(Foto de Aguinalda Simões Amaro)
1
– Conforme
escrevi, neste último Sábado, num
raio de trezentos metros, aconteceram
na Baixa cinco eventos que, sendo realizados e apoiados pela Câmara
Municipal de Coimbra, pela concorrência entre si, já
que os visitantes não têm o dom da ubiquidade, acabaram
por se enfraquecerem uns aos outros. Um
foi
a
Feira de Artesanato Urbano que, entre as 10h00 e as 19h00, decorreu
entre as Ruas Visconde da Luz, Ferreira Borges e Largo da Portagem.
Outro
foi
o Festival de Folclore fomentado pelo Rancho das Tricanas de Coimbra,
no Terreiro da Erva a partir das 18h00 e a entrar noite dentro.
Outro
ainda, foi
o
XVIII Festival de Folclore, Encontro de Tradições, organizado pelo
Rancho Folclórico e Etnográfico Moleirinhas de Casconha, que se
realizou
na Praça 8 de Maio, por volta das 21h00.
Outro
mais, "Concertos
no Palácio da Justiça, Serenata de Cordas",
organizado pela Orquestra Clássica do Centro, pelas 21h00.
E
outro mais ainda, este durante Sábado e Domingo por todo o dia no
parque da cidade, foi
a iniciativa
“(RE)viver, Tempos, Sabores e Tradições”, promovida
pela União das Freguesias de Coimbra (constituída pela agregação das juntas da Sé Nova, Almedina, São Bartolomeu e Santa Cruz).
É
preciso escrever mais alguma coisa para mostrar que a
cidade não pode continuar no mesmo rame-rame e estar entregue
a uma calendarização amadora?
2
– Como escrevi em cima, neste Sábado de todas as
festas na Baixa, uma das iniciativas realizadas foi o Festival de
Folclore levado a efeito pelo Rancho das Tricanas de Coimbra, no
Terreiro da Erva, a partir das 18h00 e com as danças e cantares a
começarem a partir das 21h00.
Como
era perfeitamente lógico, tendo em conta tantos espectáculos a
decorrerem à mesma hora e numa proximidade, o velho terreiro, tão
conhecido pelos piores motivos, estava a meio-gás. Quem lá esteve,
na ordem da meia-centena de pessoas, foram os moradores das
redondezas, interior
da urbe e arrabaldes, a
gente simples das ruas estreitas e
dos campos largos
– na qual me incluo
-, aqueles para quem o velhinho Rancho de Coimbra, fundado em 1938, é
mais do que uma simples colectividade. Acima
de tudo para os mais velhos, é
um
marco
de existência gravado
na pedra,
uma narrativa
de história associadas às suas vidas e à cidade. Ali, naquele
velho salão das
tricanas,
conjuntamente com outros como o desaparecido Coimbra Clube, há
cinquenta anos, num
tempo em que havia tempo mas não havia escolhas para
entretenimento,
dançou-se,
engatou-se,
namorou-se, fizeram-se casamentos, em
suma, para muitos jorrou ali felicidade.
Esta velha casa e outras do género infelizmente desaparecidas são
a identidade de um povo. Para
quem esteve nesta festa, são o
sentir das
raízes de uma árvore social que se entranha na terra. Por assim
dizer, pelo seu documentário inventariado num passado glorioso
assente em memórias vivas, deveria merecer por parte da edilidade um
respeito alargado.
Ora,
o que aconteceu neste Sábado na
comemoração dos 80 anos por parte do Rancho das Tricanas de
Coimbra, no Terreiro da Erva?
Às
tantas ouviu-se uma voz da organização do festival no palco: e
agora chamamos o representante do pelouro da Cultura da Câmara
Municipal de Coimbra…
(silêncio total, com os espectadores a entreolhar-se entre si e em
todas as direcções para descortinar o invisível
dignitário).
Mas, naturalmente, se não estava lá não poderia comparecer.
A
seguir, novamente a voz humana
saída do
palco, como se apelasse a fantasmas, repetiu: chamamos
ao
palco o representante da União de Freguesias de Coimbra…
(novamente um silêncio perturbador entre a assistência). Da junta
agregada não esteve ninguém.
Segundo
um membro da agremiação
cultural, “contactámos
a senhora vereadora da cultura e mandou dizer que não poderia estar
presente por se encontrar de férias mas que enviaria um
representante da Casa Municipal da Cultura.
Por
parte da União de Freguesias de Coimbra, enquanto apoiante
institucional, também não esperávamos uma falta de respeito tão
marcada.”
Sem
pretender ofender o leitor, bem sei que estou a escrever para o
boneco, mas, perante esta falta de consideração grave, era bom que
estas duas instituições visadas, em trejeito de contrição,
fizessem um formal pedido de desculpas.
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