RUMO AO DESCONHECIDO
No
seu movimento sem condução política orientada, a Baixa, como se
fosse um barco sem leme, continua em busca de um rumo que a guie a
um porto seguro. As lojas comerciais tradicionais mais antigas, sem
que se dê pela sua queda e sem uma palavra de apreço pelo seu
desempenho ao longo de décadas no desenvolvimento da cidade, vão
desaparecendo debaixo dos nossos olhos.
Resultado
de uma turistificação massificada e no mesmo movimento de Lisboa e
Porto, com edifícios a mudarem de proprietários, estão a surgir
vários empreendimentos ligados a alojamento local nos andares
superiores e hotelaria nos pisos térreos. Paulatinamente os prédios pertencentes a bancos estão a ser ocupados com novos
segmentos de mercado. É o caso do desaparecido BES, na Rua Visconde
da Luz, ao lado do Café Santa Cruz, que muito em breve abrirá com
café e pastelaria sobre responsabilidade da reconhecida marca
“Coimbra Doce”.
Mais
à frente, na Rua Ferreira Borges, no espaço onde esteve a Mango,
consta-se, dentro de poucos dias surgirá um novo restaurante
“Itália”, que, por força do desmantelamento das suas actuais
instalações no Parque da cidade, vem para mais perto de nós.
Ainda
mais uns passos à frente, no Largo da Portagem, no edifício que
pertenceu ao Banif, alegadamente, irá surgir no rés-do-chão um
novo conceito ligado a conservas. Embora sem confirmação, será uma
espécie de centro de vendas multimarcas de tudo quanto diga respeito
à indústria conserveira.
Nos
pisos superiores, presumidamente, será para alojamento local.
DEPENDÊNCIAS
SOCIAIS
Com
uma Baixa em profunda transformação económica e social, é um
urgente um estudo público que, com dados estatísticos e
científicos, mostre quem se acolhe, trabalha e reside no Centro Histórico.
Aparentemente,
com uma população sem-abrigo ligada ao álcool e à toxicodependência a
aumentar, com um novo morador muito pobre, cujo único rendimento é
o RSI, Rendimento de Inserção Social, a viver em casas sem grande
conforto e em que muitas delas não têm água canalizada nem electricidade, estamos a gerar um novo fragmento societário
“sem-sem”. No mesmo seguimento da já falada franja
de jovens “nem-nem”, que nem estão empregados nem
a estudar, surgem agora os “sem-sem”, que sem
trabalho, sem rendimento, sem vontade, é uma
fracção completamente dependente do Estado e das instituições de solidariedade social.
Sem
que nada se faça para inverter esta situação, está-se a construir
um gueto.
Por
outro lado, em termos de rentabilidade económica para as suas várias
áreas, a Baixa está completamente subjugada ao turista ocasional,
nacional e estrangeiro. E quando este passante tomar outros rumos e
começar a falhar? Não seria de bom-senso começar a pensar no “day
after”, no dia seguinte?
FIM
DA HISTÓRIA
A
Rua Eduardo Coelho acordou nesta segunda-feira entorpecida, sem ânimo
e com cheiro a depressão. O ar respirável pesado, assim ao jeito de
quando um nosso familiar parte, parecia querer transmitir-se aos
residentes, aos comerciantes e a quem passava. Embora no Verão e
muito próprio de canícula, o tempo, como solidário com as gentes,
dividindo-se entre o nublado e solarengo envergonhado, apresentava-se
padecente e tristonho. Os turistas, de olhos ao alto, apercebendo-se
de que esta tristeza teia uma motivação e algo não estaria bem,
sem perguntar verbalmente, pareciam interrogar: o que aconteceu aqui?
Respondemos
nós: encerraram as Modas Veiga!
Na colorida montra que deu vida a esta histórica rua comercial até Sábado passado, com um modelo masculino impresso num cartaz da Victor Emmanuel a fitar-nos intensamente, adivinhamos que a preocupação mora ali. Com um micro à frente e uma pequena faixa na boca, como a sequestrar a sua voz, a informar “ENCERRADO – mudança de instalações”, mostra dizer que só não denuncia a crise que se vive na Baixa por que não pode.
Desde Janeiro, último, é o 23º fecho de casa comercial nesta zona de antanho.
Na colorida montra que deu vida a esta histórica rua comercial até Sábado passado, com um modelo masculino impresso num cartaz da Victor Emmanuel a fitar-nos intensamente, adivinhamos que a preocupação mora ali. Com um micro à frente e uma pequena faixa na boca, como a sequestrar a sua voz, a informar “ENCERRADO – mudança de instalações”, mostra dizer que só não denuncia a crise que se vive na Baixa por que não pode.
Desde Janeiro, último, é o 23º fecho de casa comercial nesta zona de antanho.
A
maioria, fazendo de conta que nada se passa, pode continuar a
enterrar a cabeça na areia.
PROCURA-SE...
Sem
saber o que lhe aconteceu, se emigrou e para onde foi, continua-se à
procura do Verão. Por aqui, pela Baixa, os bitaites
acerca do destino da popular estação do ano são mais que muitos e ao sabor
de cada intérprete. Pela
chuva que continua a molhar os tolos, uns
dizem que se amantizou com a Primavera e que foi viver para a costa
mediterrânica. Outros, mais virados para a política, afirmam que
estamos perante uma manifestação negativa em que o Inverno se
perpetua para
lixar António Costa. Com a chuva a invadir dois terços de Portugal,
assim, o primeiro-ministro não pode mostrar a sua resiliência nem
que está preparado para fazer face aos incêndios que se manifestam na época de canícula. Em complemento
desta teoria incendiária há quem diga também que, como o Sporting
Clube de Portugal está a arder há muito tempo, é um favor a Marta
Soares, para que este se ocupe completamente da salvação do clube
leonino.
Bem
ao jeito do velho Oeste Americano, já se fala em atribuir uma
choruda recompensa a quem avistar o velho
Verão,
tal
como o reconhecíamos há uns anos.
Sem comentários:
Enviar um comentário