“A
Baixa é um vício! Num aparente desligamento,
num
repente, podemos até dizer cobras e lagartos
da
zona histórica, mas quando chega o momento de
a
deixar a melancolia vem ao de cima e somos invadidos
por
um torpor meditativo.”
Depois
de 44 anos a vender revistas, jornais e tabacos na Rua da Louça –
já encerrado há poucos anos - e 21 no quiosque Espírito Santo,
junto ao Café Santa Cruz, o Jorge Martins, “o bom gigante”,
como o baptizei num texto que escrevi há quatro anos, vai deixar de
vez o negócio na Baixa da cidade, no próximo dia 29.
Quando
lhe pergunto como se sente responde laconicamente: “triste, mas
paciência…!”
Conhecendo
eu bem o Martins sei que não precisa de dizer mais nada para eu
entender a mensagem. Nesta curta frase está tudo. A nossa vida
entre-cruzada com vizinhos, uns que gostamos mais e outros menos, a
nossa história, a saudade que mesmo antes de partir já começa a
corroer as entranhas. Para quem não está cá, nesta parte velha da
cidade, não sabe, não sente o mesmo de um qualquer comerciante ou
residente: a Baixa é um vício! Num aparente desligamento, num
repente, podemos até dizer cobras e lagartos da zona histórica, mas
quando chega o momento de a deixar a melancolia vem ao de cima e
somos invadidos por um torpor meditativo.
O
Jorge vai embora por motivo de doença da sua esposa, a Madalena,
outra trave-mestra que em número igual de estada na Baixa fez parte
de nós, da nossa amizade e sã convivência. Não dá para continuar
sem a ajuda preciosa da “Lena”, enfatiza. São muitas horas entre as
06 e as 20h00 para um homem só!
Para
quem conhece, a Tabacaria Espírito Santo é uma espécie de
instituição nesta parte da cidade onde o tempo corre devagar.
Embora se saiba que há a possibilidade de alguém retomar o negócio,
a verdade é que, mesmo a acontecer, já nada voltará a ser igual. É um candeeiro de luz
que se apaga na entrada da Rua Martins de Carvalho, ou das
Figueirinhas, se preferir.
Hoje,
talvez porque vivemos “o tempo do que vem de novo é que é
bom”, deixamos partir estes pequenos comércios familiares sem
um aceno, sem uma palavra de conforto, sem um agradecimento. Olhamos
todos para eles como se ainda nos devessem qualquer coisa pelo facto
de terem coexistido connosco.
Em
meu nome pessoal, enquanto cliente de jornais, em nome da Baixa, se
posso escrever assim, o nosso muito obrigado. Vida longa, Jorge!
Um
desejo enorme de boa saúde para a “nossa” Lena. Uma
grande salva de palmas para a família Martins por terem estado entre
nós tantas décadas.
ENTRETANTO…
Neste
fim-de-semana encerrou a sapataria Bull’s, na Rua da Louça.
Tranquilizem-se os seus muitos clientes que é apenas um "até já", uma paragem por
uns dias. O que se passa é que Rui Carvalho, o proprietário, vai
mudar para outra loja ao lado, a dois passos, onde funcionou a “Loja
do Euro”.
Sem
confirmação, conseguimos apurar que, devido a um imprevisível atraso nas obras
de remodelação do novo espaço, o Rui foi obrigado a fazer um
pequeno interregno. Conseguimos saber também que esta pausa é breve
na venda de sapatos da marca “Bull’s”
Com
esta nova transferência, desejamos ao senhor Rui Carvalho as maiores
felicidades.
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