(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
REFLEXÃO: A DETERIORAÇÃO DA MÁQUINA FISCAL
Estamos
em período de entrada de novos alunos para as universidades
portuguesas. É um novo ciclo de grande alegria mas também novos e
grandes sacrifícios para as famílias cujo rendimento se vê
dividido por mais uma nova parcela.
Há
dias passou na TVI, canal de televisão privado, uma reportagem sobre
os preços praticados em quartos arrendados em Lisboa e no Porto. O
que indignava nem era o preço absurdo de um beliche por 400 euros. O
que nos insultava fortemente era o facto de a maioria de senhorios,
na maior impunidade, assumir que não passava recibo.
Depois
de um período negro, entre 2011 e 2015, em que a Autoridade
Tributária ganhou o estigma odioso de um Estado dentro de outro
Estado e os seus serviços passarem a ser classificados como uma
máquina infernal de destruição maciça, o pior que se pode
conceber num Estado democrático – quem não se lembra de casos em
que famílias perderam a sua casa de morada por dívidas de 1500
euros? -, eis que passados cerca de quatro anos assistimos a um
escândalo como este que foi visionado na TV. Ou seja, passamos dos oitenta para o oito. De uma eficiência e eficácia impressionantes,
no oposto, agora passou para uma instituição fiscalizadora laxante e
permissiva. A bem da razoabilidade, pela responsabilidade directa das
Finanças na evolução da Economia, não podemos deixar passar em
branco o que está acontecer nas grandes cidades.
Contrariamente
ao que defendem os representantes dos estudantes e outros ligados à
academia, não tem de ser o Estado a construir e a oferecer
alojamento a preços controlados aos alunos. Ao Estado, através do
Governo, cabe por inteiro a obrigação de, com medidas
sancionatórias e políticas de desenvolvimento, regular o mercado e,
com mão firme, assegurar que funciona. Como o Estado é parte
interessada e o maior especulador – lembra-se que a taxa
liberatória de 28 por cento sobre os rendimentos prediais
habitacionais a termo é um escândalo e concorre para a fuga –
logo, deixando passar o ónus do odioso para os operadores, demite-se
da sua função de mediador. O resultado de tudo isto é a destruição
do mercado de arrendamento. Será que os governantes não vêm o
óbvio?
O
PRINCÍPIO DA HISTÓRIA
Na
semana passada abriu o Talho (na) Avenida, mais concretamente no
Edifício Prestige, em frente aos Bombeiros Voluntários, na Avenida
Fernão de Magalhães.
Os
responsáveis por este empreendimento comercial são o Sérgio Cunha
e o Eugénio Taipina, ambos nossos conhecidos e com larga experiência
na arte de trinchar. Um e outro foram, durante largos anos,
funcionários do Talho Central, na Rua da Louça.
Com
uma decoração simples mas muito atractiva, as carnes frescas de
elevada qualidade parecem brilhantes e vivas e a querem saltar para o
nosso prato. Ao mesmo tempo, os enchidos, os transformados de
produção de regiões tradicionais do país, teimam em piscar o olho
a senhoras novas e idosas.
Em
nome da Baixa comercial, se posso escrever assim, desejamos a maior
ventura para o novo estabelecimento que muito veio enriquecer a zona
histórica.
ORÇAMENTO
PARTICIPATIVO
Gostava
de
lembrar que, até ao fim deste Setembro, está decorrer a votação
do Orçamento
Participativo promovido pela União das Freguesias de Coimbra.
Esta
participação é reservada aos fregueses das juntas agregadas da Sé
Nova, Almedina, São Bartolomeu e Santa Cruz. Para além disso a
escolha é pessoal, isto é, o inscrito numa destas autarquias tem de
se deslocar a qualquer uma das sedes – o horário pode consultar
aqui (clique em cima).
Não
precisa dizer, bem sei que você só vai à sua junta de freguesia
uma vez de quatro em quatro anos e a última -tomara eu que fosse –
foi há escassos dez meses. Mas deixe lá, faça lá isso pela
colectividade. Não interessa em quem vai votar, o que importa é
que, como bom cidadão, se inteire dos projectos a concurso e vote
naquele que melhor corresponder às suas expectativas. Não é pedir
muito, pois não?
A
TRADIÇÃO REVIVIDA
No
último Sábado, a comemorar os 80 anos de vida na Baixa de Coimbra,
o Rancho das Tricanas de Coimbra levou a efeito o seu festival anual
no Terreiro da Erva e mesmo ao lado da sua sede, na Rua do Moreno.
Porque
já escrevi sobre o abandono
a que a nobel instituição foi votada pelo Pelouro da Cultura e da
União de Freguesias de Coimbra não irei malhar mais no
desgraçadinho,
até porque, o que aconteceu este ano em, em repetição, não é
nada a que não estejamos habituados. Sobretudo pela parte municipal,
entregue
a pessoas que só conta a dedicação ao partido, é
uma estrutura fechada, pesada e sem sensibilidade para a identidade
cultural do povo. Bem sei que até parece irónico, mas é assim.
Salvo melhor opinião, é uma máquina registadora que se limita a
distribuir anualmente
dinheiro
para calar a revolta dos actores. Entre
os 60 mil euros e os mil euros é só consultar a lista e fazer as
contas. Já o ressarcimento deste investimento público por parte
destes agrupamentos para a cidade é questionável, digo eu. Mas como o
dinheiro é de todos e não é de ninguém, ninguém reclama para não
levar um corte. Haja paz no reino da rebaldaria.
FEIRA
ANTIGA
(Imagem desviada do jornal online Notícias de Coimbra)
No
último fim-de-semana, Sábado e Domingo durante todo o dia,
no parque da cidade, realizou-se
a iniciativa
“(RE)viver, Tempos, Sabores e Tradições”, promovido pela União
das Freguesias de Coimbra (junta agregada constituídas pelas juntas
da Sé Nova, Almedina, São Bartolomeu e Santa Cruz). Tratava-se
de tentar recriar uma feira antiga com profissões
em desaparecimento em actividade.
Retirando
a ideia de, numa espécie de sopa aos pobres, ter realizado um almoço
gratuito para 350 fregueses – que, a meu ver, torna o encontro mais
político do que de
desenvolvimento social para
a
cidade - pelo mérito de se ter abalançado para esta resolução,
está de parabéns a União de Freguesias de Coimbra (UFC).
Mas há um porém, percebemos que foi o primeiro, serve como
experiência e
devemos ser indulgentes,
mas sejamos francos: esteve muito aquém do que se esperava. Poucos
visitantes, escassas barraquinhas de comes e bebes, fraca
performance dos actores intervenientes e
pouca ambição neste projecto.
Repito, por esta primeira edição está perdoada a UFC, mas,
certamente já a planear a segunda, exige-se outro profissionalismo,
outro palco geográfico, outro
arrojo, outra
data, outro envolvimento
de instituições e adesão plena
da Baixa e da Alta. O que quero dizer com isto?
-Começo
pelo
mês de realização: a altura ideal deve ser Julho ou Agosto. No
limite em Junho para fazer coincidir com a feira Medieval, que se já
se faz
no Largo da Sé Velha.
Para
além disso, deve ter a duração de três dias, Sexta, Sábado e
Domingo. E
mais: só deverão ter acesso a desempenho pessoas e entidades que
exerçam no concelho de Coimbra;
-Deve
ser criada uma comissão consultiva e de apoio (para trabalhar)
constituída obrigatoriamente
por
todas as agremiações financiadas anualmente pela Câmara Municipal,
grupos folclóricos, companhias de teatro e outros grupos culturais.
A
todas estas associações, para quem quisesse, deveria ser permitido
ter a sua barraquinha para venda de produtos alimentares.
Devem
fazer parte desta comissão
comerciantes e suas representações associativas que queiram
colaborar; também,
como é óbvio, pela
Associação dos Mercados e respectivos operadores dos Mercado Dom
Pedro V – com
a feira a entrar dentro da popular praça;
-A
realização e custos deve caber por inteiro à UFC -dentro das suas
possibilidades orçamentais – e à Câmara Municipal de Coimbra. A
edilidade não pode continuar a aparecer nos cartazes como apoiante
só porque contribui
com água e electricidade. É pouquíssimo. A autarquia tem de se
envolver directamente em festas de grande monta e
deixar de estar no escondidinho
atrás da cortina cultural;
-O
palco onde se realizou este ano, o Parque da Cidade, não serve para
a iniciativa em apreço. É preciso envolver uma grande parte da
Baixa e uma grande parte da Alta. Para envolver a parte cimeira da
cidade, por exemplo, a Feira Antiga de Coimbra poderia ser no mesmo
fim-de-semana
da Feira Medieval. E
mais: poderia juntar-se na mesma data a Feira das Cebolas e a Feira Cultural de Coimbra, que agrega a Feira do Livro e outras actividades;
-Este
evento na
Baixa deve
ter a sua representação nas
avenidas, ruas largas, becos, largos e vias estreitas. Deve
envolver-se o mercado Dom Pedro V na festa. A
feira Antiga poderia ir desde a Avenida Fernão de Magalhães, Rua da
Sofia e Avenida Sá da Bandeira até à Praça da República.
MAS,
AFINAL, O QUE É ISSO DE FEIRA ANTIGA?
Começo
por dizer que em 2010 fui ao Mercado à Moda Antiga que se realiza em
Oliveira de Azeméis e fiquei apanhadinho,
pedrado com
o
que vi. E o que vi lá? Tão só uma recriação de imensas
profissões em desaparecimento. Vi a performance da
cigana a ler a sina; o vendedor da Banha da Cobra; a exibição de um
espectáculo dos Robertos; o vendedor cigano de peças de pano para
fatos; do
sapateiro; do Barbeiro; o
cozer pão ao vivo; os bons torresmos a dançarem em óleo a ferver
no tacho de cobre e com as labaredas por baixo a crepitarem.
A
partir dali estabeleci uma ideia para muitas outros ofícios que se
poderiam recriar em Coimbra num certame parecido. Desde a costureira; do construtor de
instrumentos musicais; do ceramista; do padeiro em forno de lenha; da
cerzideira; da Franjeira, franjas para xailes; do alfaiate; a
bordadeira; o técnico de rádios antigos; o técnico de máquinas de
escrever antigas; o vitralista; o
calceteiro;
o chapeleiro, isto
tudo a ser trabalhado ao vivo.
Depois,
em desempenho por arte cénica, o cauteleiro; o amola-tesouras; o
azeiteiro; o Pitrolino; o Leiteiro; o vagabundo; o pedinte; o pastor;
o ardina; a vendedeira de peixe (varina); o onzeiro, espécie de
agiota; o albardeiro; o ferrador; o moleiro; a criada de servir; o
limpa-chaminés; o fotógrafo à
la minute;
a prostituta; o moço de fretes; o paquete; o carteiro; o padeiro de
porta-a-porta; o polícia sinaleiro; o vendedor de banha da cobra; o
trapeiro; a vendedeira de galinhas e ovos; o vendedor de castanhas
asadas; o vendedor de gelados; a vendedeira de rendas; o vendedor
cigano de peças de tecido.
Ao
mesmo tempo que se mostram vários jogos tradicionais – não os enumero por a crónica já ir demasiado comprida.
Vale
a pena pensar nisto?
FIM
DA HISTÓRIA
(Foto de Isabel Leão)
Subitamente,
na semana passada, faleceu Concha Nunes dos Santos, de 85 anos.
Esposa
de Leonel da Silva Rocha, durante as décadas de 1970 até finais de
1990, foram ambos comerciantes estabelecidos com malas e carteiras na
Rua Eduardo Coelho com dois estabelecimentos. Um deles no número 50,
no espaço hoje ocupado pelo Tico & Teco.
Segundo
a sua grande amiga Isabel Leão, também comerciante do ramo de
carteiras, marroquinaria e outros artigos de adorno na antiga rua dos
sapateiros, “era uma pessoa fantástica! Estou muito triste pela
partida abrupta da minha estrelinha, que amo tanto! Parecia que
vendia saúde. Excepto aos fins-de-semana, todos os dias estava aqui
comigo, na loja, a fazer-me companhia entre as 11h00 e as 13h00.
Ainda ontem repetiu o costume de muitos anos e esteve a ajudar-me a
abrir umas encomendas que recebi. Estou muito triste pela sua partida
sem avisar e sem despedida!”
Neste
tempo de sofrimento e luto para a família, em nome da Baixa
comercial, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Até
sempre, Dona Concha!
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