POR ALEX RAMOS
(E LUÍS FERNANDES)
(E LUÍS FERNANDES)
Olá:
Espero que esteja tudo bem com o senhor. Acima
de tudo, o meu respeito por defender um património humano e cultural. Poucas
pessoas o fazem.
Concordo com muitas coisas que
diz no blogue. Nunca escrevi, pois não sou exímio a escrever como o senhor.
E depois... não sou dado às letras, seja para escrever ou ler mas,
confesso, das poucas páginas da Internet que, dia sim dia não, venho ver se há
novidades, e até leio às vezes com atenção, é o seu blogue.
Com o devido respeito acho que
tem uma visão algo romântica de Coimbra. Entende-se, não? Para mais, afinal
Coimbra é a capital do romance, da saudade... Mas passo a explicar o
meu ponto de vista, se me deixar elencar os problemas na Baixa.
Eu moro desde os 5 meses ao lado da
Maria, a nossa amiga comum, na rua larga. Sou do tempo em que a Baixa
fervilhava de gente, de vida. Agora parece um deserto. Tenho 35 anos...
Coimbra é uma cidade que vive
essencialmente de quê? Respondo: juventude. Você pode dizer não. Vou
explicar melhor. Antigamente não o era, havia a Estaco, onde a minha mãe
trabalhou, havia a Triunfo, a fábrica de cerveja. Havia indústria, algo que
desenvolvia a cidade. ...Esse foi o primeiro desastre para a Baixa. O acabar
com a indústria em Coimbra. As pessoas tinham dinheiro, vinham à Baixa,
faziam as suas compras. Hoje não há fábricas. Coimbra é apenas uma cidade
de estudantes. Ora, sendo assim, no meu ver, é aqui que se deve apostar e
forte. Se temos a Universidade como Património Mundial da Unesco, naturalmente,
que usemos esta valorização em nosso favor.
O PERIGO PODE VIR DO
CÉU
Na Baixa há prédios em perigo de matar alguém.
Na Rua da Moeda há um deles, em que passam ali dezenas de pessoas. Já olhei para
cima tantas vezes. Vêem-se vidros numa janela que às vezes, penso, basta um
ventinho mais forte, cai e mata alguém. O presidente da Câmara queixou-se
de uns fios feios nas ruas, mas disso, do perigo que pode vir do céu, não
se queixa ele... fios no ar não matam, agora um vidro com ângulo certo ....
pode arrumar qualquer um que por lá passe no minuto errado. Já agora, porque
não fazer na Baixa o que se fez na Rua Corpo de Deus? Ou seja, tirar os fios aéreos,
que passavam por cima, e remetê-los para o solo? Há zonas na Baixa que mais
parecem centrais eléctricas de tanto fio. Isso sim, é feio.
CASAS A CAIR DE
DESGOSTO
Em relação aos edifícios degradados porque não
reabilitar esses prédios para habitação e meter na Baixa jovens? Outrora não
havia qualquer casa que não tivesse morador. Hoje assistimos ao inverso: é
difícil ver residentes. E por que não povoar esta área antiga com jovens?
Por outro lado, não vejo como é que alguém que viva nas zonas da Solum, ou
Bairro Norton de Matos, venha para a Baixa fazer compras tendo lá perto O Dolce
Vita e o Coimbra shopping. Havendo aqui gente a morar, é evidente, eles não irão
para o outro lado da cidade. Aqui fazem as compras, aqui consomem. Mas há ainda
outra coisa: os mais novos têm carros, onde estacionam? Esse é um dos maiores
erros aqui na Baixa. Tiraram os carros na Rua Visconde da Luz, a meu ver, a
Praça 8 de Maio está mais linda -sim, tirando a “piscina”. Mas agora as pessoas que vêm cá onde estacionam? E depois
as que moram cá onde estacionam? Em Coimbra qualquer canto é a pagar. Um
jovem, pagando renda de casa, com tantas dificuldades, não pode pagar à Câmara
para ter algo que é seu para estar estacionado perto de si. Não há
estacionamento gratuito... e quando há é longe da Baixa, o que não ajuda no
dinamismo que deve estar subjacente ao seu almejado crescimento. Às vezes,
nas minhas caminhadas, passo na praça velha... e são carros parados ao desbarato. Acho mal, muito mal mesmo! É
uma praça pedonal, não um estacionamento.
ASFALTO ENCARDIDO
Outra situação. Por que razão as ruas da Baixa
e não só estão sempre tao sujas? Antes, era eu pequeno, passava ao Sábado um
carro que lavava as ruas. Agora só na Queima das Fitas e nem sempre. Às vezes,
na Baixa, passo em ruas que é um cheiro horrível. Dou um exemplo, perto do
largo do antigo Saul Morgado, na rua Paço do Conde, tantas vezes, é um cheiro
mau, parece que está por lá alguém morto. Não vejo lixo mas acho que passar
numa artéria onde cheira mal... A minha mãe acha que é por não lavarem os ralos
dos esgotos. Acredito, mas também pode ser algo mais. Há ruas sujas onde
as pedras estão mesmo muito porcas, para além disso, depois há a falta de
civismo tantas vezes relatada por vossa excelência.
O LIXO SOB OS NOSSOS
PÉS
Por exemplo, veja-se o lixo no chão deixado ao
lado dos contentores onde se deveria meter o entulho. Isto não é gozar com quem
o recolhe? Há algo curioso, ao fundo da Rua Adelino Veiga colocaram dois
contentores muito melhores dos que os que lá estavam e o cheiro desapareceu,
até ver. Por que não distribuem mais uns dois ou três na Baixa em locais
estratégicos? E por que não é recolhido o lixo, digamos, três vezes por
dia, de manhã, à tarde e à noite? Já agora que se fala tanto em reciclagem...
na Baixa não vejo um único Ecoponto.
Separamos os detritos em casa para quê? Vamos andar dois ou três quilómetros
para o recolher nos contentores devidos? Se muitos jovens nunca o fariam, pela
debilidade dos mais velhos, acha que pessoas idosas teriam este cuidado?
Há que haver infraestruturas adequadas para facilitar as coisas.
COISAS DO DEMO
Depois há coisas na Baixa que não lembram ao
diabo. Onde moro, na Rua Visconde da Luz, quando falta uma pedra junto a um
ralo o que se faz? Não metem pedra mas sim cimento. Será que há assim tanta
falta de calcário? Ou o que não há é formação das pessoas que trabalham as
pedras, os calceteiros? Ainda
outra coisa, na Rua Ferreira Borges as sarjetas, ralos, estão inclinados. É bom
para as pessoas desprevenidas darem uma queda. Também os passeios, alguns, vêem-se
desnivelados. Na minha rua, a Visconde da Luz, e seguinte, na Ferreira Borges, deveria
haver intervenção.
WIRELESS E CONFORT
Outra coisa, por que não há Internet da
PT na Baixa de Coimbra? Há da Vodafone, da Cabovisão. E por que não há da
Meo? Porque não pode a pessoa escolher? Porque tem que se restringir a
uma velocidade pequena, ou a um operador? Já agora as casas deviam ter um mínimo
de conforto como, por exemplo, casas de banho. Há lares que só com remodelação
profunda… não quero dizer que as casas devam ter ar condicionado, mas com
janelas duplas, sem retirar a traça original. Até deveria poder ser
janelas de alumínio, mas inseridas na traça original do prédio. Hoje há
tantos materiais a imitar a madeira!
I LOVE YOUR, BAIXA
A Baixa à noite, mesmo com cafés abertos, é um
deserto a partir das 22h00. Muitas vezes já não passa cá ninguém. As Marchas
Populares são uma boa iniciativa, “djs” nem tanto. Passo a
explicar. Na última “Noite Branca, realizada no Sábado, sim houve cá muito
povo. Mas animadores de música nem por isso. Sem luz? Sem luzes é o mesmo que
arroz doce sem arroz. Os “djs” devem dar música, mas sem esquecer um “background” que anime as pessoas.
Apenas meter música? Para isso meto colunas na janela e, olhem, também sou “disco jokey”! como
seria o ideal? Vou dar uma ideia. Por exemplo, na Praça do Comércio e
naquelas pracetas como há várias deveriam meter armações em treliças e
meia dúzia de luzes em cada uma, mas luzes que animassem e não a do tipo dos
concertos de fados ou ranchos, que só acendem e pronto! Na praça velha,
nestes dias de festa, poderia ser mesmo uma discoteca ao ar livre, assim no
género como foi com o grupo “Os Azeitonas”, no ano passado. Na minha rua mais
larga, a Visconde da Luz, podiam meter arcos em treliça com projectores. Os
transeuntes passavam e seria lindo, brutal, dava muito mais animação à Baixa. É
uma uma ideia que fica à disposição, mas depois pagam os direitos de
autor…heheheh!
Agora a sério, por que não inovar,
fazendo algo que puxe os jovens? Quanto às lojas abertas até à meia-noite....
OS HORÁRIOS DOS SMTUC
Ainda não acabei. Há ainda mais propostas. Há
pessoas que não vivem cá, residem nas redondezas. Por que é que a APBC, Agência
para a Promoção da Baixa de Coimbra, não estabelece um protocolo com as
empresas rodoviárias, como os SMTUC, Serviços Municipalizados de Transportes
Urbanos de Coimbra, para as carreiras nesses dias estarem até a funcionar
até às 2h00? Há pessoas que trabalham aqui e ate gostavam de estar abertas mas não
há transportes.
IDOSOS E O POLICIAMENTO
A Baixa deve renovar sua oferta às pessoas
idosas. Como o senhor disse numa crónica recente, os mais velhos não têm força
anímica, mas há jovens que devem querer investir na zona e aí a Câmara
deveria dar incentivos fiscais para quem abrisse uma loja na Baixa. Para
fomentar a participação, nas “Noites Brancas”
deveria haver incentivos camarários para quem estivesse aberto.
Deveria haver policiamento
efectivo. Não é meter câmaras de videovigilâncias e já esta! Assim também eu! É
a lei do menor esforço. Deveria haver agentes na rua para as pessoas se
sentirem seguras. Moro na Baixa há mais de 30 anos e agora, sobretudo durante a
noite, sinto receio de andar em certas ruas, pois são um deserto de
vida. Na noite do concerto dos Azeitonas um colega meu de Lisboa
disse-me: “Alex, jamais passava
aqui nesta rua” –referia a Rua Adelino Veiga. Esta artéria estava completamente
vazia e o concerto a bombar ali a poucos metros. É incompreensível a falta de
pessoas e uma enorme sensação de insegurança numa zona que é o coração da
cidade. Não deveria ser assim.
UMA DISCOTECA NA BAIXA
Sou da opinião e muito mais gente também
concorda que se houvesse aqui uns bares e uma discoteca a Baixa tinha mais vida
–por exemplo, aquela loja enorme em frente da Igreja de São Tiago (as antigas
Galerias Coimbra), porque não fazer ali uma discoteca ou bar para atrair mais
juventude? Claro que sem esquecer a protecção contra o ruido. É que tantas
vezes estou na minha janela e vejo os jovens a vir do Largo da Portagem e a
irem para a Alta. Porque não se dá a volta a isto? Creio que trazia mais vida à
noite nesta parte velha da cidade. Na Baixa há falta de oferta.
ELECTRÓNICA E CINEMA
Como já disse em cima trabalho em
computadores. Quero comprar um componente, onde vou? Tenho que ir à Worten -onde
há pouca oferta- ou mandar vir de lojas online. Por que razão não há uma loja
de informática na Baixa? A loja Sportino, na rua Visconde da Luz, acho
que está a ter sucesso, porquê? Parece-me, porque é direcionada para os
jovens.
Por que não há na Baixa um
cinema? Para ver um bom filme temos que ir aos centros comerciais. Lembro-me
do Centro Comercial Avenida a fervilhar de gente. Íamos ao cinema, víamos
as lojas e comprava-mos. E agora? Acabou o cinema e está às moscas.
VENHA O FADO
Acho bem a iniciativa de haver às quintas-feiras fado de
Coimbra na Praça 8 de Maio. Embora não goste dos ranchos folclóricos, acho bem
à sexta-feira haver espectáculos destes agrupamentos. Agora pergunto e
para os jovens não há nada? Na década de 1990, Manuel Machado, o
presidente da edilidade da altura e actual, pode ter feito asneiras mas com os
concertos que fazia na Praça 8 de Maio trazia multidões. Havia teatro com
pirotecnia, havia ritmos cubanos para dançar e até havia rock. Por
que não reactivar esses tempos de glória e trazer para a Baixa
concertos que atraiam os jovens? Acho que é destas iniciativas que a zona precisa.
Temos uma Praça 8 de Maio boa para concertos e uma Praça do Comércio óptima.
Acho que é desvalorizar estes espacos se forem destinados somente para explanadas.
A AGÊNCIA DEVE ABRIR OS
BOLSOS
A APBC, Agência para a Promoção da Baixa de
Coimbra, faz iniciativas disto e daquilo, algumas certas outras nem tanto. Acho
que cada um se esforça para dar seu melhor.
No Natal, no meu tempo de ainda
mais jovem, havia música nas ruas todas da Baixa; havia iluminações
natalícias em toda esta área. No ano passado as ornamentações ficaram apenas
pela Rua da Sofia, Rua Ferreira Borges, a minha rua, e algumas pracetas. No
Natal deste ano, por que não junta a APBC uns euros, contrata uma empresa
e ilumina as ruas todas da Baixa que tenham comércio? No Natal passado, não
fossem os laços de papel e não parecia a época mais bonita do ano. Há que
animar as ruas nesta quadra
PRESERVAR ÍCONES
A meu ver, no virar do milénio, Coimbra virou
só cidade estudantil. E é aqui que se deve apostar: nos estudantes. A Câmara
Municipal deveria dar incentivos, quer fosse no pagamento de água e luz ou até
no arranjo, para manter certas relíquias comerciais no activo, para que não
encerrassem. Há um estabelecimento que, sempre que por lá passo, me deixa abismado:
a Farmácia Nazareth. Com os seus traços vintage a lembrar o antigo, tem aquele romantismo, aquela arquitectura
bela e única, que me tira as palavras e coloca o coração a pulsar. Assim como
na minha rua, há um prédio verde com brasão da cidade. Lindo! Devia-se
preservar estas preciosidades do passado, sem dúvida, mas também adaptá-las a
uma nova visão. Dar-lhes outra utilidade. Sou jovem, gosto de coisas antigas.
Acredito que uma pessoa idosa é uma biblioteca ambulante e quando desaparece,
pela morte, fica mais pobre a cultura do país.
AQUI NASCEU A CAPITAL
DO REINO
É nas zonas antigas, como a Baixa e a Alta, que
está a identidade de uma cidade, da sua população e quem sabe de um país. Ali
na Igreja de Santa Cruz estão enterrados os primeiros Reis de Portugal.
Foram eles que erigiram Portugal. Num lado está a bandeira actual, noutro, já
algo suja, está desfraldada a primeira bandeira oficial da Nação. Gostando do
antigo e interessando-me por história não concordo com o desmazelo.
Não tenho mais nada a dizer.
Despeço-me e agradeço ter tido a maçada de ter lido o meu testamento. Com
alguns erros, admito, mas, tenho a certeza, o senhor corrige. Escrevo como
costumo falar ao telemóvel.
Abraço e continue essa luta, pois
acredito que se um homem não pode mudar o mundo pode fazer muito por ele.
Cumprimentos calorosos deste
jovem que o respeita. Desculpe qualquer coisita.
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