terça-feira, 10 de julho de 2018

BAIXA: SO LONG, JORGE






A Baixa é um vício! Num aparente desligamento,
num repente, podemos até dizer cobras e lagartos
da zona histórica, mas quando chega o momento de
a deixar a melancolia vem ao de cima e somos invadidos
por um torpor meditativo.”


Depois de 44 anos a vender revistas, jornais e tabacos na Rua da Louça – já encerrado há poucos anos - e 21 no quiosque Espírito Santo, junto ao Café Santa Cruz, o Jorge Martins, “o bom gigante”, como o baptizei num texto que escrevi há quatro anos, vai deixar de vez o negócio na Baixa da cidade, no próximo dia 29.
Quando lhe pergunto como se sente responde laconicamente: “triste, mas paciência…!
Conhecendo eu bem o Martins sei que não precisa de dizer mais nada para eu entender a mensagem. Nesta curta frase está tudo. A nossa vida entre-cruzada com vizinhos, uns que gostamos mais e outros menos, a nossa história, a saudade que mesmo antes de partir já começa a corroer as entranhas. Para quem não está cá, nesta parte velha da cidade, não sabe, não sente o mesmo de um qualquer comerciante ou residente: a Baixa é um vício! Num aparente desligamento, num repente, podemos até dizer cobras e lagartos da zona histórica, mas quando chega o momento de a deixar a melancolia vem ao de cima e somos invadidos por um torpor meditativo.
O Jorge vai embora por motivo de doença da sua esposa, a Madalena, outra trave-mestra que em número igual de estada na Baixa fez parte de nós, da nossa amizade e sã convivência. Não dá para continuar sem a ajuda preciosa da “Lena”, enfatiza. São muitas horas entre as 06 e as 20h00 para um homem só!
Para quem conhece, a Tabacaria Espírito Santo é uma espécie de instituição nesta parte da cidade onde o tempo corre devagar. Embora se saiba que há a possibilidade de alguém retomar o negócio, a verdade é que, mesmo a acontecer, já nada voltará a ser igual. É um candeeiro de luz que se apaga na entrada da Rua Martins de Carvalho, ou das Figueirinhas, se preferir.
Hoje, talvez porque vivemos “o tempo do que vem de novo é que é bom”, deixamos partir estes pequenos comércios familiares sem um aceno, sem uma palavra de conforto, sem um agradecimento. Olhamos todos para eles como se ainda nos devessem qualquer coisa pelo facto de terem coexistido connosco.
Em meu nome pessoal, enquanto cliente de jornais, em nome da Baixa, se posso escrever assim, o nosso muito obrigado. Vida longa, Jorge!
Um desejo enorme de boa saúde para a “nossa” Lena. Uma grande salva de palmas para a família Martins por terem estado entre nós tantas décadas.



ENTRETANTO…




Neste fim-de-semana encerrou a sapataria Bull’s, na Rua da Louça. Tranquilizem-se os seus muitos clientes que é apenas um "até já", uma paragem por uns dias. O que se passa é que Rui Carvalho, o proprietário, vai mudar para outra loja ao lado, a dois passos, onde funcionou a “Loja do Euro”.
Sem confirmação, conseguimos apurar que, devido a um imprevisível atraso nas obras de remodelação do novo espaço, o Rui foi obrigado a fazer um pequeno interregno. Conseguimos saber também que esta pausa é breve na venda de sapatos da marca “Bull’s
Já lá vão 9 anos quando, pela primeira vez, a marca se instalou na Rua das Padeiras. Depois passou para a Rua da Louça em Julho de 2011.
Com esta nova transferência, desejamos ao senhor Rui Carvalho as maiores felicidades.


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