Neste Sábado, último, a RTP Informação passou
uma reportagem inserida na rubrica “Linha
da Frente”, realizada em Setembro de 2014 no Algarve, com o título “Noites Loucas”. O vídeo, com cerca de
trinta minutos, mostrava como, sobretudo os jovens, nacionais e estrangeiros,
se enfrascam até caírem redondos no chão.
Se é certo que, maioritariamente
mas não todos, aos 20 anos somos partidários de experiências arrojadas no fio
da navalha, aos 40 já olhamos para o que fizemos uma vintena de anos antes com
distância e aos 60 já colocamos as mãos na cabeça perante os jovens que fazem o
mesmo que nós fizemos. Mas, parece-me e correndo o risco elevado de ser tomado
como velho, nas últimas décadas, estamos a assistir a um acentuado resvalar
pelo cano, para o facilitismo do álcool e das drogas.
Os Estados, mais propriamente os
governos, em nome de uma intocável liberdade individual dividem-se entre o
deixar fazer –desde que esta liberdade não fira a do próximo- e um regredir, um
voltar atrás nesta permissão, tornando-se cada vez mais paternalistas e
invasores até de uma decisão íntima que, se estivéssemos perante pessoas de
vontade responsável, deveria ser considerada atrofiadora.
Então, perante esta ambiguidade
de critérios, o que estará certo? No primeiro preceito, em nome da tal
liberdade intrínseca, devem os Estados deixar, sem interferir, que cada cidadão
escolha o seu próprio caminho, mesmo que a sua estrada seja de perdição no
consumo de drogas? Porque, pensemos, qual é a norma? Desde que ninguém se sinta
prejudicado e não se queixe de um comportamento lesivo de interesses, uma
pessoa, mesmo em processo auto-destrutivo que vai mais tarde implicar uma
despesa brutal ao Serviço Nacional de Saúde, entre os lamentos de “ai coitadinho!”, dividindo as opiniões
públicas entre a simpatia, a compaixão e o desprezo, vai passando pela
colectividade como se fosse invisível. Na rectaguarda destes disfuncionais,
perdida e sem saber como lidar com estas psicopatias, está sempre a família.
Numa moral algo duvidosa de bode espiatório, em que se responsabiliza por uma
educação deficiente, é para esta célula que se reporta a culpa do comportamento
desviante. Mas, perante a opção deliberada do libertino –vamos chamar-lhe
assim-, não querendo ele qualquer tipo de ajuda, o que pode fazer a família se
não assistir impotente a este processo de destruição? E mais uma vez a
interrogação: o que se pode fazer para evitar um destino inevitável, que é a
morte a médio prazo? Deveriam ser criados, ou não, mecanismos legais para
evitar este epílogo anunciado? Deveria a lei ser mais restritiva ou nem por
isso?
Depois, temos de ver que estas
questões que tocam a liberdade individual são sempre analisadas à luz da ideologia.
Para a direita, tudo assenta na educação de uma autoridade perdida da
família e, a seu ver, o Estado deve apostar na formação de adultos, recuperar o
domínio e ter mão pesada para os incumpridores. É frontalmente contra o
casamento homossexual e considera uma aberração. O divórcio é considerado um atentado
à prole e no aborto em qualquer circunstância ofensa à multiplicação da espécie.
Para o centro –se é que existe-, que
assenta numa ambiguidade dividida entre os opostos com uma perna na direita e
outra na esquerda, liberal e mais crente na responsabilidade individual mas nem
por isso a ponto de lhe dar corda solta, dá com uma mão e retira com a outra. No
divórcio vai de arrasto pela teoria esquerdista e no aborto diz “nim”. O casamento homossexual é um
espinho cravado na santa aliança. Umas vezes defende a identidade e liberdade
individual para, a seguir, pugnar por medidas intrusivas que entram na exclusiva
esfera pessoal.
Já a esquerda aposta tudo na liberdade de
cada um. Considera que é um direito adquirido à nascença sem discussão. Cada
cidadão é pessoa de dignidade e livre de optar pelo que quer beber, fumar,
inalar e injectar. É assim que a teoria marxista-leninista defende a total liberalização
de todas as drogas, leves e pesadas. O casamento homossexual e a co-adopção são
regras elementares numa sociedade heterodoxa e não amarrada a dogmas
religiosos.
Entre todas as opiniões formadas, a meu ver,
pelo arrastar cada vez mais da sociedade para os comportamentos desviantes,
deveríamos retirar a cabeça da areia, fazendo de conta que nada acontece, e
discutir abertamente este problema. Pensemos nisto!
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