quinta-feira, 13 de setembro de 2018

BAIXA: CRÓNICA DA SEMANA PASSADA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)

REFLEXÃO: A DETERIORAÇÃO DA MÁQUINA FISCAL

Estamos em período de entrada de novos alunos para as universidades portuguesas. É um novo ciclo de grande alegria mas também novos e grandes sacrifícios para as famílias cujo rendimento se vê dividido por mais uma nova parcela.
Há dias passou na TVI, canal de televisão privado, uma reportagem sobre os preços praticados em quartos arrendados em Lisboa e no Porto. O que indignava nem era o preço absurdo de um beliche por 400 euros. O que nos insultava fortemente era o facto de a maioria de senhorios, na maior impunidade, assumir que não passava recibo.
Depois de um período negro, entre 2011 e 2015, em que a Autoridade Tributária ganhou o estigma odioso de um Estado dentro de outro Estado e os seus serviços passarem a ser classificados como uma máquina infernal de destruição maciça, o pior que se pode conceber num Estado democrático – quem não se lembra de casos em que famílias perderam a sua casa de morada por dívidas de 1500 euros? -, eis que passados cerca de quatro anos assistimos a um escândalo como este que foi visionado na TV. Ou seja, passamos dos oitenta para o oito. De uma eficiência e eficácia impressionantes, no oposto, agora passou para uma instituição fiscalizadora laxante e permissiva. A bem da razoabilidade, pela responsabilidade directa das Finanças na evolução da Economia, não podemos deixar passar em branco o que está acontecer nas grandes cidades.
Contrariamente ao que defendem os representantes dos estudantes e outros ligados à academia, não tem de ser o Estado a construir e a oferecer alojamento a preços controlados aos alunos. Ao Estado, através do Governo, cabe por inteiro a obrigação de, com medidas sancionatórias e políticas de desenvolvimento, regular o mercado e, com mão firme, assegurar que funciona. Como o Estado é parte interessada e o maior especulador – lembra-se que a taxa liberatória de 28 por cento sobre os rendimentos prediais habitacionais a termo é um escândalo e concorre para a fuga – logo, deixando passar o ónus do odioso para os operadores, demite-se da sua função de mediador. O resultado de tudo isto é a destruição do mercado de arrendamento. Será que os governantes não vêm o óbvio?


O PRINCÍPIO DA HISTÓRIA




Na semana passada abriu o Talho (na) Avenida, mais concretamente no Edifício Prestige, em frente aos Bombeiros Voluntários, na Avenida Fernão de Magalhães.
Os responsáveis por este empreendimento comercial são o Sérgio Cunha e o Eugénio Taipina, ambos nossos conhecidos e com larga experiência na arte de trinchar. Um e outro foram, durante largos anos, funcionários do Talho Central, na Rua da Louça.
Com uma decoração simples mas muito atractiva, as carnes frescas de elevada qualidade parecem brilhantes e vivas e a querem saltar para o nosso prato. Ao mesmo tempo, os enchidos, os transformados de produção de regiões tradicionais do país, teimam em piscar o olho a senhoras novas e idosas.
Em nome da Baixa comercial, se posso escrever assim, desejamos a maior ventura para o novo estabelecimento que muito veio enriquecer a zona histórica.


ORÇAMENTO PARTICIPATIVO


Gostava de lembrar que, até ao fim deste Setembro, está decorrer a votação do Orçamento Participativo promovido pela União das Freguesias de Coimbra. Esta participação é reservada aos fregueses das juntas agregadas da Sé Nova, Almedina, São Bartolomeu e Santa Cruz. Para além disso a escolha é pessoal, isto é, o inscrito numa destas autarquias tem de se deslocar a qualquer uma das sedes – o horário pode consultar aqui (clique em cima).
Não precisa dizer, bem sei que você só vai à sua junta de freguesia uma vez de quatro em quatro anos e a última -tomara eu que fosse – foi há escassos dez meses. Mas deixe lá, faça lá isso pela colectividade. Não interessa em quem vai votar, o que importa é que, como bom cidadão, se inteire dos projectos a concurso e vote naquele que melhor corresponder às suas expectativas. Não é pedir muito, pois não?


A TRADIÇÃO REVIVIDA
[Imagem+2880.jpg]


No último Sábado, a comemorar os 80 anos de vida na Baixa de Coimbra, o Rancho das Tricanas de Coimbra levou a efeito o seu festival anual no Terreiro da Erva e mesmo ao lado da sua sede, na Rua do Moreno.
Porque já escrevi sobre o abandono a que a nobel instituição foi votada pelo Pelouro da Cultura e da União de Freguesias de Coimbra não irei malhar mais no desgraçadinho, até porque, o que aconteceu este ano em, em repetição, não é nada a que não estejamos habituados. Sobretudo pela parte municipal, entregue a pessoas que só conta a dedicação ao partido, é uma estrutura fechada, pesada e sem sensibilidade para a identidade cultural do povo. Bem sei que até parece irónico, mas é assim. Salvo melhor opinião, é uma máquina registadora que se limita a distribuir anualmente dinheiro para calar a revolta dos actores. Entre os 60 mil euros e os mil euros é só consultar a lista e fazer as contas. Já o ressarcimento deste investimento público por parte destes agrupamentos para a cidade é questionável, digo eu. Mas como o dinheiro é de todos e não é de ninguém, ninguém reclama para não levar um corte. Haja paz no reino da rebaldaria.


FEIRA ANTIGA
(Imagem desviada do jornal online Notícias de Coimbra)
No último fim-de-semana, Sábado e Domingo durante todo o dia, no parque da cidade, realizou-se a iniciativa “(RE)viver, Tempos, Sabores e Tradições”, promovido pela União das Freguesias de Coimbra (junta agregada constituídas pelas juntas da Sé Nova, Almedina, São Bartolomeu e Santa Cruz). Tratava-se de tentar recriar uma feira antiga com profissões em desaparecimento em actividade.
Retirando a ideia de, numa espécie de sopa aos pobres, ter realizado um almoço gratuito para 350 fregueses – que, a meu ver, torna o encontro mais político do que de desenvolvimento social para a cidade - pelo mérito de se ter abalançado para esta resolução, está de parabéns a União de Freguesias de Coimbra (UFC). Mas há um porém, percebemos que foi o primeiro, serve como experiência e devemos ser indulgentes, mas sejamos francos: esteve muito aquém do que se esperava. Poucos visitantes, escassas barraquinhas de comes e bebes, fraca performance dos actores intervenientes e pouca ambição neste projecto. Repito, por esta primeira edição está perdoada a UFC, mas, certamente já a planear a segunda, exige-se outro profissionalismo, outro palco geográfico, outro arrojo, outra data, outro envolvimento de instituições e adesão plena da Baixa e da Alta. O que quero dizer com isto?

-Começo pelo mês de realização: a altura ideal deve ser Julho ou Agosto. No limite em Junho para fazer coincidir com a feira Medieval, que se já se faz no Largo da Sé Velha. Para além disso, deve ter a duração de três dias, Sexta, Sábado e Domingo. E mais: só deverão ter acesso a desempenho pessoas e entidades que exerçam no concelho de Coimbra;

-Deve ser criada uma comissão consultiva e de apoio (para trabalhar) constituída obrigatoriamente por todas as agremiações financiadas anualmente pela Câmara Municipal, grupos folclóricos, companhias de teatro e outros grupos culturais. A todas estas associações, para quem quisesse, deveria ser permitido ter a sua barraquinha para venda de produtos alimentares.
Devem fazer parte desta comissão comerciantes e suas representações associativas que queiram colaborar; também, como é óbvio, pela Associação dos Mercados e respectivos operadores dos Mercado Dom Pedro V – com a feira a entrar dentro da popular praça;

-A realização e custos deve caber por inteiro à UFC -dentro das suas possibilidades orçamentais – e à Câmara Municipal de Coimbra. A edilidade não pode continuar a aparecer nos cartazes como apoiante só porque contribui com água e electricidade. É pouquíssimo. A autarquia tem de se envolver directamente em festas de grande monta e deixar de estar no escondidinho atrás da cortina cultural;

-O palco onde se realizou este ano, o Parque da Cidade, não serve para a iniciativa em apreço. É preciso envolver uma grande parte da Baixa e uma grande parte da Alta. Para envolver a parte cimeira da cidade, por exemplo, a Feira Antiga de Coimbra poderia ser no mesmo fim-de-semana da Feira Medieval. E mais: poderia juntar-se na mesma data a Feira das Cebolas e a Feira Cultural de Coimbra, que agrega a Feira do Livro e outras actividades;

-Este evento na Baixa deve ter a sua representação nas avenidas, ruas largas, becos, largos e vias estreitas. Deve envolver-se o mercado Dom Pedro V na festa. A feira Antiga poderia ir desde a Avenida Fernão de Magalhães, Rua da Sofia e Avenida Sá da Bandeira até à Praça da República.

MAS, AFINAL, O QUE É ISSO DE FEIRA ANTIGA?

Começo por dizer que em 2010 fui ao Mercado à Moda Antiga que se realiza em Oliveira de Azeméis e fiquei apanhadinho, pedrado com o que vi. E o que vi lá? Tão só uma recriação de imensas profissões em desaparecimento. Vi a performance da cigana a ler a sina; o vendedor da Banha da Cobra; a exibição de um espectáculo dos Robertos; o vendedor cigano de peças de pano para fatos; do sapateiro; do Barbeiro; o cozer pão ao vivo; os bons torresmos a dançarem em óleo a ferver no tacho de cobre e com as labaredas por baixo a crepitarem.
A partir dali estabeleci uma ideia para muitas outros ofícios que se poderiam recriar em Coimbra num certame parecido. Desde a costureira; do construtor de instrumentos musicais; do ceramista; do padeiro em forno de lenha; da cerzideira; da Franjeira, franjas para xailes; do alfaiate; a bordadeira; o técnico de rádios antigos; o técnico de máquinas de escrever antigas; o vitralista; o calceteiro; o chapeleiro, isto tudo a ser trabalhado ao vivo.
Depois, em desempenho por arte cénica, o cauteleiro; o amola-tesouras; o azeiteiro; o Pitrolino; o Leiteiro; o vagabundo; o pedinte; o pastor; o ardina; a vendedeira de peixe (varina); o onzeiro, espécie de agiota; o albardeiro; o ferrador; o moleiro; a criada de servir; o limpa-chaminés; o fotógrafo à la minute; a prostituta; o moço de fretes; o paquete; o carteiro; o padeiro de porta-a-porta; o polícia sinaleiro; o vendedor de banha da cobra; o trapeiro; a vendedeira de galinhas e ovos; o vendedor de castanhas asadas; o vendedor de gelados; a vendedeira de rendas; o vendedor cigano de peças de tecido.
Ao mesmo tempo que se mostram vários jogos tradicionais – não os enumero por a crónica já ir demasiado comprida.
Vale a pena pensar nisto?


FIM DA HISTÓRIA
A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé
(Foto de Isabel Leão)


Subitamente, na semana passada, faleceu Concha Nunes dos Santos, de 85 anos.
Esposa de Leonel da Silva Rocha, durante as décadas de 1970 até finais de 1990, foram ambos comerciantes estabelecidos com malas e carteiras na Rua Eduardo Coelho com dois estabelecimentos. Um deles no número 50, no espaço hoje ocupado pelo Tico & Teco.
Segundo a sua grande amiga Isabel Leão, também comerciante do ramo de carteiras, marroquinaria e outros artigos de adorno na antiga rua dos sapateiros, “era uma pessoa fantástica! Estou muito triste pela partida abrupta da minha estrelinha, que amo tanto! Parecia que vendia saúde. Excepto aos fins-de-semana, todos os dias estava aqui comigo, na loja, a fazer-me companhia entre as 11h00 e as 13h00. Ainda ontem repetiu o costume de muitos anos e esteve a ajudar-me a abrir umas encomendas que recebi. Estou muito triste pela sua partida sem avisar e sem despedida!

Neste tempo de sofrimento e luto para a família, em nome da Baixa comercial, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Até sempre, Dona Concha!

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