terça-feira, 3 de julho de 2018

BAIXA: CRÓNICA DA SEMANA PASSADA




INÍCIO DA HISTÓRIA


No antigo espaço desaparecido da “Tecla Divertida”, na Rua das Padeiras, abriu a semana passada uma nova loja de artigos eléctricos, desde lâmpadas diversas até fichas e tomadas, e de componentes para telemóveis.
Ao que parece, este novo investidor esteve associado na encerrada “Tecla Divertida”. Após separar a sociedade de artigos de festa, apostando em artigos diferentes, decidiu continuar a arriscar na baixa da cidade.
Com uma diversidade digna de nota, aconselho uma visita a esta nova loja.
Em nome de todos os que aqui labutam, se posso escrever assim, desejamos as maiores felicidades.


AQUI HÁ GATO”


Na terça-feira da semana passada, na presença, elevada pela consideração, de muitos amigos do expositor, no Recordatório Rainha Santa Isabel, ao lado do Portugal dos Pequenitos, foi inaugurada, e estará presente até 30 de Julho, a exposição de fotografia de Mário Afonso.
Sobre o tema “Aqui há gato”, o visitante pode perder-se pelas imagens “falantes”, cheias de sensibilidade, do autor. Cerca de vinte fotografias de gatos, captadas pelo olhar artístico de Mário Afonso, nas mais variadas posições, mostram, ou parecem mostrar, que os felinos também têm sentimentos e, para quem tiver disponibilidade mental para recolher os momentos, transmitem uma linguagem de amor.


UM HOMEM DECIDIU MORRER


Na última quinta-feira, por volta das 13h30, um homem de cerca de 35 anos, depois de ter acessado às torres do Arnado pelo rés-do-chão, entrou no elevador que dá acesso a diversos serviços judiciais ligados ao Ministério da Justiça, abriu uma das portas de emergência do 6.º andar e atirou-se no vazio.
No pouco que consegui saber, era um homem de olhar perdido, vazado, de rosto amargurado, cabelos desgrenhados e barba de muitos dias. Digo eu, extraindo palavras não proferidas, anunciava e cheirava a morte.
Os jornais diários da cidade, Diário de Coimbra e Diário as Beiras, não escreveram uma linha sobre a ocorrência. Porquê? Não era assunto?


SOFIA, MEU ESTUPOR

(Imagem da LUSA)


Em 2013, a 22 de Junho, a Universidade e a Rua da Sofia foram distinguidas pela UNESCO como Património da Humanidade. Seria de supor que por parte da Universidade de Coimbra e a Câmara Municipal, entidades promotoras na classificação, promovessem esta interessantíssima antiga rua dos Colégios e, por arrastamento, servisse de embrião para revitalizar toda a área protegida em redor. Deveria ser assim, não deveria? Pois deveria! Mas os interesses da Universidade estão acima do benefício da cidade e do bem comum. Daí perceber-se que, com grande alarde, numa reportagem patrocinada pela Universidade ao jornal PÚBLICO se escreva: “A estratégia global passa pela internacionalização da Universidade de Coimbra no sentido de afirmar o património e a cultura como ativos essenciais para o desenvolvimento sustentável”.
Pergunto eu, que sou assim para o “parvoide”: e para quando a estratégia global passa pela internacionalização da cidade?
Daí percebermos que “A Universidade de Coimbra viu crescer de forma extraordinária o número de visitantes (de 192 mil turistas em 2012 passou, em 2017, para mais do dobro, 501 mil) e o aumento das receitas com o turismo foi ainda mais impressionante, ajudando a resolver as contas da instituição: de cerca de 300 mil euros em 2012 subiu para os quatro milhões de euros no ano passado” -extraído do Diário de Coimbra, na sua edição especial de aniversário, em 22 de Junho de 2018.
Está tudo dito? Não, não está! Para entreter e abafar clamores de revolta o que fez há dias a Universidade? Teatro! Pois claro! Enquanto a Universidade cresce para o infinito e a Baixa se afunda para a chafurdice a nobel casa do saber dá-nos teatro!
E foi assim que, segundo a LUSA, “O espetáculo "Sofia, Meu Amor!" estreia em Coimbra, num percurso que convida a abrandar a marcha na Rua da Sofia para tornar visíveis "pequenos cacos de vida" de uma zona que por vezes parece "invisível" aos próprios habitantes da cidade.


CARREGAR BATERIAS EM IPANEMA



O nosso mais famoso ardina, e único que resta de uma profissão em desaparecimento na cidade, o Vitor Manuel Lucas, depois de quase três meses no outro lado do Atlântico a carregar a bateria do amor, regressou há poucos dias de terras de Vera Cruz. Um pouco mais magro e macilento, o que se compreende já que é uma longa viagem desde o Brasil até Portugal e, inevitavelmente, leva à queima de muitas calorias, o Lucas, mesmo assim, muito mais rejuvenescido -afinal, digo eu, que pouco percebo do assunto, uma brasileira boa faz milagres-, está pronto para alegrar as nossas ruas com o pitoresco pregão: “Olha o Despertar! É p'ro menino e p'ra menina! Olha o Campeão, umas vezes diz bem, outras vezes não!

TRANSFERÊNCIAS



Encerrou na semana passada a filial da Caixa Geral de Depósitos na Rua Ferreira Borges. Lembra-se que a sede deste banco público dista deste balcão agora encerrado cerca de uma centena de metros, no início da Rua da Sofia e com frente para a Praça 8 de Maio.
Do ponto de vista de racionalidade económica, e de uma gestão criteriosa, aquele prédio bancário agora encerrado não fazia sentido continuar aberto. Podemos adiantar que é mais uma perda para Baixa? E sobretudo pelo fecho de dois Multibancos, um na Rua Ferreira Borges e outro nas traseiras, na Praça do Comércio? Isto podemos, e com toda a razão, mas muito mais, a meu ver, não. Não é um desaparecimento igual a outras terras do interior desertificado. Aqui, em Coimbra, há alternativas. Com tudo o que estou a escrever não quer dizer que concorde na totalidade, é sempre mais uma casa fechada, porém, temos de medir as coisas com objectividade. Nas últimas décadas, todos nós, acostumamo-nos a ter todos os serviços junto à nossa porta. Mas os tempos mudaram e o melhor mesmo é começarmos a encarar a realidade.












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