(Rui Moura - foto do Diário de Coimbra)
Começo
apresentar-me formalmente: chamam-me Luís Fernandes. Muito prazer,
Senhor Intendente Rui Moura (aceite a minha mão estendida com o
institucional cumprimento virtual de boas-vindas).
Dirijo-me
a V. Ex.ª na qualidade de comerciante em actividade há décadas,
morador na Baixa e, acima de tudo, como munícipe que ama a sua
cidade. Escusado será dizer que, pelo que escrevo a seguir, estamos
do mesmo lado da barricada, parafraseando as suas palavras e
apanhando o espírito da
afirmação
“a
tentativa é dar mais voz aos cidadãos. Já o fazemos, mas quero que
as pessoas percebam que contamos com elas para melhorar”.
Por outras palavras, foi o senhor que pediu.
Por outras palavras, foi o senhor que pediu.
Retirando
o facto de escrever em
opinião publicada,
essencialmente
sobre
a vida na
urbe
e mais propriamente acerca da Baixa, poucos me
conhecem.
Direcciono
esta carta aberta na subsequência da sua entrevista publicada ontem
no Diário de Coimbra (DC). Sublinhando o que escrevi em cima, como
deve imaginar, com esta minha crónica, pretendo fazer parte da
solução e não rebater apenas por rebater os seus argumentos. Estou
certo, enquanto dirigente técnico com competência na matéria, a sua refutação é muito valiosa mas, como afirmou
na entrevista, não deve nem pode descurar a opinião de quem está de fora e sente
o problema.
PEGANDO
NAS SUAS PALAVRAS
Para
melhor nos entendermos, tomo a liberdade de expor algumas frases suas
publicadas no DC, que considero mais relevantes, e respectiva impugnação.
Vamos
à primeira:
“Não
deixaremos de exercer autoridade, mas a minha expectativa é
conseguir uma proximidade dual: a PSP ser uma força de segurança
próxima e com capacidade para exercer autoridade”.
Muito
bem, senhor Intendente, estamos de acordo. Porém, era bom que
tomasse atenção que o seu predecessor, Pedro Teles, quando tomou
posse afirmou e escreveu praticamente o mesmo. A ver vamos onde chega
e se materializam o pragmatismo e vontade.
Vamos
à segunda:
“Os
cidadãos dizem que a PSP não está onde é precisa e só aparece
para multar...” (provocação de Ana Margalho,
jornalista do DC, que conduziu a entrevista).
Respondeu Vossa
Senhoria: “Um
cidadão diz algo positivo sobre a PSP, quando tudo corre de acordo
com as suas expectativas e o contrário, se a intervenção da
polícia não correu
como esperaria.”
Muito
bem, com este
seu silogismo lógico continuamos
de acordo. Para
que não pense que não analiso com transcendência, começo
com uma ressalva, a
instituição
PSP, aos olhos dos cidadãos, é uma corporação que tem vindo
intencionalmente a ser ultrapassada por outras forças e
desvalorizada pelos sucessivos governos das últimas décadas, isto,
em completo prejuízo para as populações citadinas. A
desmotivação
desta polícia, por
força de sentenças judiciais pouco ortodoxas,
isto
é que os cidadãos entendam como
justas,
é
uma evidência. Com
uma justiça orientada
por um sistema judicial, repetidamente
politizado,
enviesado
e
desequilibrado, onde as leis são doutrinadas para agradar
muitas vezes a minorias e instituições fiscalizadoras
de carácter global,
o caldinho
dá
em azedar
facilmente.
Por
outro lado, o
Estado,
administrando
a segurança como um pilar sem importância estratégica e
estrutural,
teima
em primar por uma poupança de meios humanos e instrumentais. Os
seus governos sucessivos, com leis que não refletem a agudização
de uma criminalidade crescente, mais preocupados
com os direitos dos detidos do que das vítimas e de quem arrisca a
vida para salvaguardar pessoas e bens, paulatinamente,
vão esvaziando e desmerecendo o “valor propriedade” e, com esta
política contra-natura na
criação de riqueza,
concorrendo para o abandono das coisas.
Mas,
agora
mudando de agulha,
há um “entrementes” no
que toca às multas de trânsito. Desde há alguns anos que a PSP,
passando o ónus odioso
para
a Polícia Municipal, se desonerou completamente de regular o caos do
estacionamento na Baixa. E não só. Mesmo
em outras áreas em que, com a sua presença física, contribuía
para dissuadir o pequeno delito, hoje, o agente policial, se estiver
presente, é meramente uma sombra passiva de outros tempos, outrora
sustentados
em
certeza, da
segurança pública. É claro que, na maioria dos casos, o
policiamento de proximidade já desapareceu há muitos anos. A cidade, confiando no mal menor, está entregue a si mesma. Como quem
diz: “se Nosso Senhor ajudar tudo vai correr bem!”
E
vamos à sua terceira afirmação:
“A
Baixa continua a ter problemas de insegurança...”
(enfatizou
a jornalista do DC). Respondeu
Vossa Mercê assim: “Há
situações que não são casos de polícia. Só são porque a
polícia está lá 24 horas por dia, sete dias por semana. Isso é
preciso esclarecer. A polícia tem de participar na solução. Isso é
inquestionável. Admito que cause alarido e intranquilidade, mas a
resposta aos problemas é pluridisciplinar e não com a polícia como
as pessoas, por cultura geracional, pensam.”
Passo
por cima desta sua resposta, algo etérea e incompreensível para
cidadãos de inteligência mediana,
porque, por mais vezes que se repita a leitura, ficamos na mesma.
E
vamos à quarta:
Perguntou o DC: “Mesmo
no tráfico de droga?”.
Respondeu
Vossemecê:
“Mesmo.
Eu ponho lá um polícia a tempo inteiro. E se eles forem ter à sua
porta? O problema não se resolve. Eu pôr um carro patrulha todos os
dias e resolver, por exemplo, o problema do Terreiro da Erva. E
depois para onde é que eles vão? Não resolvo o problema.
Deslocalizo-o. Todos
os problemas têm factores que lhe dão origem e nem todos eles têm
a ver com a polícia.”
Esta
sua resposta, pela filosofia social do sete vezes oito é igual a
oito vezes sete, merecia um óscar para o melhor desempenho político
dos comandantes distritais da última década.
Pelo
seu raciocínio, em contradição total com o que afirmou a
determinado ponto da entrevista, pelos
vistos, não
vale a pena apostar na presença física de agentes para prevenir e
dissuadir a pequena criminalidade na Baixa.
A
PSP, aliás como também reiterou, é uma prestigiada corporação
que visa garantir a segurança pública, física e psicológica, dos
cidadãos urbanos. Enquanto Comandante Distrital, é isto mesmo que
esperamos de si, senhor Intendente Rui
Moura.
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