continuado
“Subprime” no arrendamento comercial.
Ou seja, mesmo sabendo de antemão que os valores pedidos são arriscados e mesmo
até incobráveis a médio-prazo, os proprietários, colectivamente seguros de uma
rentabilidade imediata de curto-prazo, baseiam a sua estimativa de retorno
esperado do investimento, por um lado, na precariedade da economia, por outro,
numa hipotética recuperação das actividades económicas. Não é difícil de ver
quem é a vítima. Também não é preciso ter um telescópio para ver que faltam
regras que cerceiem estes abusos. E como? Evitar, por exemplo, que um
estabelecimento comercial se mantenha fechado mais do que seis meses. E quando
reabrir, no mínimo, estar em funcionamento seis meses também. O que é que as
autarquias têm feito para resolver este problema? Como a lei do arrendamento
não contempla esta situação, pouco ou nada. Ou melhor, recorrem ao único
instrumento possível: sobrecarregar com IMI, Imposto Municipal sobre Imóveis.
Mas, provando que não funciona e não demove os senhorios, tudo continua na
mesma e igual.
Num desprezo total pelo desenvolvimento,
em algumas ruas da cidade, há lojas encerradas há mais de uma década. Nem
arrendam nem fazem nada para lhe dar utilidade –porque é preciso não esquecer
que o que esteve na génese destes empreendimentos foi sempre o seu objecto, a
sua utilidade social. Um estabelecimento pode ser propriedade particular –que se
deve respeitar- mas tem agregada uma responsabilidade colectiva na criação de
riqueza. É aqui que a renovação do Novo Regime de Arrendamento Urbano falhou completamente.
O legislador estava completamente preocupado com o aumento de rendas e a transmissão
–que até aí era feita desordenadamente, beneficiando os inquilinos e esquecendo
os interesses dos donos dos prédios- mas não deu atenção, por intenção ou não,
à conveniência social.
Por outro lado ainda, a edilidade coimbrã
detém vários edifícios em ruína nesta parte velha e nem ata nem desata. Como
quem diz, nem os recupera nem vende. Em
casa de ferreiro espeto de pau, poderia dizer-se.
Talvez valesse a pena pensar neste assunto.
Para muitas famílias, que sentem os dramas do falhanço, já não se vai a tempo.
Mas é em nome de quem vem de novo que se apela a que se encare este assunto
como de importância relevante.
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1 comentário:
A rua da Sofia teria muito mais a ganhar se fosse completamente pedonal. Bastava esta alteração para ver os turistas a circularem por lá. Se a isto juntarmos a requalificação do Terreiro da Erva, núcleo museológico/exposições na espaço ocupado pelo centro comercial da Sofia, centro de documentação 25 de Abril, etc. então a diferença seria enorme.
Ao contrário do que alguns fazem crer, o trânsito que lá passa não acrescenta valor nenhum à rua da Sofia, é só poluição, mais nada.
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