terça-feira, 5 de maio de 2015

A DALINE CONTINUA VIVA E RECOMENDA-SE





O branco imaculado do rés-do-chão distingue-se na fachada do prédio decrépito no Largo da Maracha e com frente para a Rua da Louça. Em metáfora, é como se, ali, a loja Daline modas fosse a espiritualidade viva de um edifício morto. As montras, cheias de luz e cor, são os raios solares que invadem um domingo de verão em toda a cidade e fazem resplandecer a alma de tantos quantos se aventuram na calçada da vida.
Transpomos a porta. Lá dentro está a Cátia Pimentel a mostrar um vestido da colecção de verão da marca Daline, para 2015, a duas senhoras, provavelmente, mãe e filha. Pela conversa, deduzo, vão ter um casamento proximamente e foram convidadas. Entram na sala de provas com dois modelos para experimentar. Passados minutos a Cátia atira o tradicional: “se puder ajudar em alguma coisa, façam o favor de chamar, como subir ou apertar um bocadinho, sim?”. Do outro lado da cortina vieram duas vozes em coro: “Muito obrigada, menina! Estão óptimos, está tudo bem! Nem sabe a nossa satisfação!”. A sorrir, entregaram os vestidos na caixa, pagaram e fizeram-se ao dia. Agora sim tenho a Cátia só para mim, para podermos conversar. Vamos lá! Começo por perguntar como é que surgiu esta ideia de abrir este estabelecimento com a marca Daline depois de a casa-mãe, a cinquenta metros desta, ter encerrado?
“Como sabe, porque o conhece há décadas, o meu pai, o Pimentel, como funcionário fiel, acompanhou sempre a Daline, no Largo do Poço, desde o seu nascimento, em 1994, no período áureo do comércio da Baixa e até agora, ao fecho da loja. A marca Daline, com fábrica em Leiria e com várias lojas nesta cidade do Liz, na Figueira da foz e em Gaia, é um património adquirido, sobejamente conhecida e com provas dadas, que não se poderia esbanjar de qualquer maneira. Então fizemos um acordo que vai ao encontro dos interesses de ambos. A marca Daline fornece-nos a colecção à consignação e eu, com a orientação e ajuda experiencial do meu pai, comprometo-me a trabalhar para manter a chama viva na cidade. É uma parceria que assenta essencialmente na confiança e, sem dúvida, também no reconhecimento do esforço e seriedade do meu pai. Tenho de lhe confessar, se não fosse assim jamais conseguiria abrir uma loja. Como o senhor tão bem sabe, hoje, manter um estabelecimento é uma iniciativa de alto risco. Quem trabalha nos moldes tradicionais, de comprar no ano anterior para vender no ano seguinte, arrisca a não conseguir pagar. O comércio, com a Lei dos Saldos e promoções, está a ser destruído. Não é possível ganhar dinheiro desta maneira. Já devia ter feito isto há mais tempo mas, a continuar a correr assim, ainda estou a tempo e vejo o futuro com muita esperança.”

3 comentários:

Anónimo disse...

Será que este Sr. Pimentel é a mesma pessoa que trabalhou com António Gomes António?

Unknown disse...

sim é o mesmo Pimentel!

Anónimo disse...


Bom dia!
Para o meu amigo Pimentel (amizade de 30 anos), pessoa de bem e homem bom, um grande abraço: por certo um destes dias nos reencontraremos, numa dessas ruas estreitas...