Meritíssimo, Excelência, Eminência,
Magnificência, Magnífico, Senhoria, Eminência Revendíssima, Vossa Santidade,
Vossa Majestade, Sereníssimo Juiz de Direito, Carlos Alexandre espero que esta
minha carta o vá encontrar de boa saúde na companhia de, calculo, resmas e
resmas de processos mediáticos. Imagino que, com tanta preocupação, nem come,
nem dorme, nem realiza o gostinho especial que todos os homens comuns fazem –quero
dizer, sonhar, obviamente. Faço votos para que V. Excelência, em paradigma como
na literatura montado num cavalo branco e de espada em punho, vença o mal e tenha
um final feliz. Às vezes dou por mim a pensar no nosso vizinho Baltazar Garzon –não sei se está a ver,
é aquele fulano todo emproado, tipo artista de Hollywood, juiz de instrução que
ficou conhecido por emitir mandados a tordo e a direito e acabou no banco dos
réus. Vossa Senhoria já está a entender a minha preocupação. Se lhe remeto
estes apartes é porque não quero que lhe aconteça o mesmo. Embora não o conheça
pessoalmente admiro a sua temperança e arrojo em se abalançar para a luta contra
o crime.
É verdade! Com a conversa a fluir, até esqueci
de me apresentar: Toino, nascido em Várzeas e criado em Barrô e actualmente
morador no Beco da Paroleira.
Continuando, Eminência, escrevo-lhe esta
cartita porque ouvi e li a notícia de que V. Magnificência tinha aferrolhado o “dono disto tudo”. Aqui no Beco da
Paroleira tem sido uma escandaleira por causa do seu despacho. Não queira Vossa
Santidade saber que, perante a sua avisada ordem de serviço judicial, este
pessoal, que é mais burro que o meu Silvano, deu em lhe chamar tudo do pior.
Dizem que Vossa Eminência não teve tomates para engavetar o “já foi” e metê-lo numa cela. Num
sussurro incomodativo, esta gentalha cá do beco, que é do pior que se pode
imaginar, pregam aos sete ventos que a sua decisão de manter Ricardo Salgado em
prisão domiciliária desde sexta-feira no âmbito do processo BES é profundamente
discriminatória, sobretudo levando em conta o engaiolado 44. No meio de uma
biscada e um copo de três, comentam por aqui os críticos de opinião fácil à
boca cheia que o facto do “insonso”
estar apenas impedido de sair de casa por motivos que não sejam graves e
inadiáveis, como deslocação para um tratamento médico ou para um velório ou
funeral de pessoa próxima fere altamente o princípio da igualdade –eu não sei o
que isto quer dizer, mas vendo-lhe pelo preço que comprei.
Quem está pior que uma barata é a menina Maria
da Purificação, representante das beatas do Beco da Paroleira. Nem sei se o
caso não seguirá para o tribunal constitucional eclesiástico. Só queria que o
senhor assistisse ontem à reunião. Olhe que, se não me engano, Deus teve de
tapar os ouvidos perante tantos nomes feios que lhe chamaram –aviso já que evita de
me convocar como testemunha que eu nego tudo. Embora eu seja agnóstico e não
ponha os pés na igreja nem no dia do santo padroeiro, não quero problemas com o
padre Sebastião. Que ideia peregrina foi a sua de proibir o “Salgadinho” de, lá em Cascais, ir à
missa ao Domingo?
Também o Jaquim
do fito, o nosso campeão da malha, está furibundo com a sua medida de
coação de colocar quatro agentes da PSP, distribuídos por quatro turnos de seis
horas cada, a controlar a rotina diária do homem dos cofres-fortes. Diz o Jaquim que é um gasto desmesurado para
um produto que desvalorizou completamente e já não vale um cêntimo. Também não
percebi onde quer ele chegar com este arrazoado. Mas também não interessa nada.
Fique Vossa Majestade descansado que, embora
exemplar único, mora cá um inteligente -que por acaso sou eu- que percebeu tudo
de ginjeira. Vi logo que, perante as nossas prisões terceiro-mundistas, sem uma
sanita decente, como é que um traseiro daqueles, mimoso e habituado a ter
música clássica no compartimento e se calhar limpador de cus automático,
poderia ir para um presídio comum e igual ao do 44? Bolas, é uma questão de
dignidade! Entendo perfeitamente! Mas e conseguir explicar isso tudo a estes
brutamontes?!
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