terça-feira, 11 de setembro de 2018

EDITORIAL: SENHORES DO PODER, IMPORTAM-SE DE EMENDAR A MÃO?

A imagem pode conter: 6 pessoas, incluindo António Luis Fernandes Quintans, pessoas a sorrir, pessoas em pé
(Foto de Aguinalda Simões Amaro)




1 – Conforme escrevi, neste último Sábado, num raio de trezentos metros, aconteceram na Baixa cinco eventos que, sendo realizados e apoiados pela Câmara Municipal de Coimbra, pela concorrência entre si, já que os visitantes não têm o dom da ubiquidade, acabaram por se enfraquecerem uns aos outros. Um foi a Feira de Artesanato Urbano que, entre as 10h00 e as 19h00, decorreu entre as Ruas Visconde da Luz, Ferreira Borges e Largo da Portagem.
Outro foi o Festival de Folclore fomentado pelo Rancho das Tricanas de Coimbra, no Terreiro da Erva a partir das 18h00 e a entrar noite dentro.
Outro ainda, foi o XVIII Festival de Folclore, Encontro de Tradições, organizado pelo Rancho Folclórico e Etnográfico Moleirinhas de Casconha, que se realizou na Praça 8 de Maio, por volta das 21h00.
Outro mais, "Concertos no Palácio da Justiça, Serenata de Cordas", organizado pela Orquestra Clássica do Centro, pelas 21h00.
E outro mais ainda, este durante Sábado e Domingo por todo o dia no parque da cidade, foi a iniciativa “(RE)viver, Tempos, Sabores e Tradições”, promovida pela União das Freguesias de Coimbra (constituída pela agregação das juntas da Sé Nova, Almedina, São Bartolomeu e Santa Cruz).
É preciso escrever mais alguma coisa para mostrar que a cidade não pode continuar no mesmo rame-rame e estar entregue a uma calendarização amadora?


2 – Como escrevi em cima, neste Sábado de todas as festas na Baixa, uma das iniciativas realizadas foi o Festival de Folclore levado a efeito pelo Rancho das Tricanas de Coimbra, no Terreiro da Erva, a partir das 18h00 e com as danças e cantares a começarem a partir das 21h00.
Como era perfeitamente lógico, tendo em conta tantos espectáculos a decorrerem à mesma hora e numa proximidade, o velho terreiro, tão conhecido pelos piores motivos, estava a meio-gás. Quem lá esteve, na ordem da meia-centena de pessoas, foram os moradores das redondezas, interior da urbe e arrabaldes, a gente simples das ruas estreitas e dos campos largos – na qual me incluo -, aqueles para quem o velhinho Rancho de Coimbra, fundado em 1938, é mais do que uma simples colectividade. Acima de tudo para os mais velhos, é um marco de existência gravado na pedra, uma narrativa de história associadas às suas vidas e à cidade. Ali, naquele velho salão das tricanas, conjuntamente com outros como o desaparecido Coimbra Clube, há cinquenta anos, num tempo em que havia tempo mas não havia escolhas para entretenimento, dançou-se, engatou-se, namorou-se, fizeram-se casamentos, em suma, para muitos jorrou ali felicidade. Esta velha casa e outras do género infelizmente desaparecidas são a identidade de um povo. Para quem esteve nesta festa, são o sentir das raízes de uma árvore social que se entranha na terra. Por assim dizer, pelo seu documentário inventariado num passado glorioso assente em memórias vivas, deveria merecer por parte da edilidade um respeito alargado.
Ora, o que aconteceu neste Sábado na comemoração dos 80 anos por parte do Rancho das Tricanas de Coimbra, no Terreiro da Erva?
Às tantas ouviu-se uma voz da organização do festival no palco: e agora chamamos o representante do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra… (silêncio total, com os espectadores a entreolhar-se entre si e em todas as direcções para descortinar o invisível dignitário). Mas, naturalmente, se não estava lá não poderia comparecer.
A seguir, novamente a voz humana saída do palco, como se apelasse a fantasmas, repetiu: chamamos ao palco o representante da União de Freguesias de Coimbra… (novamente um silêncio perturbador entre a assistência). Da junta agregada não esteve ninguém.
Segundo um membro da agremiação cultural, “contactámos a senhora vereadora da cultura e mandou dizer que não poderia estar presente por se encontrar de férias mas que enviaria um representante da Casa Municipal da Cultura.
Por parte da União de Freguesias de Coimbra, enquanto apoiante institucional, também não esperávamos uma falta de respeito tão marcada.”
Sem pretender ofender o leitor, bem sei que estou a escrever para o boneco, mas, perante esta falta de consideração grave, era bom que estas duas instituições visadas, em trejeito de contrição, fizessem um formal pedido de desculpas.

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