Segundo
uma fonte muito anónima, na próxima semana o Executivo Municipal de
Coimbra vai debater a possibilidade de candidatar a Venda Ambulante,
à UNESCO, como Património Imaterial da Humanidade.
Segundo
o meu interlocutor, “acredite,
isto
é mesmo para avançar! Depois do fiasco que deu, e está dar, o
prometido aeroporto internacional para Antanhol, e com os Encontros
Mágicos a terminarem, Manuel Machado já não tem mais coelhos para
retirar da cartola. Por isso tudo, isto agora é mesmo a sério!
Se
a
proposta for
aprovada
na próxima reunião, e deve ser porque, para
além de
ser
unânime a posição dos vereadores de todas as bancadas
parlamentares, Francisco
Queirós, o
representante da CDU, apoia a medida. Por conseguinte, a nomeação
será
facilmente reconhecida
por Paris, sede da Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Repare,
não é apenas a venda de artigos que conta, é a arte que ressalta
do acto em si mesmo. São cerca de cinquenta anos de história, em
que os executivos
da cidade, por
forte resistência de uma minoria,
se
demitiram de criar soluções. Felizmente que não o fizeram! Por
isso mesmo esta
actividade comercial conserva a pureza original. Resistissem assim os
comerciantes, ditos tradicionais, e não teríamos
assistido à destruição da loja antiga, identitária de um tempo
histórico mercantil.
E
mais: Coimbra deve ser a única cidade no mundo que chama Venda
Ambulante a um desempenho sempre no mesmo lugar, firme e hirto, como
diria o Alexandrino.
E mais ainda: cujo executivo, nos últimos vinte anos, já fez aprovar três regulamentos específicos para tudo ficar na mesma. Isto é muita obra para uma cidade de mediana dimensão! Concorda ou não comigo? Se não estiver de acordo é porque faz parte da oposição, essa massa abstracta de maioria silenciosa, cuja maior edificação que se conhece é colocar o “pau na roda”!
E mais ainda: cujo executivo, nos últimos vinte anos, já fez aprovar três regulamentos específicos para tudo ficar na mesma. Isto é muita obra para uma cidade de mediana dimensão! Concorda ou não comigo? Se não estiver de acordo é porque faz parte da oposição, essa massa abstracta de maioria silenciosa, cuja maior edificação que se conhece é colocar o “pau na roda”!
Você
já viu bem o Largo da Maracha, junto à Loja do Cidadão, com os
toldos estendidos e presos por
cordéis? E aquele lixo espalhado, todos os dias, por ali? Não me
diga que aquela expressão popular não toca a sua sensibilidade?
Não?
Você nunca me enganou: percebe tanto de arte como eu de
marés!”
3 comentários:
Deve pensar que é a última bolacha do pacote, se o incomoda, exiga condições, não critique. Agora se o racismo lhe está a subir à pele, já é feio da sua parte.
Deixe lá a carta do racismo, essa já não cola em parte nenhumae limite-se a agradecer os benefícios que os contribuintes dão a muitos "espertalhões da sua etnia Cumprimentos
RESPOSTA DO EDITOR
Começo por lhe agradecer o comentário. Agradeço-lhe também que não contamine a discussão, manipulando o seu objecto, com frases como “agora se o racismo lhe está a subir à pele, já é feio da sua parte”.
Relembro-lhe que a venda ambulante, em Coimbra, não é apenas composta por vendedores de etnia cigana, há pessoas (ou houve, porque a maioria desistiu) de várias origens.
Como ressalva, gostava de lhe dizer que, contrariamente ao que parece aflorar, estamos do mesmo lado da barricada, ou seja, escrevendo por mim, procuramos uma solução digna para um problema que exige respeitabilidade para um sector que precisa urgentemente de ser disciplinado com regras. O deixa-andar, num incomodativo deixa-correr por parte de quem manda, é querer provocar o conflito e a guerra entre os estabelecidos e os precários. Uns e outros, sem qualquer supremacia, merecem respeito.
Continuando, no referente à sua expressão “se o incomoda, exija condições, não critique”, claro que me incomoda ver o estado deprimente a que chegaram os espaços dedicados à venda ambulante (fixa). Por isso mesmo, perante alterações do Regulamento do sector que redundam sempre em faz-de-conta, em operações de cosmética, em mentiras indecentes, tenho vindo a denunciar a forma despudorada como se faz pouco de quem tenta ganhar a vida honestamente, a quem chamo os vendedores da esperança perdida. O objectivo desta não-acção é, claramente, o extermínio de uma profissão que sempre foi e deve continuar a ser respeitada.
Há cerca de vinte anos que escrevo sobre o procedimento do poder político local eleito para com os vendedores ambulantes. Perante a apatia de entidades responsáveis, este tratamento indecoroso transforma a urbe em cidade do ridículo. E você? O que tem feito para alterar a situação? Tem feito alguma coisa? Ou a sua rebelião assenta só na premissa do racismo?
Fundei o blogue em 2007 e, como pode ler aqui, mais aqui, ali, e mais ali, e outra vez ali, e mais ali, e ali, e ainda aqui, e outra vez aqui, as minhas crónicas, no sentido de ser justo, vão sempre no sentido de se atribuir a cada um o que é de justiça. Claro que a um direito corresponde sempre uma obrigação. Quero dizer que quem vende na rua deve ser tratado com equidade,com regras iguais, sem falso paternalismo que não é mais do que uma discriminação disfarçada e aviltante.
Por parte dos executivos camarários, desde o início de 1970 e com maior acutilância no final do milénio, perseguem uma metodologia assente no “chutar” as pessoas de um lado para o outro como se fossem coisas – no último meio século, num raio de cinquenta metros no Bota-abaixo, junto à Loja do Cidadão, já mudaram os vendedores ciganos três vezes. É um processo que se alicerça no ostracismo, na exclusão, na indiferença que fere, no previsível cansaço dos operadores. Basta lembrar-lhe que na Praça do Comércio, no início de 2000, eram cerca de uma dúzia de pessoas. Hoje, só dois vendedores se mantêm em actividade.
Para derrota destes políticos da treta – e é um elogio sincero, não é a primeira vez que o manifesto – com os vendedores ciganos nunca conseguiram levar à sua rendição.
Para terminar, se permite a opinião, já que escreve bem e sabe expressar o que lhe vai na alma, junte a sua voz à minha e, juntos através da escrita, “pressionemos” o actual executivo para, concedendo espaços dignos e com direitos e obrigações, dar nobreza a quem comercializa na rua.
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